por
Rafa Almeida
O
motivo principal pra existir este cantinho aqui no FMZ é o
mais óbvio possível: a gente gosta de bar, de cerveja e de
tira-gosto! Ah, sim: o fato de boa parte da história deste fanzine,
tanto impresso quanto virtual, ter se desenrolado por entre bares dos
mais diversos tipos e nos mais diferentes lugares, também tem a ver
com a coluna (é, somos bebuns incorrigíveis). Mas tem mais!
Os
botecos, do jeito que o Test Drive gosta, estão
desaparecendo. Ao menos nas regiões centrais, com o passar do tempo,
cada birosca vai dando lugar a farmácias, casas de bolo, lojas de
bijuterias e por aí vai. Quando não são substituídos pelos tais
“barzinhos” (que de botequim tem muito pouco). Mas calma,
eles ainda existem!
Seja
no Rio ou em qualquer outro lugar, o boteco é ponto de encontro,
refúgio, oásis e muito mais. É parte indissociável de nossa
cultura, principalmente musical. E não estou me referindo só ao
samba e demais ritmos populares, não! Sendo assim, se faz necessário
deixar registrado que estes lugares existiram. E que por muito tempo
habitaram cada cantinho de nossas cidades (e fazem parte de nossas
vidas).
É
bem verdade que alguns desses lugares, de tão antigos e
historicamente relevantes, acabam se modernizando e, mesmo mantendo
algumas características como mobiliário ou cardápio (em alguns
casos, até funcionário antigo vira atração) acabam virando ponto
turístico. Porém, ao tal processo acaba implicando em preços altos
e um certo requinte que não interessa ao nosso Test Drive.
Há
de se mencionar que estamos falando de espaços predominantemente
adminitrados e frequentados por homens (numa faixa de idade mais
avançada, por assim dizer) . Em boa parte dos casos, sequer se
encontra endereços virtuais desses lugares. Ainda estão no século
passado. Sim, estamos falando de ambientes muito conservadores,
lugares onde o machismo e diversos formas de preconceitos ainda são
a regra. Não é exclusividade dos botequins, ok. E é uma pena que
isso ainda não tenha mudado. Mas, em sua maioria, esses lugares são
assim.
Antes
de encerrar, é de fundamental importância ressaltar alguns aspectos
que fazem com que esse ou aquele bar se encaixe na ideia do Test
Drive de Buteco. Garçom que enche seu copo não é bem visto por
aqui, não é legal. Muito menos os que fazem isso toda hora (sabemos
que a culpa não é deles). Fazer uso do termo “boteco raiz” é
inaceitável (geralmente serve pra lugares que tentam emular o
conceito de botequim... e passam longe). Qualquer coisa com “gourmet”
também não serve pra gente aqui!
Não
menos importante: Copo americano ganha ponto. Palito é clássico,
mas garfo e faca ajudam em certos procedimentos. Jiló é vida. Ah,
importante! Farofa pronta não rola! O mesmo vale pro alho frito! E
tem que ter pimenta de verdade (molho de pimenta não ofende, até
serve, mas não é pimenta)!
A
tendência é que esses lugares desapareçam. Geralmente são
pequenos negócios de família que passam de uma geração pra outra.
Até que um filho ou herdeiro muda, repensa, refaz ou simplesmente se
desfaz. E apesar de uma certa tosquice
no ar, pouco tato no atendimento e conceitos de higiene não muito
confiáveis, são lugares através dos quais conseguimos lembrar de
épocas, fases e momentos de nossas vidas. Sendo assim, continuaremos
à procura dos botecos que ainda restam por aí!
Confira
por onde o Test Drive de Buteco já passou.
foto:
Extinto Bar AlêDavi, em São Gonçalo/RJ, por Rafa Almeida