Já
faz um tempo que nós aqui do FMZ queríamos bater um papo com esse
cara! Em outras épocas, por conta do trabalho da Latitude Zero Prod.
na carreira dele, ficava inviável publicar um papo como esse por
aqui. E olha quão tortos são os caminhos em nosso mundinho under!
Tempos depois de sua saída do casting da Latitude Zero Prod.,
cá estamos trocando uma ideia com Sr.Tuca Marques! Como disse, já
gostaríamos de trocar essa ideia com o cantor e compositor
niteroiense faz tempo! Não pelo fato de sua carreira já ultrapassar
os vinte anos e continuar caminhando muitíssimo bem! Mas pelo fato
de estarmos falando de alguém envolvido com música em diversos
níveis. Seja como responsável pela Rock+ Produções, seja como
designer gráfico, músico da noite, líder de banda ou simplesmente
um cara legal pra se sentar e tomar umas. Vale a pena dar uma sacada
no que Tuca Marques tem a dizer. Com vocês, nosso entrevistado do
mês de março!
FMZ_ONLINE:
Você saiu recentemente numa coletânea do selo Niterói Discos.
Apesar da demora em sair trata-se de um lançamento de alto nível,
com qualidade gráfica, de áudio e tudo o mais. Como acha que um
trabalho como esse reflete na carreira de um artista?
Tuca:
É sempre importante termos a possibilidade de gravar e melhor
ainda se esta gravação for profissional. Foi um grande incentivo
que a Niterói Discos deu para nós músicos que gravamos,
lembrando que a coletânea surgiu de um festival de várias bandas de
vários ritmos e nós saímos na coletânea Rock. Mas ainda é
muito pouco e está longe de ser o ideal. Em um cenário em que a
maior parte das bandas não possuem recursos financeiros para
investir em boas gravações, deveria ter muito mais incentivo
governamental e não só para se gravar mas principalmente para
tocar.
FMZ_ONLINE:
A lista de músicos com os quais você já dividiu o palco é
extensa. Agora, com a banda Trincaz você sente que encontrou os
parceiros ideais pra te acompanharem em sua carreira solo?
Tuca:
Todos eles são excelentes músicos, além de serem grandes
amigos. Cada um possui características próprias, devido as suas
influências, seria impossível dizer quem é melhor ou pior, cada
um se destaca em seus estilos e músicas que mais se identificam.
FMZ_ONLINE:
Já tem um tempo que a galera que acompanha seu trabalho espera pelo
volume dois do Acústico Tuca Marques. Quando sai afinal?
Tuca:
É realmente está demorando a sair. Os planos eram que eu gravasse
no final do ano passado, mas acabei não conseguindo por alguns
motivos, mas continua sendo prioridade, até o final deste semestre o
CD sai. O repertório está praticamente fechado, contará com
mais músicas próprias que o Volume 1.
FMZ_ONLINE:
Ainda sobre o Acústico, nos últimos anos você tem feito bastante
coisas no esquema voz e vilão, como Favela Festival, o XIII Festival
da Canção de Maricá, visita a rádios comunitárias... Essa coisa
de, sendo um artista notadamente com raízes roqueiras, trabalhar
repertório próprio em formato acústico se mostrou uma boa
alternativa?
Tuca:
Repare que nos maiores festivais com as maiores bandas do mundo,
um dos momentos mais emocionantes é na hora do bis, geralmente com
uma balada acústica. Metallica com “Nothing Else
Matters”, ou o Kiss com “Forever” ou ainda
Scorpions com ”Wind of Change”. O grande lance é
pensarmos que a maior parte das composições é feita na forma de
voz e violão e não são todos os lugares (bares, restaurantes...)
que tem recursos para contratar uma banda, este é um ótimo recurso
para continuarmos tocando e mostrando nossos trabalhos. E, além de
tudo isso, eu tenho muita influência de nossa MPB, cresci
também ouvindo Fagner, Milton Nascimento, Lô
Borges, Djavan, acaba sendo natural a presença do violão.
FMZ_ONLINE:
Aliás, você sempre alternou o trabalho como músico da noite, com
sua carreira no meio independente. Como fazer para que uma faceta não
interfira, ou prejudique a outra? Venhamos e convenhamos é uma
situação pouco comum no meio underground. Como lidar com
isso?
Tuca:
É importante se apresentar em todos os lugares possíveis e que
sejam, é óbvio, relacionados ao seu trabalho. Eu sempre intercalei
a noite com o underground e nunca tive maiores problemas. Uma
das grandes diferenças é que na noite se toca muito cover,
o público é um pouco mais resistente às músicas desconhecidas,
isso inclui as minhas, ao contrário do underground aonde o
público já sai de casa preparado para ouvir a sua música e
interagir com ela, geralmente são mais jovens e com a cabeça mais
aberta para
novidades.
FMZ_ONLINE:
Já acompanho sua carreira faz tempo, mas talvez uma parte da galera
que está lendo esta entrevista não. Sendo assim, fale um pouco do
começo, de como você deu seus primeiros passos na música até se
tornar o Tuca Marques que conhecemos!
Tuca:
Tudo começou da mesma forma. “Vou aprender a tocar violão pra
pegar as menininhas”! Tive algumas facilidades, meu pai já era
músico e tínhamos instrumentos em casa (violões, guitarras, entre
outros),sendo sempre incentivado por ele a aprender a tocar, meu tio
fazia seus trabalhos musicais e foi um dos maiores “culpados”
pela minha história. Eu estava aprendendo, naquele “be-a-bá”
inicial, ele não satisfeito fez de tudo para me matricular no
Conservatório Villa-Lobos, consegui passar na prova e cursei
um tempo de teoria musical, canto e violão clássico, foi com se eu
estivesse dando de cara no muro esse tempo todo e o Villa-Lobos
me abriu as portas do conhecimento (poético não?), a partir daí
fui estudando por aí e ouvindo muito.
FMZ_ONLINE:
Você vem de uma família extremamente musical. Imagino que a
cobrança, no que diz respeito a performance e excelência técnica,
no começo de sua carreira tenha sido grande por conta disso... Como
o filho de um sambista acaba tocando Rock?
Tuca:
Tive sim uma cobrança, é natural, eu tenho uma filha e tento
encaminhá-la e ela reclama como eu fazia na minha adolescência. Se
eu tivesse ouvido um pouco mais, teria aproveitado mais esta época
de muito tempo e poucas obrigações, mas faz parte. As pessoas mais
próximas nos cobram porque querem ver o melhor e só cobram porque
sabem que temos condições de melhora. Quanto ao meu pai sambista,
ele tem as maiores relíquias em vinil da história (Led,
Purple, Jimi, The Who, Stones, Floyd,
Jethro, Beatles, e assim vai). O fato é que a falta de
espaço e a necessidade de se apresentar te leva a uns caminhos que
você não pode imaginar, hoje ele arrebenta no cavaco, foi a
oportunidade que ele teve em certo momento de sua vida e que ele
aproveitou e se dedicou se tornando um grande cavaquinista.
FMZ_ONLINE:
Impossível não fazer esta: Como um artista com mais de vinte anos
de carreira vê tantas mudanças acontecendo não só no cenário
musical, mas no mercado de uma forma mais ampla e no próprio público
que consome Rock e música em geral?
Tuca:
As mudanças são importantíssimas! Por um lado não vejo mudança,
as rádios mais importantes continuam tocando os mesmos, quando
cansam de uma determinada música, re-arranjam e a gravam de novo na
voz de um artista novo, mas com aquela postura antiga. De outro eu
vejo a rapidez, o dinamismo com que as coisas acontecem na internet,
se você posta uma música no facebook e sai prá beber uma
água, quando você volta já ta ultrapassada, já foi, tem outros em
evidência naquele momento. Estamos passando por um período de suma
importância para a nossa arte, a música, esta mistura de sons,
ritmos, tendências que nem conseguimos mais classificar e que no
momento parece meio “embolado”, lá na frente, não sei se nós,
mas será mostrado um grande movimento artístico. Eu nunca tive o
“luxo” de vender música, até na época das primeiras demos, já
distribuíamos gratuitamente e as que conseguíamos vender,
investíamos em mais fitas. Hoje até ficou mais barato, é só
disponibilizar na internet. Com relação a esta facilidade, ao
mesmo tempo em que as pessoas podem ver o seu trabalho mais
rapidamente, também pode ver outros trabalhos, hoje qualquer um pode
fazer e gravar um trabalho em casa. Resumindo: a concorrência
continua muito grande, mas tem espaço para todos mostrar os seus
trabalhos.
FMZ_ONLINE:
Existe, não é de hoje, uma preocupação enorme por parte das novas
bandas em se apresentar da maneira 'correta', com o 'visual correto',
a 'postura de palco correta', enfim. Estar sempre adequado à uma
espécie de modelo ou formato, de acordo com a direção para qual o
mercado aponta. Ao menos pra mim, essa preocupação soa exagerada.
Como você vê isso? O artista Tuca Marques tem essa preocupação?
Como lidar com isso sem dar mais importância que a questão
realmente tem e, consequentemente, dedicar mais tempo à música que
no final das contas é o que importa?
Tuca:
Concordo! A música é o mais importante! Toda sociedade tem a
necessidade de se expressar e se expressa por meio de signos, sinais,
é na maneira de se vestir e de agir, o problema é o modismo imposto
pela mídia, que inconscientemente vai te conduzindo, acho que é por
aí, a garotada acaba sendo o alvo principal. Mas a cor preta ainda é
a mais importante para o Rock’n Roll.
FMZ_ONLINE:
Mudando um pouco de assunto: Seu irmão, Bira Marques, é envolvido
com a política. Esse ano ele sai mais uma vez como candidato a
vereador aqui em Niterói. Acaba se tornando impossível,
principalmente em época de eleições, não associar sua imagem à
dele. Isso te preocupa de alguma forma? Pra você, essa aproximação
com a política partidária soa, de alguma forma, perigosa?
Tuca:
Acho que não! O Bira é o meu irmão, e além disso foi o
cara que compôs (“Máscara” – Tapete Voador e
“Realidade Infinita” – Trincaz, são algumas) e
tocou bateria comigo nos meus primeiros dez anos de carreira,
paralelo a isso ele se preparava cursando Ciências Sociais na UFF,
tocamos muito na noite e no cenário underground, ele conhece
bem a nossa causa, acredito que ele fará o que puder para uma
melhora neste cenário, criando mais alternativas para nos
apresentarmos.
FMZ_ONLINE:
Como você vê a participação do Estado no cenário cultural?
Investimentos, editais, leis de incentivo, enfim. Tudo isso pode soar
animador às vezes. Mas, ao mesmo tempo, se tem também a impressão
que é muito difícil fazer com que todos tenham acesso a isso. Com
sua experiência não só na música mas como produtor e figura
atuante no cenário político partidário também, você acredita que
esses mecanismos, de fato, funcionam?
Tuca:
Realmente é muito burocrático, criaram isso tudo e quem
realmente precisa do incentivo quase nunca consegue emplacar um
projeto, ou quando passa não consegue captar recurso e ele caduca no
tempo. O estado deveria incentivar mais o meio independente, falta
prioridade política para a música independente, mas pra que
incentivar os jovens e pensar, a compor?
FMZ_ONLINE:
De volta a sua carreira: Força de Atrito, Destino Ignorado, Geração
Urbana, Trincaz, Duo da Terra (com o guitarrista e violoncelista
Rogério Carvalho), Tapete Voador, seu trabalho solo... enfim: de
tantos projetos pelos quais você já passou qual te marcou mais?
Tuca:
Todos têm muita importância, me influenciam em tudo até hoje.
O Força de Atrito por ser a primeira e a que eu fiquei mais
tempo pesa mais, mas todas foram importantes
FMZ_ONLINE:
Não é difícil perceber que suas influências musicais vem dos anos
1980 e 1970. Mas com relação a bandas novas, o que Tuca Marques tem
ouvido?
Tuca:
Não tão novas, mas ouço o Rappa, e um monte de CDs demos
de bandas independentes que chegam: Xandi McLeite, Carlos
Spihler, Arrota 26, Levante entre muitas outras.
Ouço muito MPB também, Lenine, Zeca Baleiro e
Paulinho Moska.
FMZ_ONLINE:
E o que não sai de seu play list por nada?
Tuca:
No momento, clássicos do Rock’n Roll.
FMZ_ONLINE:
É isso Tuca! Valeu pelo papo. Considerações finais?
Tuca:
Galera, espero que tenham gostado, e logo sairá o novo acústico e o
elétrico. Um grande abraço Rafael, a galera do Feira
Moderna e você que acabou de ler. Vlw!!!!
por:
Rafael A.
Saiba
mais sobre a carreira e ouça o som de Tuca Marques clicando
no link.
Tuca Marques no Favela Festival 2010:
Tuca Marques no Niterói Usina Musical:
Tuca Marques no Projeto Praia do Rock: