Mostra
Internacional de Rock Progressivo
17/01
a 01/02/2014
Centro
Cultural Banco do Brasil – CCBB (Centro, Rio de Janeiro/RJ)
QUATERNA
RÉQUIEM – CARL PALMER – TEMPUS FUGIT – DIALETO – VIOLETA DE
OUTONO – CÁLIX – TERRENO BALDIO – PREMIATA FORNERIA MARCONI
Desde
os tempos de Rio Art Rock, clássico evento promovido pelo
selo niteroiense Rock Symphony (verdadeiro patrimônio do Prog
Rock nacional), que o Rio de Janeiro não tinha um festival de
Rock Progressivo. O público do estilo, que por aqui é
enorme, ficou carente. Apesar de novos nomes surgirem e vez ou outra
se apresentarem nos palcos da cidade (sim, tem coisas legais rolando
por aí), faltava algo. Faltava um evento bem estruturado, com
condições de reunir em terras cariocas grandes nomes nacionais e
internacionais...
E,
enfim, no final do ano passado, nós fãs de Prog Rock fomos
pegos de surpresa com o anuncio de um festival reunindo verdadeiras
lendas do estilo no Centro do Rio, com ingressos a R$10! Nem foi
preciso divulgar muito. Em poucos dias a página do evento no
Facebook já contava com um verdadeiro exército de fãs
sedentos por ingressos! Afinal de contas, não é todo dia (não é
mesmo!) que um time absurdo, como o montado para a Mostra
Internacional de Rock Progressivo no CCBB, é escalado
para um festival em pleno verão carioca! Pra falar a verdade, essa
escalação poderia ser considerada um absurdo que qualquer capital
brasileira ou país latino americano, venhamos e convenhamos!
Logo
de cara, Carl Palmer lota a tenda na Praça dos Correios
Já
na primeira semana da Mostra, passei pelo CCBB e dei de
cara com o povo hipnotizado na frente do telão que exibia a
apresentação do baterista Carl Palmer! O ex-Emerson, Lake
& Palmer fazia show com casa lotada (ingressos esgotados no
primeiro dia de vendas), na tenda montada ao lado do CCBB, na
Praça dos Correios. Antes dele, o primeiro dia de festival
havia apresentado o show da maravilhosa Quaterna Réquiem
(esse eu perdi, infelizmente)! Vieram elogiadas apresentações dos
cariocas da Tempus Fugit e dos paulistas da Dialeto (queria
muito ver não só os músicos, com passagens por bandas como Zero,
AkiraS e até
Okotô... mas também
Jorge Pescara e seu
baixo touchstyle)!
E
não havia como ser menos que espetacular
Veio
o sábado, dia 25, e era dia de Violeta de Outono na Mostra
Internacional de Rock Progressivo... Sem conferir show da banda
paulista há alguns anos, este e outros fãs cariocas fizeram fila em
frente à tenda do evento para assistir a uma apresentação incrível
que, só pra se ter uma ideia, começou com o clássico “Dia
Eterno”! Canções do mais recente trabalho, Espectro,
hipnotizam com seus climas viajantes, longos trechos instrumentais e
improvisos de um Violeta de Outono reformado, entrosado e
contando com, o ex-Chave do Sol, Luiz Dinóia na
bateria! Enquanto isso, líder do Violeta e um dos consultores
da Mostra, Fábio Golfetti comanda a turma com a
autoridade de quem é o frontman e único remanescente da
formação original da banda!
Uma
de minhas favoritas, a linda “Declínio de Maio” também
aparece no set redondinho apresentado pela banda! No bis,
as maiores influências da banda aparecem: Pink Floyd surge
com “Arnold Lane”, ainda da fase Syd Barret, e
“Tomorrow Never Knows” dos Beatles emocionam. E pra
encerrar, a praticamente exigida pelo povo e maravilhosa, “Outono”
fecha com chave de ouro uma noite que não quer sair da memória
deste que vos escreve até agora!
Quem
viu, viu...!
No
dia seguinte ao Violeta de Outono, um elogiadíssimo Cálix
fez seu show e deixou este fanzineiro se coçando de tanta vontade de
estar na tenda da Praça dos Correios... Dia 31 de janeiro de
2014. Esta data já é parte da história do Rock carioca,
definitivamente! Nesse dia, numa sexta-feira de muito calor, bares
lotados, banquinhos, violões, sambas e cerveja a preços
exorbitantes no Centro do Rio de Janeiro, uma lenda pisava pela
primeira vez em solo carioca. Isso mesmo! Após quarenta anos de
estrada (você não leu errado, quarenta anos!!!!), os paulistas da
Terreno Baldio fizeram sua primeira apresentação no Rio de
Janeiro!
Com
seu clássico disco de 1976 relançado recentemente pelo citado Rock
Symphony, o Terreno Baldio (foto) fez um show de arrepiar!
Emocionante para quem estava na frente e em cima do palco! A nova (a
música tem cerca de vinte anos...) “O Vôo Sempre Continua”,
“Loucuras de Amor” e “Grite” são momentos de
delírio da plateia, mas é em “Pássaro Azul” que a casa
vem abaixo! Momento mais emocionante da noite que se repete no bis
para, mais uma vez, emocionar a todos, inclusive os integrantes do
Terreno Baldio! Já está na história...
Il
gran finale!
Na
história também está o que aconteceu no dia seguinte ao show do
Terreno Baldio! A lendária banda italiana Premiata
Forneria Marconi seria a atração do último dia da Mostra
Internacional de Rock Progressivo do CCBB. Mas a história
deste show começa alguns dias antes... No primeiro dia de vendas,
ingressos esgotados em menos de uma hora! Isso mesmo que você leu.
Este que vos escreve foi um dos últimos (mais precisamente, o
antepenúltimo) a conseguir ingressos na enorme fila que se formou na
porta do CCBB em pleno feriado de São Sebastião! Valia a
pena pegar um solzinho 'de leve' e se garantir na plateia da
apresentação mais aguardada do evento! Na internet, as
vendas sequer foram abertas (ao menos este é o relato de quem bateu
ponto na frente do computador no feriado...). Prometiam uma cota
extra para o dia do show...
De
fato, uma cota de oitenta ingressos foi posta à venda na manhã do
dia 01/02. E foi devidamente esgotada em questão de minutos (algumas
pessoas até conseguiram comprar na hora, uns por um preço justo,
outros por valores absurdos na mão de cambistas – nunca imaginei
cambistas agindo num festival de Prog Rock no Rio).... Poucas
horas antes da apresentação, ainda com um belo de um sol
castigando, uma fila de respeito já se formava em frente à tenda do
festival, na Praça do Correios (a mesma fila atingiria
proporções olímpicas minutos antes dos portões serem abertos, e
se transformaria em total e completo caos na 'hora do vamo vê').
Enquanto isso, ambulantes faziam a festa e até caipirinha aparecia
pra aliviar o calor do povo na fila!
Este
que vos escreve, com guitarra e tudo (tinha uma apresentação
marcada para o mesmo dia, de madrugada...), conseguiu um lugar que
parecia bom (do tipo: “vai ser entrar e garantir um cantinho
junto ao palco!”)... Que nada. O povo se amontoou na frente do
palco e de lá ninguém arredava o pé... Um breve atraso e o calor
só tornavam a espera mais desconfortável.... Dessa vez, o sinal
sonoro que anunciava os 'cinco minutos' para o início do espetáculo
não tocou. Anunciaram que a banda só entraria quando as câmeras na
plateia fossem desligadas (nada a ver... quem quis filmar, filmou
tudo numa boa)! Povo tenso. Afinal de contas, o PFM, até onde
eu saiba só havia tocado uma vez no Rio de Janeiro, há coisa de
seis ou sete anos...
Enfim,
Premiata Forneria Marconi no palco! Povo em êxtase mesmo
antes de soarem os primeiro acordes! Jogo ganho pra uma banda
redondíssima, que toca na pressão, com um peso incrível sem
precisar apelar pra distorções nem efeitos mirabolantes, tudo
debaixo dos dedos e conduzido por 'um tal de' Franz Di Cioccio!
O batera/vocal (ou vocal/batera), com bandeira do Brasil e tudo deu
um show à parte: tocou batera, cantou, conversou com a galera e
ainda filmou o show do palco com sua câmera! Do primeiro ao último
acorde: Aula!
Uma
aula que durou mais de duas horas! Rock Progressivo com todos
os ingredientes que uma banda do gênero deve ter (muito por
influência do próprio Premiata): Rock anos setenta,
música erudita e, no caso do PFM, escancaradas influências
da música tradicional de seu país! Desde o começo com “Rain
Birth” e a linda “River of Life”, passando por
“Harlequin” e chegando à versão da PFM para
“Romeo & Giullieta”, tudo soa perfeito, encantador,
empolgante e arrasador!
No
bis quem manda é, novamente, o 'batera frontman'
Franz! E, já no final da festa, “E Festa”
transforma a Praça dos Correios sob a tenda do festival em...
isso: festa! E só pra constar, como já foi dito aqui: haja peso! O
som colaborou e quem estava colado no palco sentiu nos tímpanos o
poder de fogo da Premiata Forneria Marconi. Autêntica lenda
do Prog Rock que fechou com chave de ouro um mês de festival
que não vai sair tão cedo da memória dos fãs cariocas de Rock
Progressivo!
Considerações
finais?
Pois
bem: O quê dizer de um evento com uma escalação dessas? E mais: A
partir de agora, o que todo fã carioca de Progressivo já
sabia, ficou claro pra quem duvidava: o Rio tem, sim, público para
eventos do gênero. E não é pequeno! Quem tentou e não conseguiu
ingressos pro PFM que o diga... Aliás, produção: Estão de
parabéns, muito brigado pelo que me proporcionaram nessas semanas!
Só um 'porém': onde se vende cerveja, se disponibiliza banheiros,
senão é covardia com a rapaziada, né?
Aliás...
Seria bacana por fim a um papinho idiota (e elitista) de alguns, que
há muitos anos rola por aí: àquela idiotice de “Rock
Progressivo não é pra qualquer um e blá blá blá...” Essa
Mostra no CCBB provou o contrário! Fãs da Zona Sul,
Zona Norte, Baixada Fluminense, Niterói (presente!), São Gonçalo e
Região Metropolitana! Enfim, todos se juntaram sob a tenda montada
na Praça dos Correios e, ali sim, tivemos um festival de
Rock! Com gritos, suor, vibração, som nas alturas e tudo que
um festival de Rock precisa ter pra ser inesquecível! … E
tudo isso com preços acessíveis, pra quem quiser curtir,
reverenciar e (por que não?) conhecer, descobrir... Resumindo: ao
menos pra este que vos escreve, foi incrível!
Rafael
A.
Mais
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fotos:
Rafael A.