quinta-feira, 14 de abril de 2005

Trama Universitário

Circo Voador (Lapa - Rio de Janeiro)


CORDEL DO FOGO ENCANTADO


Com o lema “Música – Trabalho – Informação”, entro no Circo Voador, na Lapa, depois de dar um quilo de alimento não perecível, no evento da Trama Universitário, pra ver o show do Cordel do Fogo Encantado.

Não conhecia esse aspecto da Trama. Me informando mais, achei até um projeto legal, mas achei mesmo meio elitista fechar um show de graça no Circo Voador só pra universitários (isso mesmo! De graça pra quem cursa alguma faculdade – qualquer outra pessoa não entrava nem pagando!). Até porque o que se via lá era o Circo (que já leva uma “galerinha zona sul” normalmente – um dos motivos sendo os preços nada populares) abarrotados de universitários nem um pouco preocupados com Música, Trabalho e muito menos Informação... A discotecagem antes do show parecia mais uma grande dança do acasalamento com mais de mil animais.

Bem, o que vale é a intenção...

Vamos ao Cordel? Já tinha ouvido falar bastante dele, mas tinha escutado realmente pouca coisa. O resultado foi bastante além do que eu esperava.

Depois de dois rappers cantando alguma coisa que não dava pra escutar com o som muito baixo (menor do que a DJ de antes...), entra o Cordel do Fogo Encantado. Poucas vezes vi na minha vida um show com tanta integração com luzes. Elas eram um espetáculo à parte, e você sentia realmente que elas faziam parte da música. Como era o som? Pra mim, indefinível. Nada do que eu tenha escutado antes chegava perto. Você sentia influências nordestinas (ou o que se costumou a chamar de nordestinas), mas com um vocal completamente rasgado, um violão/guitarra/baixo (pedais, muuuitos pedais) e TRÊS percursionistas (e todo mundo com uma presença de palco fudida), o que você sentia era uma “porrada poética” indescritível.

Com letras bastante críticas (até quando falavam de saudade ou amor), eles tinham todos ali na palma da mão. Meu destaque particular é para “Morte e Vida Stanlei”, quase declamado (Stanlei foi um ajudante de pedreiro, filho de um Severino, que eles conheceram no Rio de Janeiro).

O público, é claro, agitou mais nos hits do Cordel e nem tanto nas letras mais críticas (o que me faz pensar que os universitários de hoje precisam mais de Música, Trabalho e Informação mesmo...). Uma coisa que quase me fez perder um pouco da graça do show: no bis, uma parte que ele parou de cantar, a música continuou. Seria todo o show playback? Ou só o bis? Ou teria eu me enganado? Bem, fica a dúvida.

Eu ficaria muito triste se tivesse sido, porque quando eu saí de lá, eles me tinham na mão. Presença de palco foda, banda foda, porradaria pura (não é hardcore, certo? Mas três percursionistas sentando o pau não devem nada pra muita banda de death, thrash ou crust por aí, só pra citar alguns...). E as letras, algumas gritadas, outras quase declamadas, são poesia pura (mas da boa, hehe).

Recomendo à beça. Se o Cordel estiver passando na sua cidade, corra pra ver (e se você não estiver num curso “superior”, torça pra que não seja por esse projeto da Trama...).

Na volta um episódio inusitado: eu e uma amiga fomos assaltados na Cinelândia (!), mas a polícia militar viu (!!) e prendeu os pivetes (!!!), nos devolvendo o dinheiro (!!!!). Por causa disso fiquei até um pouco menos chateado de não ter levado a câmera. Mas coisas da vida, né? Fica sem foto dessa vez, na próxima a gente capricha.

por Rodolfo Caravana

Leia também: