por:
Rafa Almeida
Há
tempos sem atualizar isso daqui, né? Pois bem, entre idas e vindas
deste fanzine na web, uma das questões que mais atormenta
este que vos escreve é: como fazer com que o FMZ ainda soe
relevante? Longe de uma solução pra nossa versão online,
achar um formato pra internet
que minha incompetência tecnológica consiga dar conta ainda é um
dilema e tanto.
Sempre
atrasado com relação à novas mídias e tecnologias, meu contato
com o mundo dos podcasts se deu não tem muito tempo. E foi
nesse mundinho maluco de apps e plataformas cheio de coisas
bacanas que (muitas vezes) remetem a um tipo de rádio que há muito
não se faz que dei de cara com um dos responsáveis por minha mente
musicalmente perturbada: o RoncaRonca!
Isso
mesmo! O “programinha” de Maurício Valladares (foto) ainda
resiste! E o termo correto é esse mesmo: resistir. Conheci o
RoncaRonca na virada da década de noventa para os anos dois
mil (possivelmente um pouco antes disso). Na época, apesar de
modismos pra tudo quanto era lado (inclusive no mainstream do
Rock), ainda havia alguma chance de encontrar música
alternativa no rádio. E foi na finada Imprensa FM que
descobri, entre outros, programas como EP Vanguarda e
RoncaRonca.
O
primeiro com uma cara mais de “underground carioca”. Rock
Alternativo, Hardcore,
nessa onda. Aliás, o especial que virou
demo ao vivo da banda carioca Formigas Desdentadas, numa das edições do EP Vanguarda, ainda consta nos
arquivos deste que vos escreve. Devidamente gravado em fita k7!
Já a atração comandada pelo DJ e fotógrafo Maurício
Valladares era (e ainda é!) um verdadeiro caos! Tinha (e tem!)
de tudo! Rock Clássico, Jazz, Reggae, Soul,
experimentalismos e toda sorte de sons!
Desses
tempos, ficaram alguns bons registros na minha coleção de k7's
(a parte da qual não consegui me desfazer): um ainda desconhecido
Rogério Skylab,
os incríveis Black Alien &
Speed e
Paralamas
tocando ao vivo nos estúdios da rádio e o Dado,
da Legião,
mostrando raridades da
banda entre outros momentos bacanas. Tudo gravado ali, na hora e com
o ouvido grudado num duplo
deck da Gradiente. Era
esperar o programa entrar no ar com o dedo no rec
e torcer pra rolar intervalo na hora de trocar o lado da fita!
Ouvi
muita coisa pela primeira vez no RoncaRonca:
Afrika Bambaataa,
os citados Black Alien &
Speed (ainda juntos), o
Surf Rock da Man Or Astro
Man, a carioca Bia
Grabois e mais um monte de
gente boa de todas as épocas e vertentes possíveis e imagináveis!
A salada musical do mais alto nível oferecida por Maurício
Valladares foi uma das
responsáveis por este fanzineiro (em tese, quase aposentado) ter se
livrado de boa parte dos preconceitos musicais que ainda carregava
até a virada do século.
Por
muito tempo reticente quando o assunto era música brasileira, não
resisti a Bezerra
e Paulinho da Viola
surgindo (quase que) estrategicamente entre Hendrix
e Led Zeppelin,
ou entre um Peter Tosh
e algum clássico Progressivo!
Afinal, era tudo música! E ter acesso a tudo aquilo pelo dial
só tornou a coisa mais marcante, dada minha paixão por rádio!
O
RoncaRonca
surgiu na clássica rádio niteroiense
Fluminense FM,
teve outros nomes e rolou em outras rádios até chegar na Imprensa
FM.
Passou rapidamente pela Rádio
Cidade (se bem me lembro) e
se mudou pra Oi FM
antes de desaparecer do dial
carioca. Até onde entendi a Oi
FM continua ativa em outras
praças, com o “programinha” de Maurício
Valladares no ar.
A
saber: A Imprensa FM
era uma rádio antiga, do tipo que alugava horários. Na programação
rolava desde o programa de Hip
Hop da Cufa
(a
Central Única das
Favelas)
até atrações dedicadas a pontos de Macumba e tudo o mais que se
possa imaginar sendo transmitido via rádio! A Imprensa
saiu do ar no começo dos anos dois mil.
De
volta ao “Ronquinha”.
Descobrir algo tão relevante pra minha formação musical em meio a
apps,
plataformas, podcasts
e modernidades afins é motivo de grande alegria! Como insisto aqui
desde os últimos artigos e notas, em tempos sombrios, quando arte e
cultura se transformam em inimigos, toda forma de resistência é
válida!
E
de alguma forma o dilema de nosso FMZ
posto no primeiro parágrafo se desfaz quando percebemos que a
relevância se dá, muitas vezes, pela longevidade. No caso do
RoncaRonca,
há muito mais que apenas os anos de existência. É a força e a magia
do rádio transportadas para a web.
E, independente da plataforma usada para levar o programa até o
público, o encantamento de ouvir a salada musical de Maurício
Valladares grudado nos
falantes do meu antigo duplo
deck se deu novamente nos
fones do celular. Vida longa ao RoncaRonca
e a todas as formas de (re)existência!
foto:
O Globo