quarta-feira, 14 de março de 2012

Entrevista: Tuca Marqeus



Já faz um tempo que nós aqui do FMZ queríamos bater um papo com esse cara! Em outras épocas, por conta do trabalho da Latitude Zero Prod. na carreira dele, ficava inviável publicar um papo como esse por aqui. E olha quão tortos são os caminhos em nosso mundinho under! Tempos depois de sua saída do casting da Latitude Zero Prod., cá estamos trocando uma ideia com Sr.Tuca Marques! Como disse, já gostaríamos de trocar essa ideia com o cantor e compositor niteroiense faz tempo! Não pelo fato de sua carreira já ultrapassar os vinte anos e continuar caminhando muitíssimo bem! Mas pelo fato de estarmos falando de alguém envolvido com música em diversos níveis. Seja como responsável pela Rock+ Produções, seja como designer gráfico, músico da noite, líder de banda ou simplesmente um cara legal pra se sentar e tomar umas. Vale a pena dar uma sacada no que Tuca Marques tem a dizer. Com vocês, nosso entrevistado do mês de março!


FMZ_ONLINE: Você saiu recentemente numa coletânea do selo Niterói Discos. Apesar da demora em sair trata-se de um lançamento de alto nível, com qualidade gráfica, de áudio e tudo o mais. Como acha que um trabalho como esse reflete na carreira de um artista?

Tuca: É sempre importante termos a possibilidade de gravar e melhor ainda se esta gravação for profissional. Foi um grande incentivo que a Niterói Discos deu para nós músicos que gravamos, lembrando que a coletânea surgiu de um festival de várias bandas de vários ritmos e nós saímos na coletânea Rock. Mas ainda é muito pouco e está longe de ser o ideal. Em um cenário em que a maior parte das bandas não possuem recursos financeiros para investir em boas gravações, deveria ter muito mais incentivo governamental e não só para se gravar mas principalmente para tocar.




FMZ_ONLINE: A lista de músicos com os quais você já dividiu o palco é extensa. Agora, com a banda Trincaz você sente que encontrou os parceiros ideais pra te acompanharem em sua carreira solo?

Tuca: Todos eles são excelentes músicos, além de serem grandes amigos. Cada um possui características próprias, devido as suas influências, seria impossível dizer quem é melhor ou pior, cada um se destaca em seus estilos e músicas que mais se identificam.


FMZ_ONLINE: Já tem um tempo que a galera que acompanha seu trabalho espera pelo volume dois do Acústico Tuca Marques. Quando sai afinal?

Tuca: É realmente está demorando a sair. Os planos eram que eu gravasse no final do ano passado, mas acabei não conseguindo por alguns motivos, mas continua sendo prioridade, até o final deste semestre o CD sai. O repertório está praticamente fechado, contará com mais músicas próprias que o Volume 1.


FMZ_ONLINE: Ainda sobre o Acústico, nos últimos anos você tem feito bastante coisas no esquema voz e vilão, como Favela Festival, o XIII Festival da Canção de Maricá, visita a rádios comunitárias... Essa coisa de, sendo um artista notadamente com raízes roqueiras, trabalhar repertório próprio em formato acústico se mostrou uma boa alternativa?

Tuca: Repare que nos maiores festivais com as maiores bandas do mundo, um dos momentos mais emocionantes é na hora do bis, geralmente com uma balada acústica. Metallica com “Nothing Else Matters”, ou o Kiss com “Forever” ou ainda Scorpions com ”Wind of Change”. O grande lance é pensarmos que a maior parte das composições é feita na forma de voz e violão e não são todos os lugares (bares, restaurantes...) que tem recursos para contratar uma banda, este é um ótimo recurso para continuarmos tocando e mostrando nossos trabalhos. E, além de tudo isso, eu tenho muita influência de nossa MPB, cresci também ouvindo Fagner, Milton Nascimento, Lô Borges, Djavan, acaba sendo natural a presença do violão.


FMZ_ONLINE: Aliás, você sempre alternou o trabalho como músico da noite, com sua carreira no meio independente. Como fazer para que uma faceta não interfira, ou prejudique a outra? Venhamos e convenhamos é uma situação pouco comum no meio underground. Como lidar com isso?

Tuca: É importante se apresentar em todos os lugares possíveis e que sejam, é óbvio, relacionados ao seu trabalho. Eu sempre intercalei a noite com o underground e nunca tive maiores problemas. Uma das grandes diferenças é que na noite se toca muito cover, o público é um pouco mais resistente às músicas desconhecidas, isso inclui as minhas, ao contrário do underground aonde o público já sai de casa preparado para ouvir a sua música e interagir com ela, geralmente são mais jovens e com a cabeça mais aberta para
novidades.


FMZ_ONLINE: Já acompanho sua carreira faz tempo, mas talvez uma parte da galera que está lendo esta entrevista não. Sendo assim, fale um pouco do começo, de como você deu seus primeiros passos na música até se tornar o Tuca Marques que conhecemos!

Tuca: Tudo começou da mesma forma. “Vou aprender a tocar violão pra pegar as menininhas”! Tive algumas facilidades, meu pai já era músico e tínhamos instrumentos em casa (violões, guitarras, entre outros),sendo sempre incentivado por ele a aprender a tocar, meu tio fazia seus trabalhos musicais e foi um dos maiores “culpados” pela minha história. Eu estava aprendendo, naquele “be-a-bá” inicial, ele não satisfeito fez de tudo para me matricular no Conservatório Villa-Lobos, consegui passar na prova e cursei um tempo de teoria musical, canto e violão clássico, foi com se eu estivesse dando de cara no muro esse tempo todo e o Villa-Lobos me abriu as portas do conhecimento (poético não?), a partir daí fui estudando por aí e ouvindo muito.

FMZ_ONLINE: Você vem de uma família extremamente musical. Imagino que a cobrança, no que diz respeito a performance e excelência técnica, no começo de sua carreira tenha sido grande por conta disso... Como o filho de um sambista acaba tocando Rock?

Tuca: Tive sim uma cobrança, é natural, eu tenho uma filha e tento encaminhá-la e ela reclama como eu fazia na minha adolescência. Se eu tivesse ouvido um pouco mais, teria aproveitado mais esta época de muito tempo e poucas obrigações, mas faz parte. As pessoas mais próximas nos cobram porque querem ver o melhor e só cobram porque sabem que temos condições de melhora. Quanto ao meu pai sambista, ele tem as maiores relíquias em vinil da história (Led, Purple, Jimi, The Who, Stones, Floyd, Jethro, Beatles, e assim vai). O fato é que a falta de espaço e a necessidade de se apresentar te leva a uns caminhos que você não pode imaginar, hoje ele arrebenta no cavaco, foi a oportunidade que ele teve em certo momento de sua vida e que ele aproveitou e se dedicou se tornando um grande cavaquinista.


FMZ_ONLINE: Impossível não fazer esta: Como um artista com mais de vinte anos de carreira vê tantas mudanças acontecendo não só no cenário musical, mas no mercado de uma forma mais ampla e no próprio público que consome Rock e música em geral?

Tuca: As mudanças são importantíssimas! Por um lado não vejo mudança, as rádios mais importantes continuam tocando os mesmos, quando cansam de uma determinada música, re-arranjam e a gravam de novo na voz de um artista novo, mas com aquela postura antiga. De outro eu vejo a rapidez, o dinamismo com que as coisas acontecem na internet, se você posta uma música no facebook e sai prá beber uma água, quando você volta já ta ultrapassada, já foi, tem outros em evidência naquele momento. Estamos passando por um período de suma importância para a nossa arte, a música, esta mistura de sons, ritmos, tendências que nem conseguimos mais classificar e que no momento parece meio “embolado”, lá na frente, não sei se nós, mas será mostrado um grande movimento artístico. Eu nunca tive o “luxo” de vender música, até na época das primeiras demos, já distribuíamos gratuitamente e as que conseguíamos vender, investíamos em mais fitas. Hoje até ficou mais barato, é só disponibilizar na internet. Com relação a esta facilidade, ao mesmo tempo em que as pessoas podem ver o seu trabalho mais rapidamente, também pode ver outros trabalhos, hoje qualquer um pode fazer e gravar um trabalho em casa. Resumindo: a concorrência continua muito grande, mas tem espaço para todos mostrar os seus trabalhos.


FMZ_ONLINE: Existe, não é de hoje, uma preocupação enorme por parte das novas bandas em se apresentar da maneira 'correta', com o 'visual correto', a 'postura de palco correta', enfim. Estar sempre adequado à uma espécie de modelo ou formato, de acordo com a direção para qual o mercado aponta. Ao menos pra mim, essa preocupação soa exagerada. Como você vê isso? O artista Tuca Marques tem essa preocupação? Como lidar com isso sem dar mais importância que a questão realmente tem e, consequentemente, dedicar mais tempo à música que no final das contas é o que importa?

Tuca: Concordo! A música é o mais importante! Toda sociedade tem a necessidade de se expressar e se expressa por meio de signos, sinais, é na maneira de se vestir e de agir, o problema é o modismo imposto pela mídia, que inconscientemente vai te conduzindo, acho que é por aí, a garotada acaba sendo o alvo principal. Mas a cor preta ainda é a mais importante para o Rock’n Roll.


FMZ_ONLINE: Mudando um pouco de assunto: Seu irmão, Bira Marques, é envolvido com a política. Esse ano ele sai mais uma vez como candidato a vereador aqui em Niterói. Acaba se tornando impossível, principalmente em época de eleições, não associar sua imagem à dele. Isso te preocupa de alguma forma? Pra você, essa aproximação com a política partidária soa, de alguma forma, perigosa?

Tuca: Acho que não! O Bira é o meu irmão, e além disso foi o cara que compôs (“Máscara” – Tapete Voador e “Realidade Infinita”Trincaz, são algumas) e tocou bateria comigo nos meus primeiros dez anos de carreira, paralelo a isso ele se preparava cursando Ciências Sociais na UFF, tocamos muito na noite e no cenário underground, ele conhece bem a nossa causa, acredito que ele fará o que puder para uma melhora neste cenário, criando mais alternativas para nos apresentarmos.


FMZ_ONLINE: Como você vê a participação do Estado no cenário cultural? Investimentos, editais, leis de incentivo, enfim. Tudo isso pode soar animador às vezes. Mas, ao mesmo tempo, se tem também a impressão que é muito difícil fazer com que todos tenham acesso a isso. Com sua experiência não só na música mas como produtor e figura atuante no cenário político partidário também, você acredita que esses mecanismos, de fato, funcionam?

Tuca: Realmente é muito burocrático, criaram isso tudo e quem realmente precisa do incentivo quase nunca consegue emplacar um projeto, ou quando passa não consegue captar recurso e ele caduca no tempo. O estado deveria incentivar mais o meio independente, falta prioridade política para a música independente, mas pra que incentivar os jovens e pensar, a compor?


FMZ_ONLINE: De volta a sua carreira: Força de Atrito, Destino Ignorado, Geração Urbana, Trincaz, Duo da Terra (com o guitarrista e violoncelista Rogério Carvalho), Tapete Voador, seu trabalho solo... enfim: de tantos projetos pelos quais você já passou qual te marcou mais?

Tuca: Todos têm muita importância, me influenciam em tudo até hoje. O Força de Atrito por ser a primeira e a que eu fiquei mais tempo pesa mais, mas todas foram importantes


FMZ_ONLINE: Não é difícil perceber que suas influências musicais vem dos anos 1980 e 1970. Mas com relação a bandas novas, o que Tuca Marques tem ouvido?

Tuca: Não tão novas, mas ouço o Rappa, e um monte de CDs demos de bandas independentes que chegam: Xandi McLeite, Carlos Spihler, Arrota 26, Levante entre muitas outras. Ouço muito MPB também, Lenine, Zeca Baleiro e Paulinho Moska.


FMZ_ONLINE: E o que não sai de seu play list por nada?

Tuca: No momento, clássicos do Rock’n Roll.


FMZ_ONLINE: É isso Tuca! Valeu pelo papo. Considerações finais?

Tuca: Galera, espero que tenham gostado, e logo sairá o novo acústico e o elétrico. Um grande abraço Rafael, a galera do Feira Moderna e você que acabou de ler. Vlw!!!!


por: Rafael A.


Saiba mais sobre a carreira e ouça o som de Tuca Marques clicando no link.


Tuca Marques no Favela Festival 2010:

Tuca Marques no Niterói Usina Musical:

Tuca Marques no Projeto Praia do Rock
    

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