por
: Carlos A.
O
Monaural (foto) surgiu em SP e durou nove anos
consecutivos. Após esse tempo, a banda encerrou as atividades e o
vocalista Ayuso mudou de ares e foi morar em Florianópolis-SC,
devido a uma profunda depressão que culminou o mesmo com o
encerramento da banda. Lá ele continuou criando projetos, tocou
bateria em algumas bandas, com músicos locais e resolveu retomar
sua banda de origem, tendo em sua formação : Leandro Ayuso (Voz/
Guitarra), Victor Berreta (Bateria), Claudio Vieira (Baixo) e
Erick William (Guitarra/voz), junto com um punhado de sons novos.
Agora o Monaural continua como um quarteto e voltando a fazer
barulho. Confira entrevista cedida pelo vocalista/guitarrista Leandro
Ayuso.
FMZ_ONLINE: Já deu pra sentir como é a
cena independente de SC?
Leandro:
Sim, deu. Desde que cheguei aqui não parei de ir em shows
undergrounds pela cidade para conhecer melhor seus artistas
locais, suas respectivas casas de shows, etc... e, me deparei com
excelentes bandas, pessoal engajado em fazer arte e festivais...mas a
cena é sempre aquela coisa : umbigos de ouro, sabe? Aquela coisa de
levar o rei na barriga. Ainda existe isso, o tal ego dos artistas,
muitos ainda com o ego aflorado demais, outros que tentam
desvalorizar e criticar as casas de shows que possuem, mas não saem
de lá..., coisas assim, que cresci vendo e vivenciei na cena em São
Paulo e já estou acostumado, porém de saco cheio, rs...
FMZ_ONLINE:
Sentiu algo de diferente em relação a SP?
Leandro:
Sim e não. Não tem como comparar uma metrópole como São Paulo
a uma cidade mais provinciana como Florianópolis, mas as coisas aqui
acontecem de verdade, tem seus lugares, embora numa proporção muito
menor. Afinal, a urbanização, a especulação imobiliária aqui
está em alta, problemas como desemprego, violência, miséria,
poluição já estão vindo com tudo. É preciso cuidar para Floripa
não virar um Rio de Janeiro, se é que já não virou...
FMZ_ONLINE:
Como se deu essa retomada após esse hiato de tempo?
Leandro:
A banda tocou sem parar desde 2003 até 2009, quando fizemos
nossa primeira pausa.
Em
2013, retornamos com um baixista novo e estávamos num processo
similar ao de agora, mas por falta de tempo e de interesse dos
integrantes que me acompanhavam, acabamos fazendo algumas
apresentações sem tempero e o álbum que estávamos preparando
acabou engavetado. Após dois anos aqui na ilha, não me contive e
reabri a gaveta, lá tinha o produto inacabado do que foi feito em
2013, joguei “tudo” no lixo e agora estamos recomeçando do
“zero”, o resgate ao expurgo, foi o primeiro passo para entrosar
essa nova formação e na sequência começarmos a trabalhar num novo
registro de estúdio.
FMZ_ONLINE: E os novos integrantes,
você já os conhecia? Como foi o contato?
Leandro:
Os conheci todos pela internet, num chat de
relacionamentos....rsrs, coloquei o anúncio e foram aparecendo os
interessados, o Claudião, baixista, já tínhamos tocado
juntos num projeto embrionário de Stoner em sua casa, mas não
perdurou muito, o Erick W., tocava numa banda chamada
In.vitro, que conheci pela net também, e o último a
aparecer, foi o Victor Berreta que toca na EndofPipe,
ele apareceu para cobrir a filha da putagem de um baterista que havia
entrado nessa primeira formação e meio que crocodilou contra a
banda, com dois shows marcados pulando fora... e agora estamos num
quarteto conciso, quatro amigos que conversam, tocam e se divertem
durante os ensaios, está sendo muito prazeroso.
FMZ_ONLINE:
Com essa nova formação, vocês já tocaram onde? E as novas
composições? Continua no mesmo padrão ou acha que mudou algo na
estrutura delas?
Leandro:
Bem, tocamos num evento no qual eu mesmo produzi e organizei, o
Red River Festival, e tipo, foi do caralho, com poucos
recursos e muita vontade de quebrar tudo!
As
novas composições, bem, elas ainda estão surgindo nos ensaios,
fizemos uma versão “a lá D-7” do Wipers
para “Sangrar” e “Me drogar até morrer”
retornou ao repertório junto de “Cadeia Particular”. O
padrão mudou, mudou os músicos, agora temos uma massa sonora mais
concisa e equilibrada, todos músicos que fazem parte do projeto já
possuem alguma bagagem e todos já estão próximos dos seus 30 anos
de idade, tirando eu que sou o mais velho da parada com 35, ou seja
agora o foco é achar as devidas referências para dar continuidade e
recomeçar algo completamente novo, sem perder a visceralidade do que
foi feito anteriormente.
FMZ_ONLINE:
Há planos de um novo material pra quando? E o que mudou do início
da banda até aqui, em relação a produção independente? E isso
tudo beneficia ou atrapalha em certo momento?
Leandro:
Sim, começamos ontem a trabalhar na primeira estrutura do que
irá ser nossa primeira faixa feita em grupo. A ideia é fazer um
disco mais coletivo, mais aberto a novas ideias.
Com
relação a produção independente, é certo que mudou, o acesso a
bons equipamentos, as produções hoje estão mais elaboradas e
registros melhores, feito por quem possui alguma tecnologia full
HD e conhecimento para utilizar o mesmo, já dá uma imagem muito
mais precisa e real do que é a banda no palco, ao vivo com bons
equipamentos. Tudo isso, beneficia quem sabe usar tudo isso sem se
esconder atrás disso.
FMZ_ONLINE:
Ainda vale empunhar uma guitarra e levar a cena independente adiante?
Leandro:
Vale, sempre valeu, é a mesma coisa que perguntar para um
skatista das antiga que ainda sai para dar suas bandas de
carrinho...se ainda vale à pena cair de skate nas pistas,
claro que vale! O prazer de fazer aquilo que realmente gostamos e
acreditamos está acima de muita coisa..., acho que se eu parar de
tocar nos próximos dez anos, talvez não haverá os próximos dez
anos para mim, pois acho que me enforco de tédio antes.
foto: divulgação