Essa
galera surgiu como uma grata surpresa, em sua primeira visita ao
Brasil. Passaram mais de um mês viajando e fazendo shows em
território brasileiro. Como eles mesmos dizem, “estamos aqui no
Brasil fazendo barulho em tudo quanto é boteco que cruze nosso
caminho”! Numa noite de sábado, antes de se apresentarem no
Bar do Bigode, na clássica Rua Ceará, deram um 'pulo' no Metallica
Pub, em São Gonçalo! E foi lá que o FMZ conheceu a Green Gay.
Fizeram um belo show e, ao final, saíram distribuindo seu primeiro
CD, Roba Corazones! Pois bem, impossível não querer
saber mais sobre uma banda dessas, certo? Pois aí está! Nesse papo
que trocamos via e-mail com a batera Camilly Boop (na época, ainda na
tour brasileira, na estrada entre uma cidade e outra)
descobrimos mais sobre a história da banda, que se confunde com a
própria história do Punk Rock uruguaio. Ex integrantes de
bandas importantes para a cena de seu país, esse power trio
tem muito a dizer e não faz por menos: arregaça as mangas e coloca
a mão na massa! Bem ao estilo do it yourself, abrindo
mão de muitas coisas por sua banda e a cena de seu país!
Adoraram o Brasil e consideraram a cena daqui um exemplo. Mal sabem
eles mas, ao longo desse papo, descobrimos que eles sim, são
exemplos pra muita gente daqui. Vale a pena conferir:
FMZ_ONLINE:
Queria que vocês começassem falando do que acharam dos shows no
Brasil, da tour, de nosso país, enfim.
Camilly Boop:
Na verdade, pensamos que no Brasil só existia Samba e
Pagode... hehehe! Infelizmente no Uruguai não chega
quase nada do Brasil.... Sabíamos apenas de Ratos de Porão,
Sepultura, Raimundos e 88 Não!....hehehe!
Pensávamos que não havia muito de cena Rock.... mas graças
ao pessoal do 88 Não! pudemos montar a tour.
Sinceramente estamos muito surpresos com a hospitalidade e humildade
que as pessoas têm aqui, todo mundo abre sua casa, dando-lhe a mão
com o que pode ... No Uruguai, para que alguém faça um show, ou tem
que pagar pelo espaço, ou você tem que ter um amigo que organize
tudo... ou passar muita vaselina no rabo... rsrsrs! Sem
dúvidas, posso te dizer que o Brasil tem a cena Punk mais
incrível que já vi ... Vocês devem se sentir orgulhosos da sorte
tem.
FMZ_ONLINE:
Agora sobre o começo da Green Gay: Como vocês se conheceram e como
surgiu a ideia de formar a banda?
Camilly Boop:
Nos conhecemos através das bandas que tínhamos antes da Green
Gay .... todos tocávamos em bandas diferente que acabaram
encerrando atividades. E já havíamos tocado juntos em alguma festa.
Daí surgiu a ideia de nos reunirmos para tocarmos juntos, só com a
intenção de nos divertirmos.
FMZ_ONLINE:
Inevitável não fazer essa: O nome Green Gay ainda causa muita
confusão por aí? Tem gente que não percebe que se trata de uma
piada, uma brincadeira?
Camilly Boop:
Na verdade o nome não tem nada de piada ou brincadeira....a
confusão só surge dentro de um coração cheio de
preconceitos....hahahaha!!!! A ideia do nome surgiu tomando
como base que no Uruguai existem rótulos para classificar os
diversos tipos de Punk Rock ....Usa-se Hardcore
Melodico para definir o som da California, NOFX,
Offspring, etc... Punk Espanhol para o som de
bandas do País Basco, Catalunha ou da Espanha como La Polla
Records, El Último Que Zierre, etc.... Punk 77
para as bandas inglesas como Sex Pistols, The Clash e
Punk Gay o Punk Rock tipo Ramones, Green Day,
The Queers, Attaque 77,
etc... E como nossa música soa Punk Gay., fizemos um jogo de
palavras com Green Day (a banda mais importante do Punk
Gay) e chegamos a Green Gay. Graças a Deus, com o rótulo
Gay, nos livramos de todo público facista e das pessoas com
preconceitos... hahahaha (não nos interessa esse tipo de
pessoas em nossos shows)... Somos Punks e lutamos pela
igualdade de gênero, seja mulher, homem, travesti ou marciano...
Todos somos iguales!!!!
FMZ_ONLINE:
Agora falando de música: é claro que Ramones, e outras bandas
clássicas, são influências para a maioria das bandas de Punk
Rock. Mas eu queria saber das bandas uruguaias! Quais são os
nomes do Punk Rock, ou do Rock de uma forma geral que
influenciaram a Green Gay?
Camilly Boop:
Quando formamos Green Gay, a pouco mais de um ano, a
idéia principal era somente reunir os três integrantes e tocar um
pouco, o que saísse nos ensaios. Já que nós três éramos
integrantes de bandas que, de alguma forma, eram importantes na cena
uruguaia: El Ultimo de Los Ramones, Las Hijas Del Rigor e
Las Barbies The Kitty. O que aconteceu foi que decidimos fazer
uma gravação das canções que havíamos composto. E quando essa
demo com doze canções caiu na web a resposta do
público foi tão grande que quando vimos tínhamos uma tour
de quarenta dias pelo Chile. Depois fomos viajar pelo Uruguai e não
havia forma de parar o motor de nossa van...hahaha! Faz um ano
que estamos viajando pela América do Sul, estivemos três meses na
Argentina, agora faz um mês que estamos aqui no Brasil fazendo
barulho em tudo quanto é boteco que cruze nosso caminho e conhecendo
bandas, que estão nos ajudando por aqui.
FMZ_ONLINE:
E com relação às novas bandas de seu país, quais são os
destaques, ou quem vocês indicam pra quem quiser conhecer mais sobre
o Rock uruguaio?
Camilly Boop:
O Punk Rock uruguaio está preso ao que era a vinte anos
atrás. Infelizmente o músico uruguaio de Punk Rock,
ironicamente, não quer que o Punk uruguaio cresça. Só
aparecem quando vão tocar com suas bandas, o que faz com que a cena
seja fraca. E não tem público. Fazem vinte anos que ouvimos as
mesmas bandas locais no Uruguai. Essas mesmas bandas acabam sendo as
únicas que tocam nos shows, sem abrir oportunidade para que novas
bandas possam aparecer. Acaba acontecendo que, quando uma banda tem
intenção de fazer um trabalho sério, termina migrando para fora do
Uruguai para poder crescer. Foi o que aconteceu com bandas como
Motossierra, Navegando Porca e assim por diante.
FMZ_ONLINE:
Como é o cenário Punk Rock no Uruguai? Lugares para as
bandas se apresentarem, rádios, o público?
Camilly Boop:
É o que havia dito antes sobre o músico de Punk Rock no
Uruguai... Existem muitas rádios comunitárias, muitas rádios
on-line que dão oportunidade para novas bandas... Mas se você
perguntar a um músico se ele conhece e ouve a Rádio
Idependiente, ele diz que não. Então é como é como se não
existe ... São estações de rádio que transmitem sua programação,
e não é que não haja absolutamente ninguém ouvindo. Discordo
totalmente disso. Porque o Punk não é apenas tocar guitarra
e gritar, mas o conjunto de atividades ou fórmulas alternativas para
lutar contra o sistema.
No
Uruguai, por outro lado não há muitos lugares onde você pode fazer
Punk Rock, as pessoas no Uruguai geralmente só se interessam
por dançar Cumbia em casas noturnas (a Cumbia é o
Forró uruguaio...hahaha). E aos clubes não interessam
bandas tocando música que não faz as pessoas dançarem... hahaha!
Para você ter uma idéia, a única banda Punk undergorund,
em vinte e cinco anos de Punk Rock no Uruguai (o Punk
só chegou no uruguai em 1985, pra ver o atraso em que vivemos) a
fazer uma tour nacional sem nenhum tipo de patrocínio ou
apoio à produção, nem político, nem nada foi a El Ultimo de
Los Ramones, banda em que tocava nosso vocal e guitarra antes de
entrar para a Green Gay.
As
bandas no Uruguai são muito “Punks” no que diz respeito
ao penteado e vestimenta. Mas quando o assunto é pôr a mão na
massa e fazer algo de forma independente, sempre acabam dependendo
das esmolas que os bares daqui oferecem. Os Punks daqui não
tem voluntariedade nem gana de fazer shows de maneira independente e
sempre terminam se resumindo a locais que já tem o equipamento, e
com entrada franca. Para os uruguaios, ser Punk é ficar
bebendo em uma esquina e fazer grafitis contra o sistema..hahaha!
Não há noção de trabalho, de sacrifício... e ainda é muito
dividido. Quando se tenta fazer algo aparece alguém pra boicotar,
falando besteiras. Há muito ciúme e inveja, e isso não faz ninguém
crescer. O dia que você entende que a cena só cresce unida, tudo
fica melhor para todos.
Nós
abandonamos nosso trabalho, nosso futuro, pelo Punk Rock, que
é o que realmente interessa. E estamos lutando por isso, para fazer
a cena a crescer. Sempre que fazemos algo pensamos em compartilhar
com os outros para que a coisa se torne mais fácil para todos. Para
que a cena cresça unida, como acontece aqui no Brasil. Que o público
apoia e as pessoas ficam nos shows até o final. No Uruguai, as
pessoas trazem seus amigos e, logo que terminam de tocar, pegam suas
coisas e vão embora. Não se importam com quem vai tocar depois. O
Brasil é um verdadeiro exemplo de sacrifício e luta pelo Punk.
Realmente nos surpreendeu.
FMZ_ONLINE: Vocês lançaram o CD Roba
Corazones e fizeram essa tour pelo Brasil. E o que vem
pela frente? Já há planos de um próximo trabalho, futuras turnês?
Camilly Boop:
O CD Roba Corazones nós gravamos em um final de semana,
sem muita produção. Era pra ser apenas o registro de algumas
cançòes que haviam sido compostas por uns amigos que se reuniram
pra tocar..hahaha! Agora os planossão lançar um segundo CD,
que estamos calculando que saia em agosto. Para esse disco estamos
planejando algo mais sério. Pra nós, o segundo disco será como se
fosse o primeiro da banda.
Quanto
a tour, até meados de julho estamos pelo Brasil. Logo faremos
uma mini-tour de dez shows em colégios públicos no Uruguai.
Em seguida vamos a Argentina, em setembro temos Chile, outubro
Paraguai e em novembro, se tudo der certo queremos volta a pisar em
solo brasileiro e fazer uma tour que vá até Recife. Por
enquanto a prioridade é que o motor da van não pare possamos
continuar a visitar a América Latina. E levar nosso som a novos
lugares, como se fosse um vírus contagiosos...rsrsrs!
FMZ_ONLINE: Bom, é isso. Obrigado pela
atenção, pelo CD que ganhamos e pelo belo show que
assistimos no Metallica Pub! O espaço é de vocês:
Camilly Boop:
Para encerrar, gostaria de agradecer a todas as bandas e pessoas que
nos ajudaram a montar a tour. Principalmente à 88 Não!,
que foi quem nos deu a oportunidade de entrar no circuito under
do Brasil. Esperamos revê-los no Brasil!
por:
Rafael A.
Links:
Saiba
mais sobre a banda na página dos caras no Facebbok.
Confira
a resenha do show da Green Gay no Metallica Pub, em São
Gonçalo/RJ.
Confira
a resenha do CD Roba Corazones.