Seguimos
em nossa parceria com o blog xContrapondox, do camarada Gilson, Fox!
E dando continuidade às entrevistas publicadas no blog e
reproduzidas aqui, aí vai o papo que Fox bateu com Pecê, vocalista
da banda capixaba VOX!
A
bola da vez agora no bate papo aqui é a banda VOX, da Grande Vitória
(ES), que está na ativa desde 2005. Com proposta de compor músicas
que expressem a influência musical dos integrantes, a banda vem
unindo o Hardcore a letras positivas e
introspectivas. Confira a conversa que tive com os rapazes, em
especial com Pecê, vocalista da banda e em particular um amigo de
longas datas.
xContrapondox:
Seguindo nosso bate papo, de cara; se não estou enganado já
percebemos que a banda VOX segue a linha PMA (Positive Mental
Attitude) da cena Hardcore/Punk correto? Como se deu essa posição
e quais são os envolvimentos anteriores dos membros da banda?
Pecê:
Na verdade foi algo não intencional a princípio. Quando começamos
a banda tínhamos em mente sempre falar de algo positivo em nossas
letras, dai fazíamos letras relatando a importância da amizade, do
respeito, e união. Claro, da unidade na diversidade e também coisas
positivas a respeito da vida. Com isso deixamos de rotular a banda de
Hardcore Old School quando em uma de nossas primeiras
camisetas fizemos a logo com a frase "Positive Hardcore"
. Dai em diante passamos a usar isso meio que definindo não mais a
que escola do Hardcore pertencemos, mas a temática de nossas
letras. Bem, a questão é que alguns anos depois conhecemos o PMA
através dos trabalhos do Toby Morse e H2O, passamos a
conhecer o movimento mais a fundo e vimos que na verdade tudo começou
com o Bad Brains e por ai vai... Dai resolvemos unir o útil
ao agradável, se já vínhamos falando desse tema mesmo sem conhecer
o movimento, agora conhecendo ficou ainda melhor e achamos que era
uma boa causa para nos engajarmos.
xContrapondox:
Houve uma época que esse eixo RJ/ES/SP virou quase um "circulo
vicioso" para as bandas brasileiras e gringas que vinham até o
Brasil correto? E se não me engano, a década de noventa em
específico. Lembro muito bem porque foi nessa época que me envolvi
com o SxE e fiquei muito fascinado. Fale um pouco como foi
nessa época a sua relação com a cena, as bandas anteriores ao VOX,
e seu envolvimento com a OFC (Old Friends Crew).
Pecê:
Essa época eu considero que foi a melhor, em especial o período de
1996 a 2000. Foi um tempo em que muitas boas bandas surgiram e eu fiz
parte disso aqui no Espirito Santo , em 94 formamos uma banda com
ideologia cristã e Punk, por mais contraditório que isso
soe, o nome da banda era Judas 23 . Fomos a primeira banda de
Hardcore cristão do ES. Permaneci nessa banda até 1996,
foram apenas dois anos, mas foram intensos. Em 1996 formamos a banda
Full Effect, que infelizmente rolou por apenas quatro anos, em
1999 eu me dividia entre a banda Full Effect e outra chamada
Atonement, que novamente me levou a unir o Hardcore a
uma postura cristã .Essa época meio que foi um divisor de águas
para que a cena se solidificasse . Infelizmente com a mesma
velocidade que a parada cresceu, também decaiu de uma hora para
outra. Muitas pessoas ficam tentando achar um culpado para essa
parada, tem esse discurso de que o “Movimento” Emo (nem
sei se isso deve ser chamado de movimento [rs] ) foi o culpado
por esse declínio, outros dizem que foi o crescimento do movimento
SxE , que passou a moralizar e a politizar demais, outros
culpam o crescimento de bandas ligadas a algum seguimento religioso,
que isso interferiu no esquema libertário do HC e por ai vai.
Sempre essa coisa de encontrar culpados. Sinceramente eu não saberia
dizer o que ocasionou esse enfraquecimento de algo que nos pareceu
tão forte nos anos 90. O que vejo hoje é que as coisas parecem
estar melhorando. As tours estão rolando novamente, vejo
também que a parada está se profissionalizando. Os shows estão
mais organizados e mais produzidos no sentido técnico, boas casas,
sonorização, iluminação e etc. Na verdade isso é uma faca de
dois gumes, porque por um lado ter shows mais organizados e
estruturados, acaba forçando as bandas a também buscarem maior
qualidade em ensaios, composições, gravações e investindo mais em
crescimento musical, vejo isso com bons olhos, já passei da fase do
anti-música , os Punks que me perdoem (risos) . O
outro lado da moeda é que o "Do It Your Self" pode
perder o seu sentido, e isso tem um grande valor dentro do Hardcore.
Uma coisa que tem ocorrido é a volta dos coletivos para salvar esse
espírito D.Y.I, pessoas que tem se engajado em resgatar essa
ideia dentro do Hardcore , mas o legal é que também os
coletivos estão conscientes quanto a fazerem a parada com esmero e
qualidade, saca? Aqui por exemplo, temos o Coletivo Versus que tem se
estruturado e já fez alguns shows legais, com equipamento legal,
embora seguindo esse espírito do D.Y.I. O que é feito é o
seguinte, as pessoas envolvidas no coletivo investem grana e
contribuem para a realização dos shows, é feito o orçamento do
show incluindo despesas da banda que virá de fora, seja do estado ou
em tour internacional, som, local e tudo o mais . Dai com todo
o orçamento de custos em mãos, os membros do coletivo racham esse
valor. Com isso dá pra fazer um ingresso barato e independente da
bilheteria os custos serão cobertos. É legal isso. Embora ainda soe
um tanto utópico é impossível!
Em
2004 as coisas começaram a rolar novamente para o Hardcore
capixaba, o Thadeu Kaiser, Marcelão e Adriano
Despair iniciaram a banda DZspero, o Litígio
estava a todo o vapor com Ricardo Perrela e Tarciso a
frente e também o Trino que já estava com uma pegada bem
Metalcore . Outras bandas estavam iniciando como Verrina
e outras. A cena começou a fervilhar novamente. Foi no ano de 2005
que iniciamos as atividades com o VOX e também surgiu a OFC
(Old Friends Crew). A OFC seguia a ideia das Crews
novaiorquinas como a DMS. Era para unir amigos antigos e
novos, fazer encontros de amizade e shows que promovessem essa união.
Mas infelizmente a parada foi mal interpretada e com isso o coletivo
Pacto de Sangue que também é da mesma época meio que
começou a gerar tretas, acusando a OFC de segregar a cena.
Começaram a se posicionar contra bandas que tivessem temática
religiosa, dizendo que estavam transformando os shows em cultos e
mais um monte de baboseiras do tipo. Infelizmente essa treta foi além
dos limites, e houveram brigas, pessoas foram machucadas e gerou uma
puta divisão na cena que enfraqueceu novamente . A banda DZspero
acabou, a Litígio também encerrou as suas atividades, muitas
bandas dessa época acabaram também e nós seguimos com a VOX,
aos trancos e barrancos sobrevivemos. A partir de 2010 as coisas
começaram a se fortalecer novamente. Uma produtora de shows se
fortaleceu bastante aqui, a Correria Produções, e novamente
os shows começaram a rolar com mais intensidade. Começamos a gravar
o nosso CD nesse ano e as lutas foram tantas que apenas no
segundo semestre de 2012 conseguimos finalizar e lançar. Enfim,
foram muitos anos de trancos e barrancos realmente, mas vejo luz no
fim do túnel, acho que a frase da banda Madball "Hardcore
Still Lives" se aplica bem . Nós sobrevivemos! (rs)
No
ano passado (2012) o Litígio voltou as ativas, os caras agora
preparam um novo disco, a parada tá ficando filé. Estamos engajados
com eles e mais algumas bandas no Coletivo Versus. Esse
coletivo prepara para esse ano uma coletânea que trará cinco bandas
incluindo VOX e Litígio.
xContrapondox:
Parece então que a sua pegada foi construída sob os alicerces de
ter uma banda de relevância, e com temática cristã, correto? Por
um bom tempo me enveredei por este caminho, mas o que parece é que,
por falta de sabedoria, dos envolvidos, e ou, das pessoas por trás
dos envolvidos, se “carrega um fardo evangelístico”, quando na
verdade, ter uma banda de Hardcore, especificamente, pode ser apenas
considerado um manifesto de vida, uma indignação com o sistema
vigente. E não como “pescar com dinamites”, Como você vê isso?
Como você faz pra fazer com que as pessoas entendam o real motivo de
vocês estarem neste movimento às vezes tão contraditório?
Pecê:
Bem, não creio que tenha sido isso apenas. Eu curto Punk Rock
desde os 15 anos, com as bandas Ramones, Sex Pistols
e The Clash, daqui do Brasil eu curtia Plebe Rude e
Legião Urbana, não tinha acesso a muitos materiais, dai a
gente compartilhava fitas k7 das bandas que curtíamos e com uns
amigos fizemos uma banda muita ruim, chamada CIA x KGB, todo
mundo era ruim nessa banda e ninguém nem sequer tinha instrumentos
legais para tocar. Nessa época eu morava no Rio de Janeiro, minha
terra natal. Isso durou de 84 a 89. Em 89 eu me converti e me tornei
cristão, porém essa minha conversão se deu exatamente num período
em que o "Jesus Movement" estava se espalhando pelo
Brasil com mais de uma década de atraso. O Rock estava
sacudindo as igrejas cristãs e causando um grande impacto em muitos
jovens que estavam montando bandas a exaustão, para a maioria dos
cristãos tradicionais, aquilo era uma afronta a Deus e uma porta do
mundo que estava se abrindo dentro das igrejas, foi louco demais, e
pude fazer parte disso. Bem, até então eu estava achando o máximo
estar na igreja e poder curtir um Rock, pois minha visão de
igreja era outra. Em 93 me mudei para ES e em 94 quando conheci uns
manos que também curtiam Hardcore e Punk Rock, tivemos
a ideia de montar a banda Judas 23, não tinha nenhuma banda
Punk cristã aqui no ES, depois fiquei sabendo que em São
Paulo já tinha a banda Justa Advertência, a Ruptura e
a Theosophy e mais algumas bandas pelo Brasil, mas nós de
certa forma fomos também os pioneiros do Hardcore cristão no
Brasil. Acho que isso de certa forma faz com que a sua afirmação
seja verdadeira, de que a minha pegada se consolidou através desse
início com o Judas 23, mas eu diria que sem esse processo inicial ,
sem esse contato com o Punk Rock dos anos 80 , talvez eu
soaria fake como tantas bandas de Rock e Hardcore
cristão que vejo por ai. Não estou afirmando que para montar uma
banda cristã tenha que ter tido experiência primeiro fora do
cristianismo, mas penso que quem começou essa parada, os primeiros
que deram a cara para bater, tiveram que ter essa estrada, não teria
como ter credibilidade se não fosse o fato de ser verdadeiro e ter
carga nas costas para fazer o que estávamos fazendo. Quando
começamos aqui, não havia shows cristãos para tocar, a gente
tocava com as bandas Mukeka di Rato, Gritos de Ódio,
Dead Fish, etc.
Agora
falando sobre essa questão da falta de sabedoria dos envolvidos,
penso que é como eu disse anteriormente, falta verdade, saca? Não
creio nem que seja por esse "fardo evangelístico", mas por
falta de honestidade, essa coisa de " nossa banda na verdade é
uma estratégia para se ganhar almas”. Isso é desonesto com a cena
e com quem curte Hardcore. Vamos pensar nas bandas norte
americanas que ganharam respeito na cena como: Strongarm,
Overcome, Zao, The Crucified, Focused,
N.I.V, P.O.D e etc. A mensagem cristã dos caras sempre
foi marcante, não mascararam isso, mas por ter honestidade e verdade
envolvido no que os caras faziam, isso deu moral aos caras dentro da
cena. Não havia ali uns caras forçando uma barra, entende? Eram
pessoas tocando Hardcore pelo Hardcore, porque gostam
de Hardcore , porém com letras expressando aquilo que
acreditam. Eles estavam sendo honestos. É isso que penso, sem essa
de Hardcore como isca para ganhar pessoas pro cristianismo, a
mensagem do evangelho não precisa disso e as pessoas não são
idiotas, elas não gostam de se sentir assim, como se estivessem
tentando fisgá-las. Agora se você vive a sua vida com verdade e
honestidade, se o que você fala condiz com o que você vive , isso
vai influenciar pessoas, e não no sentido de que necessariamente
irão se converter, mas no sentido de que estarão respeitando o que
você fala e vive. Sou pastor de uma comunidade cristã, isso não é
novidade, muitos me conhecem por causa disso e muitos me conhecem por
causa das bandas que fiz parte e hoje por causa da VOX, é
interessante como que na maioria dos casos, as pessoas sabem separar
as coisas, quem me acompanha na VOX, mesmo sabendo que sou
pastor, respeita o meu trabalho em ambas as situações e não
misturam as duas. Não me sinto obrigado a pregar todas as vezes que
toco com a banda, sei que muitas gente faz faz isso, respeito, mas
quando estou tocando Hardcore é pelo Hardcore, às
vezes me sinto a vontade para falar algumas coisas acerca da minha
fé, mas na maioria das vezes quero me divertir com algo que eu curto
muito e sei que tenho liberdade para isso.
xContrapondox:
Quanto a essa questão, “ter uma certa educação religiosa”, se
assim posso dizer, na verdade eu acredito que não só no Hardcore
(leia-se no ramo da musica), quando se trata desde assunto, parece
que ainda as pessoas andam um pouco desnorteadas. O que vivemos hoje
por exemplo na política e nas mídias sociais, é quase que uma
"guerra santa". Isso é vergonhoso. Agora tem uma coisa que
me incomoda bastante. Algumas pessoas que foram muito envolvidas na
cena, que praticamente construíram e fizeram parte da história do
Hardcore aqui no Brasil, depois que se envolveram com o cristianismo
se afastaram. Claro, acredito que em alguns casos foi preciso, mas
você não acha que pelo potencial e caráter dessas pessoas eles
ainda teriam muito a dar a cena?
Pecê:
Isso é sem dúvidas um grande problema desse meio evangélico, essa
coisa de achar que todas as coisas precisam se tornarem evangélicas,
dai toda essa coisa do mercado gospel, políticos precisam governar
dando prioridades para os evangélicos e por ai, e nesse contexto
tudo o que soa como não evangélico é logo taxado de profano e
coisa do demo. Cara, isso muito mais afasta do que une as pessoas, os
evangélicos não aprendem a coexistir com quem segue outra crença e
outra religião, não entendem que não estamos aqui para enfiar
Jesus goela abaixo de ninguém, evangelizar não é isso, Jesus não
fez isso.
Sobre
alguns manos que se afastaram do Hardcore devido as suas
conversões, penso que tiveram seus motivos, seja pelo lado de
estarem numa denominação que os orienta dessa forma, outros porque
sentiram que precisavam se dedicar com exclusividade a outras
questões como família, trabalho, ministério e etc, ou ainda porque
sentiram que seu tempo no Hardcore acabou. Se alguns desses
tinham ainda muito a somar no Hardcore pelo potencial e
caráter? Não tenho dúvidas disso, mas também vejo pelo lado de
que a contribuição que deram jamais será esquecida, são pessoas
que realmente contribuíram para o crescimento e história do
Hardcore.
xContrapondox:
Agora voltando a falar propriamente sobre a banda. Vou me render a
uma pergunta simples. Como se dá as composições de vocês e quais
as bandas daqui do Brasil vocês indicariam para termos uma atenção
especial?
Pecê:
As nossas composições ocorrem da maneira tradicional, Meson,
Eric ou o Bill apresentam uma base a gente ouve essa
base e decide se está legal ou não para darmos continuidade com
arranjos e letra. Uma vez que tenha sido aprovada dentro da banda,
gravamos de forma simples mesmo, com uma câmera de celular ou
máquina mesmo. Dai compartilhamos a gravação entre nós, em casa,
cada um faz a sua parte, eu geralmente tenho rascunhos de letras, dai
de acordo com a base, decido qual desses rascunhos casaria bem com
aquela base, às vezes não rola uma "química" com esses
rascunhos e acabo escrevendo uma nova letra e a encaixo. Dai no
ensaio todos encaixamos juntos os arranjos de instrumento e vocais,
lapidando aqui e ali até que fique da forma como desejamos. Em
alguns casos uma base que foi descartada anteriormente pode acabar
sendo usada posteriormente. Esse é o processo que geralmente usamos.
Sobre
as bandas brasileiras que merece atenção em nossa opinião, bem tem
rolado uma boa safra de novas bandas bem legais e algumas já
consideradas antigas que com certeza indicamos. A banda Norte
Cartel por exemplo, Nossa Fúria, Crença & Fúria,
Prayer Pense, Bullet Bane, Bay Side Kings, Same
Flann Choice, Inerte, Mais Que Palavras... E tem
outras, mas minha memória de 42 anos comete injustiças. (rs)
Não se sintam ofendidos amigos de bandas que eu esqueci, vocês não
são menos importantes!
xContrapondox:
Legal! É mais ou menos o mesmo caminho de composição que a maioria
das bandas fazem. Agora quanto a divulgação do trabalho de vocês.
Hoje a internet facilitou bastante; você não precisa ficar correndo
atrás de shows, datas, e pedindo pra tocar, basta um bom trabalho
apresentado e as coisas surgem. Na verdade, com meu "espirito
punk" (rsrsrs) ainda sinto falta dos Fanzines, o
material gráfico distribuído em shows, bancas vendendo CDs,
camisas, isso se vê muito pouco hoje em dia. Como vocês fizeram, ou
fazem pra divulgar o trabalho da banda? Vocês levam em conta o
número de "curtidas", "compartilhamentos e "plays"
na internet ou realmente se preocupam com qualidade? Porque,
desculpem a sinceridade, já está dando no saco essa divulgação
exacerbada que o pessoal faz sem limite e sem qualidade. Onde na
verdade o máximo que você consegue é um "Tamo Junto!".
Pecê:
Toda banda quer tornar o seu trabalho conhecido, isso é natural e
para isso é necessário um bom trabalho de divulgação. Nosso
material foi lançado pela Vinte Sete Merch, e essa parte de
divulgação tem sido feita pelo selo através do Hebert "Bertz"
e do Meson (baixista da banda), eles cuidam de toda essa coisa
de postagens e divulgação virtual. A Vinte Sete está
produzindo também nosso material visual, e o nosso primeiro vídeo
"Mais Que Uma Luta" que foi lançado recentemente é
uma produção da Vinte Sete e já estamos trabalhando para
lançar o clipe de outra música de nosso album. Nossa divulgação
tem sido feita dessa forma. É claro que esse lance das redes sociais
meio que descartou aquele velho esquema de fazer zine, enviar
flyers e etc. Voltamos aquela questão de que hoje em dia o
D.I.Y tem se perdido cada vez mais. Mas as bancas estão
voltando, muitas bandas estão resgatando essa coisa das bancas de
material e tal, até porque isso facilita os rolés, já que a
maioria dos produtores de shows não tem condição de pagar um cachê
(palavra que causa um certo asco {rs}, mas é a que se encaixa
nesse ramo musical ), dai as bandas devem ter seu material para
complementar a parada e poder fazer um caixa para viagens , reposição
e confecção de novo material e etc. Isso eu digo relacionado a
camisetas, CDs e adesivos das
bandas, mas sobre material gráfico, infelizmente isso tem se perdido
mesmo com a questão da internet. Eu também gostaria de voltar a
encontrar zines impressos, revistas e textos sendo distribuídos nos
shows.
Sobre
primar pela qualidade, isso sempre. Sobre o resto , é como eu disse
, estamos trabalhando através de um selo, nesse caso, é claro, o
número de curtidas, compartilhamentos, plays e visualizações
é importante, porque é o retorno que o selo precisa para dar
continuidade ao seu trabalho também. Outra questão é que seria
falso da parte de qualquer banda dizer que não se importam com isso,
como disse toda banda quer ter o seu trabalho reconhecido. Mas a
outra questão que também envolve isso é que número de curtidas e
etc, não representa necessariamente o reconhecimento de um trabalho
de qualidade em se tratando de internet, porque se os integrantes da
banda têm muitos amigos, eles pedem a exaustão para que esses
amigos curtem tudo que postarem e isso dá visibilidade, mas não
necessariamente representa algo que seja bom, e é nesse caso que
concordo contigo que muita coisa ruim tem sido taxada de boa por ai ,
simplesmente porque tem uma legião de curtidores, seguidores e etc.
Se for levar isso em conta terei que dar todo mérito para essas
merdas que rolam por ai como "Lek, Lek" e
"Poderosas". Eles são campeões de curtidas e
visualizações!
Agora
sobre o “Tamo Junto”, quando realmente vem de amigos que você
sabe quem são e que rola sinceridade na frase, tudo bem! Agora se é
apenas para te dizer: "Aê curti tua parada lá, tá? Tamo
Junto", dessa forma mecânica que rola na maioria das vezes,
de fato é melhor que nem curta.
xContrapondox:
Ouvindo o álbum de vocês "O Gosto da Conquista"
notei que as letras são bem fáceis, eu em particular em meus
trabalhos anteriores como banda sempre gostei de trabalhar desse
forma, letra fácil e refrão do tipo "chiclete". Essa
também é uma pegada sua ou foi opção da banda num todo?
Pecê:
A gente segue essa ideia de letras fáceis para que todos entendam de
forma simples o que temos a dizer e também para que a gente consiga
atingir o nosso objetivo que é ir além da música, mas também
passar algo para que as pessoas possam refletir. Essa pegada dos
refrões "grudentos" é algo da banda mesmo, desde que
encontramos a nossa identidade musical essa se tornou uma das
características principais.
xContrapondox:
Quando você fala "passar algo além da musica" me
faz lembrar muita coisa. Por exemplo, aquela velha ideia de se
conseguir fazer alguns eventos mais diversificados com, além das
bandas, palestras, vídeos, feira com materiais bem diversificados,
comida, essas coisas. Por que isso se perdeu, e porque em tempos tão
modernos isso ainda, 'é uma realidade distante'? Tentamos por um
tempo fazer aqui no Rio e foi bem interessante.
Pecê:
Quando falo além da música é exatamente isso, é o que rola
fora dos palcos, saca? Poder trocar ideia, fazer amizades, ouvir as
pessoas que curtem o Hardcore não apenas pela música, mas
por ser uma plataforma de ideias, de opiniões diversificadas, de
discussões que vão desde questões políticas a questões de
postura pessoal, de fé, de amizade e tantas outras questões, até
mesmo o lado da diversão. Agora sobre esse lance de eventos que unam
shows a palestras e exposições, etc. Cara, não consigo encontrar
essa resposta do porque isso se perdeu, é uma pergunta que não quer
calar, mas que ao mesmo tempo parece que ninguém quer trazer a tona
e os moleques se sentem meio que ofendidos quando falamos dessa
parada do passado, entende? Todas as vezes que tocamos nesse assunto
eles se revoltam, dizem que nos achamos donos da cena porque fizemos
isso e aquilo no passado, que queremos criar uma hierarquia por tempo
de "serviços" prestados ao Hardcore (rsrsrs).
É até engraçado, mas já ouvi isso, acredita? E dai fica essa
lacuna aberta de algo que já foi tão legal e útil , mas que se
perdeu. Eu não sei responder meu amigo, sinceramente não sei
porque.
xContrapondox:
É; ao mesmo tempo em que acredito que se batermos firme e cair pra
dentro e fizer a coisa acontecer, tudo volte. Ao mesmo tempo tenho a
mesma impressão que você, de não haver uma resposta definitiva. As
gerações estão mudando muito rápido e deixando rastros as vezes
não tão legais. Bom, mas nós precisávamos disso. Algo além do
palco. Pra começarmos a finalizar nosso bate papo. Diz pra mim o
seguinte: Na história dos movimentos alternativos, onde você acha
que foi o ponto chave que podemos dizer assim: "Esse é nosso
divisor de águas" e que de certa forma hoje tem uma marca
crucial na vida de vocês. E em contrapartida qual foi "a bola
fora" que infelizmente deixou um vácuo imenso?
Pecê:
É também acredito que não devemos desanimar e continuar
mostrando para os garotos que não queremos ditar regras, mas que
temos algo positivo do passado para compartilhar e somar no presente
e futuro. Essa parada do conflito de gerações é incrivelmente
comprovada e tem se mostrado cada vez mais rápido, é realmente
incrível isso. Sobre os rastros, é fato comprovado também, esse
imediatismo dessa geração não tem dado muita margem para o
pensamento, para os cálculos, vejo os garotos tomarem decisões e
ações com duras consequências que poderiam ser evitadas. Um
exemplo, sabemos que a tatuagem é algo que ainda encontra muita
resistência em nossa cultura. Mas cara, vejo os garotos fecharem os
braços e as vezes até o corpo todo de uma hora para outra, sendo
que ainda estão estudando, e debaixo dos cuidados dos pais, são
imediatistas demais em tudo que fazem. Sobre os movimentos
alternativos em geral, acho que o que foi um divisor de águas foi
esse lance de ter voz, de romper com sistemas de todos os tipos, que
eram meio ditatoriais, que estabeleciam normas a serem seguidas,
sendo que essas normas representavam muito mais "rédeas e
cabrestos" do que algo realmente necessário. Na música, por
exemplo, esse rompimento trouxe os selos independentes, os shows
undergrounds e o estilo D.I.Y. Num âmbito geral, os
movimentos alternativos trouxeram exatamente o que o próprio nome
sugere, ou seja, alternativas, novas ideias e rompimento com os
paradigmas estabelecidos. Isso marcou porque nos permitiu ter
opinião, fazer a nossa leitura da coisa e não engolir tudo que
queriam nos enfiar goela abaixo, trouxe a tona a capacidade criadora
e mobilizadora de toda uma geração que vivia reprimida. A bola fora
da parada? Esse é o “X” da questão (rs). Sei lá!, são
tantas situações que podem ser citadas . Mas por exemplo, vamos
pegar o movimento SxE, quando isso se fortaleceu, eu vi com
bons olhos a parada, nunca me tornei participante direto nesse
movimento, mas fui muito simpatizante e incentivador dos meus amigos
que se engajaram, mas o que rolou depois é que a maioria dos SxE's
meio que eram intolerantes, taxavam as pessoas de junkies,
discriminavam e se posicionavam como donos da verdade, isso trouxe um
certo sectarismo dentro da cena, com a postura Política e Vegan
(Vegetarianismo) a coisa complicou um pouco mais, dai quem não era
do movimento era alienado e por ai em diante. Com o lance das bandas
religiosas, a falta de tolerância de ambos os lados, quem era ateu
ou agnóstico não tolerava quem era religioso e vice-versa. Muitas
guerrinhas dentro da cena, isso enfraqueceu demais cara. Nesse caso
eu diria, não afirmo como verdade absoluta, mas diria que a
intolerância e essa postura de donos da verdade de muitos dos
envolvidos nos movimentos alternativos marcaram para que a parada
não se solidificasse e se tornasse algo firme e definitivo na cena.
A
grande maioria das pessoas de nossa geração que tenho conversado
realmente tem sido unanime quanto a essa questão do SxE. Mas
como eu falei antes, acredito que seria mesmo inevitável chegarmos
onde chegamos, com shows vazios e bem segmentados.
xContrapondox: Bom. Foi um prazer trocar mais essa ideia e saber mais sobre a banda VOX e sobre você meu amigo de longas datas. Pra a gente terminar. Segue a última pergunta: Se talvez você tivesse que estar ativo em um outro estilo musical, em que você estaria trabalhando? Aproveita e deixa 3 boas resenhas pra gente desse outro estilo e uma explanação sobre o álbum de vocês. E boa sorte!
Pecê:
Sim, muitos dos meus amigos e você se inclui nisso (rs) que
militaram ou militam no SxE, sempre dizem o mesmo a cerca de
como fariam diferente se tudo estivesse iniciando hoje e tal. Acho
que ainda pode ser feito muita coisa, mas estamos velhos e os garotos
nos acham chatos e nostálgicos demais. (rs) O lance é ganhar
a confiança dos garotos, mostrar que ainda temos lenha pra queimar e
que eles precisam dar uma chance para nós, os anciãos. (rs)
Isso me lembrou uma afirmação do Jason Moody quando voltaram
com o N.I.V, ele disse que "estavam voltando porque
precisavam mostrar aos garotos como fazer Hardcore sem perder o
compromisso com aquilo em que se acredita", a parada é por
ai!
Tenho
dois sonhos dentro de outros estilos, um deles seria uma banda na
linha do Irish Punk , curto demais bandas como Dropkick
Murphys, Fatfloot 56, The Runjack, The Real
Mackenzies, Neck, etc.
O
Dropkick Murphys é a banda que me chamou a atenção para
esse estilo a uns oito anos atrás com o filme Hooligans, eles
estavam na trilha sonora e o clipe de “I'm shipping up to
Boston" se tornou um hit. Eu já conhecia a banda,
mas me tornei fã a partir desse clipe, dai em diante pesquisei mais
e conheci muitas outras bandas, mas o Dropkick Murphys é o
carro chefe nessa parada. Tenho todos os discos dos caras baixados em
meu computador, é uma excelente banda de Massachusetts - USA.
Curto
demais também o Flatfoot 56, é um banda cristã desse estilo
também conhecido como Celtic Punk, os caras tem uma pegada
muito massa, acho legal que fazem clipes com mensagens muito
introspectivas como é o caso de "Courage".
Recomendo uma conferida nesse clipe.
O
outro sonho em estilo diferente seria uma banda com pegada
Rock'n'Roll na praia do Motorhead e AC/DC,
mesclando com alguma coisa de Hardcore tipo a banda Matanza.
Bem,
Motorhead e AC/DC dispensam qualquer resenha. (rs)
Então vamos falar da banda Matanza, que também já é
consagrado e dispensa resenha, mas é uma banda bem peculiar do tipo
"amem ou odeiem", principalmente para quem ouve o som
buscando letras positivas. Não é o tipo de banda que tenha grandes
mensagens a serem passadas, mas musicalmente curto demais o som dos
caras, essa mescla de Rock'n'roll, Country e Hardcore
me agrada muito. Curto a banda pelo som que fazem. O álbum "A
Arte Do Insulto" é meio que um clássico dos caras, mas na
verdade todos são bons, porque o Matanza é aquele esquema do
Motorhead e Ramones, ou seja, são poucas ou quase
nenhuma mudança de um álbum para o outro, se você ouve um álbum,
já ouviu todos. (rs) Mas o interessante é que sempre iremos
ouvir como se fosse o primeiro.
Sobre
o nosso álbum "O gosto da conquista", é um
lançamento que saiu com cinco anos de atraso desde que o idealizamos
e compomos a maioria das músicas. É um registro que devíamos
primeiro a nós mesmos e depois para os fãs da banda, sendo assim, é
antes de tudo o pagamento de uma dívida. Esse álbum vem também
encerrar um ciclo para que pudéssemos iniciar uma nova era pra
banda. As dez músicas que estão nesse álbum foram compostas ao
longo dos oito anos de nossa existência, onde escolhemos aquelas que
melhor representavam todas as fases, ficaram oito músicas de fora,
sendo que na verdade eram músicas que já estavam fora do nosso set
de show a um tempo. O álbum foi gravado no estúdio Vinte Sete
que é do selo que produziu e lançou o trabalho, Vinte Sete
Merch. O lançamento foi uma parceria deste selo com mais dois
outros, são eles, Correria Produções (ES) e Submersa
Records (RJ). Então, é isso, quem tiver interessado em baixar o
CD ou em algum outro material da banda acesse nosso. Obrigado
Fox pela oportunidade!
Que
Deus o abençoe e sucesso ai com o retorno do Blog/Zine!
Grande abraço à todos, a gente se esbarra nos rolés por ai. Valeu!
por:
Gilson Fox
Originalmente
publicado no blog xContrapondox,
de Gilson Fox.
Conheça o blog.
Mais
sobre a banda no link.
foto: Daiana Arcanjo
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