Admitindo
que ser chato é, definitivamente, um dom, e que você que acompanha
o FMZ já está mais que acostumado com o mau humor do editor
deste fanzine (no caso, Eu) em épocas de histeria coletiva (finais
de ano, carnaval e blá blá blá...), vamos ao tal texto de
final de ano. Não, nada de listas, melhores, piores, destaques e
apostas para o ano que se descortina bem diante de nossos olhos. Já
tem muito disso por aí. E venhamos e convenhamos.... é só uma
troca de calendário na parede e um gasto a mais (agenda nova..) na
papelaria. Viram? Ser chato é realmente um dom.
Ok,
a humanidade embarcou mesmo nessa coisa de dividir sua existência em
anos, décadas, ciclos e gestões. Logo, melhor resumir este período
que se encerra sob a ótica deste fanzine antes que a paciência (a
minha e a sua, caro leitor) acabe com os imbecis lá fora disparando
fogos, rojões e afins.... o pior é que foi bom (ou algo próximo
disso)... ou produtivo, cada um classifica como quiser...
Seja
por conta das redes sociais, de mais um governo do PT, dos ministros
da Dilma, resumos do ano via Facebook, aumento no preço do cigarro
e da cerveja, ou qualquer outro aspecto (relevante ou não), nunca se
identificou com tanta clareza, em nosso “mundinho underground”,
uma necessidade tão grande de apontar o dedo, desmascarar,
convencer, estar acima ou sair como dono da verdade ou seja lá o que
for. A boa e velha (in)capacidade de distinguir “posicionamento”
de “reflexão e questionamento” (fundamentais, sempre).
A
citada rede social evidenciou aspectos, até certo ponto,
assustadores num meio libertário “por natureza”. Não que um
dicionário (e um livro de história) não fizesse bem a boa parte
dos sensores espalhados por aí... Como disse Humberto Gessinger:
“Muito Zorro, nenhum Sargento Garcia! Francamente...” O
que não apaga o fato de que posturas claramente conservadoras, em
todos os aspectos, ganharam eco em parte do público. E, sim, isso é
assustador.
Uma
pena. Este velho chato aqui aprendeu, justamente com o tal do Punk
Rock/Hardcore, que diferenças podem ser toleradas. E que não se
chega a conclusão alguma gritando ou ameaçando. Se há inimigos,
estes são o Estado (que deveria trabalhar/funcionar pra nós, o
povo, e não o faz); a classe política (que lucra e se mantém
promovendo miséria e ignorância), quem explora e quem discrimina.
Mas enfim, tô velho...
Ódio
e preconceito no “mundinho underground”??? Sempre
estiveram lá. Na mesma roda de pogo, com a mesma camiseta de
banda, do outro lado do balcão do bar... e até na mesma mesa que a
gente. Só que camuflado, oculto, silencioso... De repente, tudo é
exposto, escancarado, devidamente anunciado na sua timeline!
E as justificativas não justificam coisa alguma. Não é caso de
interpretação, e sim de compreensão (a falta que uma boa
gramática faz...).
Mudando
de assunto (ou quase): nossa cena underground Fluminense
(Temos uma cena? Creio que sim...), apesar de apresentar um ou outro
sintoma preocupante - como a escassez de público em alguns eventos
de pequeno porte – aponta para um futuro próximo, digamos,
animador (ou ao menos, que pode resultar em algo positivo). Bandas
gravando, saindo pra tocar em outros Estados e espaços como
Metallica Pub (é o nosso CBGB do lado de cá da poça,
não tem jeito...hehe!) e o agradabilíssimo Subúrbio
Alternativo, em Brás de Pina, resistem e botam no chinelo
espaços de médio porte que, na maioria das vezes, se mostram
inacessíveis para boa parte das bandas e pro bolso do público.
Insistimos:
há uma sensível diferença entre “underground” e
“mercado independente” ou “cena alternativa”...
ou mesmo “show de róqui”! Uma penca de bandas gringas
passando por aqui e festas alternativas/moderninhas pipocando não
quer, necessariamente, dizer que o underground local é forte.
Claro, se o público que lota casas de shows com ingressos a R$80,
R$100... (ou até mais) e/ou “sacode o esqueleto na pista” se
desse ao trabalho de frequentar locais onde a galera do underground
tem, de fato, espaço, muita coisa seria diferente. Não pela
obrigação de contribuir ou manter um circuito de espaços ou
eventos de pequeno porte. Mas pelo simples fato de que se interessam
por novas bandas, novas ideias, enfim.
Não,
não tenho a pretensão de definir o que cada um deve fazer no seu
final de semana, ou onde cada um vai gastar sua grana e curtir sua
folga. Mas tem gente trabalhando (sem ter lucro algum, ou com um
lucro mínimo) pra manter espaços para bandas, poetas e artistas
diversos se apresentarem. Saraus, eventos dos mais variados, gente
lançando livros, demos e por aí vai... Sim, temos uma cena
underground rolando por aqui. E ela é exatamente da forma que
você quiser que ela seja.
Nós
(do verbo “ninguém faz nada sozinho”) aqui do FMZ/Latitude
Zero Prod. temos nosso ideal de cena underground. E embora
estejamos longe dele, entendemos que é preciso estar em atividade,
pensando alternativas ou reformulando velhos projetos. Ficar parado
não pode! A grana acaba indo toda pra cerveja...rsrsrs Em
2014, demos o ponta pé inicial em nosso FMZ Clash Radio,
programa que vai ao ar toda semana via Rádio Baixada Fluminense! Ainda carece de alguns ajustes, mas vamos trabalhando! Teve aniversário do Inércia (foto), Jovem Fica Vivo... Mantivemos
a ideia de uma edição por mês de nosso Rock na Garagem,
realizado no Metallica Pub (insisto:
nosso CBGB!).
Bandas lançaram demos, galera de longe e novas caras
apareceram e nos brindaram com ótimos shows. Até aí, tudo lindo! A
ideia é essa e o espaço é pra isso.
Mas,
apesar da sensação de dever cumprido, fica um certo ressentimento
pelo fato de que nem todos os artistas entenderem o espírito da
coisa. Você (burro, tapado!!!) que tem banda e acredita que o
público deve vir até você, que o otário produzindo um evento
gratuito quer lucrar com seu “talento”; ou mesmo que o
underground nada mais é que um “degrau” na caminhada para
o sucesso... Faça um favor, fique longe de nosso Rock na Garagem.
Você não entendeu absolutamente nada...
Nosso
Sarau Feira Moderna deu um senhor gás e ânimo pra apostar em
outros formatos, outras possibilidades! Poesia, artes plásticas,
música... É tudo arte! E tem sim que misturar tudo! Sempre quisemos
isso com o RG, mas é difícil de abrir a mente de uma parcela
da galera. Ainda assim, duas edições, e o clima que rolou entre os
participantes, foram suficientes pra empolgar a produção aqui! A
terceira edição já está marcada (24/01 no Metallica Pub),
e vem muito mais por aí! Queremos levar nosso Sarau para outras
cidades, outros espaços, pro meio da rua, enfim! Participem!
Interajam! Se conheçam e compartilhem experiências! Vale muito a
pena! O espaço é de todos!
Tá
longo demais isso... Sobre nosso eixo Niterói x São Gonçalo: nomes
como Revoltos, Monster Trio, Válvula de Escape
(e seu Re-Volta Rock!), Identidade Cultural, Leandro
Ribeiro (e seu Encontro Musical), banda Frogslake
e Yeah Yeah Night!, Chaos Fest e quem mais produz no
Metallica Pub e, claro, o povo do Araribóia Rock,
reforçam o sentimento de que tem gente fazendo e querendo fazer mais
por nossa Região. Mas sem depender de ninguém, galera...! Ok,
é obrigação do poder público fazer pelo cenário cultural. Mas se
falamos de um universo de contracultura, temos de construí-lo por
nós mesmos (sem favores, sem politicagem...). Façamos do nosso
jeito, então. Como sempre foi: no braço, na raça. Os mais novos?
Venham! Contestem! Façam! No que pudermos ajudar, estamos à
disposição.
Tem
FMZ impresso vindo aí. Nove anos de Rock na Garagem em
março, sarau, shows, bandas, trocas, intercâmbios, enfim. Vamos nos
ver por aí e tomar umas, se tudo der certo... Agradecimentos mais
que especiais a todos que ao longo do ano participaram e fizeram a
coisa andar, existir e resistir! Carlos Brunno (Sarau
Solidões Coletivas), Nyger (Metallica Pub), DJ
Terror (Subúrbio Alternativo), Adriano (ONG
ComCausa – tem muito por vir com o Jovem Fica Vivo!!!),
Macacos Me Mordam (Independente Rock), todos que
participaram do Rock na Garagem (menos os idiotas), Sarau
Feira Moderna, Rock Noel, artistas, bandas, produtores (os
que respeitam e valorizam o cenário underground, apenas
estes), eventos e espaços nos quais pude tocar com minhas bandas,
novos e velhos amigos que vão aparecendo (e sumindo também) ao
longo do caminho (insisto, é só aparecer, participar e fazer com
que o meio seja exatamente como você imagina), enfim!
Obrigado
por tudo! E não se esqueçam: é só uma troca de calendário, nada
mais (sou chato...)! Até!
Rafael
A.