Bom,
é isso aí mesmo! Dando sequência à parceria do FMZ com o blog
xContrpaondox, temos a seguir uma entrevista com o editor do Feira
Moderna Zine... Isso, eu mesmo (foto acima). Em junho deste ano,
quase que paralelamente às manifestações, recebi o convite do
camarada Fox, responsável pelo xContrapondox para esta entrevista.
Aproveitando o momento pelo qual o país passava, falamos de
absolutamente tudo: polítca, underground, FMZ e por aí
vai... Lá vamos nós, então:
Eu
sou péssimo em gravar datas. Mas em um passado longínquo, (rs)
quando por ventura me envolvi com o universo dos fanzines, e comecei
a editar um pequeno fanzine chamado Manifesto, tive a oportunidade de
conhecer muitas pessoas interessantes. Este pequeno fanzine se tornou
o Grosso Calibre, um fanzine de proporções um pouco maior, mas com
a mesma pegada. Recheado de resenhas, textos, indicações e claro,
muita indignação.
Foi
exatamente neste período de muito tempo gasto com recortes,
montagens e muito dinheiro gasto com xerox que comecei a receber um
grande número de cartas em minha residência interessados e trocar
material. Foi assim que chegou em minhas mãos o Feira Moderna Zine,
ou pelo menos o flyer do mesmo. Logo em seguida, em alguns
shows já foi possível notar que seria possível uma aproximação
com os idealistas do FMZ. Foi assim que conheci o Rafael, e a partir
de então começamos a trocar algumas ideias bastante interessantes.
É
com ele o bate papo que segue aqui no Contrapondo. Vamos conferir?
Caso tenha interesse em também prolongar esse contato. No final
dessa troca de ideia você pode deixar a sua opinião ou entrar em
contato conosco. Fique a vontade. E boa leitura!
xContrapondox:
Rafael, vamos lá! Não tem como nós começarmos essa conversa sem
lhe perguntar sobre o Feira Moderna Zine, esse sim merece uma
pergunta de praxe. Há quanto tempo você está nessa correria e como
faz ainda em tempos modernos de internet pra manter um trabalho tão
tenso, e melhor, ainda com versão impressa?
Rafael
A.: Cara, o fanzine Feira Moderna Zine (FMZ) existe
desde 2002. Começou num formato bem diferente deste que tem hoje.
Como a maioria dos fanzines, xerocado e circulando com poucas cópias.
Só a partir do número sete (se bem me lembro, entrando no terceiro
ano) passamos a lançá-lo como um jornal. A questão da internet
hoje soa muito mais clara pra mim do que há alguns anos atrás. O
FMZ demorou muito para ter uma versão online da forma
que deveria; com atualizações constantes e tudo o mais. Levou certo
tempo pra cair a ficha que a versão impressa precisava de uma versão
online, e, creio eu, que o contrário também. Uma versão dá
sustentação, visibilidade à outra. Embora a versão impressa ainda
seja a 'principal'.
Confesso
que a cada número impresso que lançamos, sentimos que a coisa vai
ficando mais complicada. E isso em todos os aspectos: os custos, a
gráfica, enfim. Anunciante hoje em dia é muito mais difícil. Mesmo
as trocas de anuncio por materiais (que já não eram o ideal pra
nós, mesmo no começo), hoje soam ainda mais inviáveis. Já que as
vendas de materiais em shows diminuíram muito. O jeito é manter com
nossos próprios recursos. E vida que segue. Mas, pra nós, a
satisfação de ver mais um número pronto, circulando, compensa sem
a menor sombra de dúvidas.
xContrapondox:
Como você faz pra manter todas as informações? Haja vista que pelo
menos hoje, só vejo você como representante do FMZ nos eventos, se
não estou enganado. E as matérias sempre são legais, como se você
estivesse o tempo todo ligado nos eventos. Coisa quase impossível!
(rs)
Rafael
A.: Hoje no FMZ somos dois. Eu e o Rodolfo Caravana,
que participa da versão impressa com uma coluna e chegando junto
comigo nos custos. A versão online, onde rolam as notas,
matérias de shows e tudo mais, ficam por minha conta. Com exceção
de uma ou outra entrevista, as poesias e algumas coisas que recebemos
de colaboradores, como você por exemplo. Estar presente nos shows e
eventos também é por minha conta. Gosto realmente de escrever sobre
música, dar opinião, me expressar. Não encaro como um trabalho, ou
algo penoso, sabe lá. Basta conseguir organizar o tempo e dormir um
pouco menos às vezes (é preciso ganhar a vida) que é tranquilo.
Claro, ir pra rua com a banquinha e estar nos shows são, sem dúvida,
a melhor parte. E mesmo que não houvesse o FMZ, creio que
estaria frequentando os mesmos lugares. Talvez carregando menos peso,
mas indo aos mesmos lugares. (rs)
Sinceramente,
não me imagino fazendo outra coisa, frequentando outro meio. O
underground é a causa que escolhi. A única coisa na qual
acredito hoje é em arte e cultura (ou contracultura, como queiram)
como ferramenta de mudanças. Não acredito em militância
partidária, na classe política. Encaro o Estado como inimigo,
agente repressor, limitador do indivíduo, e duvido das intenções
de qualquer grêmio, união dos estudantes disso ou daquilo, ou, seja
lá o que for. Logo, minha forma de militância, de fazer política,
de interferir, protestar é minha atuação no meio underground.
Sendo assim, não tem como o trabalho não soar prazeroso ao extremo!
xContrapondox:
Legal. E já que tocamos no assunto, "underground /
contracultura". O que isso significa realmente pra você?
Acredito que quando menciona, por exemplo, "O underground é
a causa que escolhi." Você ainda tem muita coisa pra dizer.
Então, desenrola isso pra gente!
Rafael
A.: Acredito realmente no poder transformador da arte, da música.
Tenho certeza que se não tivesse, num dado momento de minha vida,
esbarrado em fanzines, determinadas bandas, discos e livros minha
vida teria tomado um rumo muito diferente, e eu seria outra pessoa.
De alguma forma, prefiro que tenha sido assim.
Entendo
que cada cidadão tem um papel importantíssimo na construção de
nossa sociedade. Assumir esse papel ou não, é escolha de cada um.
Estou falando do cotidiano, do dia a dia, das pequenas atitudes e
posturas adotadas. Há diversas formas de interferir no espaço, no
todo no qual estamos inseridos. Mesmo o sujeito que exerce seu
ofício, sua profissão de forma honesta, correta, está de alguma
forma contribuindo. Alguns vão além, optam por determinados tipos
de militância, enfim. E, ao menos eu, encontrei a forma de me
expressar e participar, agir, interferir através do meio
underground. Foi onde tive contato com ideias que condiziam
com a forma como eu me sentia (e ainda me sinto) perante o mundo e
ferramentas para expressá-las. Seja tocando, escrevendo, produzindo,
divulgando, não importa. Estou difundindo cultura, informação,
trocando ideias. É a forma como deixo claro para o mundo que existo
e que penso.
xContrapondox:
Dentre estes anos de caminhada com o FMZ, qual foi a parceria que
você mais considera relevante dentro de todos estes aspectos
colocados quanto a underground / militância, e ou, até mesmo
só em termos de cultura?
Rafael
A.: Essa pergunta é difícil! (rs) Logo quando o fanzine
começou, os primeiros anunciantes foram fundamentais. Por causa
deles surgiu a Latitude Zero Distro. (por falta de grana, era
bem comum a galera das distros trocar anúncios por CDs; daí
comecei a montar banquinha nos shows, pra tentar transformar os
'pagamentos' pelos anúncios em grana viva!) e vimos que era possível
'crescer', mudar o formato, ir pro jornal e aumentar a distribuição.
Da mesma forma, a galera da correspondência, da troca de cartas,
fanzines e flyers também foi fundamental para espalhar o nome
do FMZ.
Tem
também a galera que, assim como eu e outros aqui pelo Rio de
Janeiro, monta as banquinhas nos shows. Por mais que a galera de
fanzine curta a coisa da troca de correspondências, nada substitui o
contato direto, pessoal. É diferente você entregar e/ou receber um
fanzine num show. Estar em contato com quem vai ler o material que
você produz e sentir a reação.
De
qualquer forma, foram muitos parceiros ao longo do tempo. Tanto no
FMZ quanto nos outros projetos, inclusive produção de shows.
E por mais que pareça clichê, acho que se aplica o mesmo que
defendo com relação ao meio underground como um todo: todas
as peças da engrenagem são importantes, fundamentais. O cara que
pegava um flyer nosso e colocava dentro de uma carta e mandava
junto com um fanzine pra um contato dele não faz ideia do quanto
contribuiu. O mesmo valendo pro sujeito que foi num show e pegou uma
cópia do fanzine numa banquinha.
xContrapondox:
Rafael, você acha que a galera hoje mudou muito? Por exemplo, no
auge dos fanzines no passado, como na época em que eu editava o
Grosso Calibre que se tornou o Contrapondo, eu chegava a receber
quase dez cartaz por dia. Um absurdo! E tudo nesse "nype"
como você mencionou, as vezes poucas palavras, mas muitos contatos
para retorno. Na verdade, a minha pergunta é a seguinte. Qual a
diferença notada hoje para os que são leitores do FMZ, dos
frequentadores dos shows e dos que pegam contigo o zine pra leitura?
Vou até ser um pouco pedante, mas você acha que a molecada hoje
sabe a importância de um fanzine na cena?
Rafael
A.: Temos que levar em consideração que a forma como se consome
cultura, de modo geral, hoje é muito diferente de dez, quinze anos
atrás. E isso se reflete no meio underground. É inevitável.
Hoje as coisas estão muito mais simples. Um clique e você tem uma
discografia inteira de uma banda 'lado b' no seu computador ou
celular! Não dá pra querer que o cara que já encontrou o cenário
com todos esses dispositivos e 'facilidades' à disposição se
relacione com uma banda, fanzine ou com determinado gênero musical
da mesma forma que a gente que camuflou grana em papel carbono na
carta pra comprar demo, que esperou meses por um fanzine, tomou volta
de espertinho, ou coisa parecida.
Mas
ainda acho que tem, sim, uma garotada tão interessada no meio
underground quanto nós. É claro que a quantidade de fanzines
impressos diminuiu, mas vira e mexe recebo materiais! Tem mostras
rolando por aí, enfim. Vez por outra dou de cara com uma molecada
que só conhece e-zine! Ficam espantados com o fato de ainda
haverem fanzines impressos. E gostam, trocam contato, acompanham. E
ainda surgem novos fanzines por aí! Parece-me que, talvez, seja
dever nosso (os mais cascudos) encontrar formas de não deixar certos
valores se perderem. Demos lançadas no formato físico, bandas
iniciantes, fanzines impressos e por aí vai, tudo isso merece ser
valorizado. E as pessoas envolvidas, idem!
xContrapondox:
Vamos aproveitar esse momento histórico que vivemos hoje aqui no
Brasil e falar um pouco de política? Qual é a sua perspectiva sobre
os últimos acontecimentos, os protestos, a possibilidade de mudanças
e os ataques aos órgãos públicos? Ou você assim como eu, apesar
de ter esperança, sente um "cheiro estranho" de apenas
euforia?
Rafael
A.: Bom. Vamos lá!
Cara,
há muito tempo que nós, envolvidos com o meio underground,
cobramos essa coisa de ir pra rua, protestar, e se fazer ouvir, sair
da 'zona de conforto', enfim... Acho ótimo que uma parcela da
sociedade esteja fazendo isso. Confesso que desde o começo olhei a
coisa toda com muita desconfiança, e até o momento permaneço
assim: desconfiado. Tem gente por aí que é mestre em manipular
opinião pública, e não me refiro apenas aos meios de comunicação.
Espalham discursos e teorias das mais absurdas em redes sociais e
afins... e fazem parecer a coia mais normal do mundo... Ainda assim
me soa extremamente válido.
Mas
creio que tão importante quanto a manifestação em si, é a forma
como toda essa discussão irá, de fato, influenciar o dia a dia de
cada um. É fundamental que todo esse surto de politização afete o
cotidiano, os pequenos atos e posturas do cidadão. Ano que vem
teremos eleições. E, minha desconfiança, passa justamente por esse
'cheiro estranho de euforia’ que você citou. Será que, menos até
que os protestos em si, mas a discussão e toda essa indignação
estarão presentes na hora de votar? Será que dura até lá?
Com
relação aos atos: mesmo com os dois pés atrás; estive presente em
dois deles aqui em Niterói. Mas acompanhar mesmo, até o final,
apenas o segundo. Queria ver com meus próprios olhos e tirar algumas
dúvidas. De fato, as reivindicações diziam respeito à coisas que
também me afetam como cidadão (à grande maioria de nós, na
verdade). Também ficou claro que os tais atos de vandalismo são
praticados por grupos organizados (e que sabem bem o que estão
fazendo). Não parte do cidadão de uma forma geral (o que seria
plenamente justificável, dado o ponto que as coisas chegaram aqui no
Brasil). Pude perceber isso aqui em Niterói, onde também houve
confronto com a Polícia. Porém, após o ato em si, numa outra
situação. (pra mim ficou bem claro isso)
A
ação da PM não me surpreende e não deveria surpreender ninguém.
Sempre agiram da mesma forma. Só quem nunca tomou uma dura na
madrugada se espanta. Só que é um problema que vem desde que a PM
existe. Seguem ordens que partem de seus respectivos governadores. E
sequer passa pela cabeça de algum deles não fazê-lo. Com relação
aos veículos de imprensa:: a mesma coisa. Sempre agiram da forma que
estão agindo, só que agora, com as mídias digitais e o acesso
rápido e fácil à informação, assim, coisa ficou exposta, virou
flagrante.
Quanto
à tomada de prédios públicos: é simbólico, faz parte. É
patrimônio do cidadão e, se é do desejo do cidadão ocupar o que é
seu, que seja feito. Só acho que seria bacana que o povo, pra valer,
estivesse presente nesses locais no dia a dia, cobrando de seus
eleitos, seus funcionários, o que é obrigação deles fazer. Já
seria um passo adiante e em tanto.
Outro
ponto: Acho ótimo que haja rejeição às bandeiras de partidos,
sindicatos, ou, seja lá o que for. A insatisfação é com o poder
público, a classe política como um todo. Obviamente os partidos
políticos estariam incluídos. São parte de tudo isso. E também é
de se esperar que os militantes partidários joguem 'cascas de
banana' pro discurso dos 'apartidários'. De alguma forma, sentiram
que 'ficaram de fora da festa'. Evocam a democracia para justificar a
presença de suas bandeiras, mas no fundo são justamente essas
bandeiras e siglas que atentam contra a democracia quando deixam os
interesses do cidadão que os elege de lado e trabalham em benefício
próprio. É justo negar a participação partidária quando as
reclamações envolvem, inclusive, os próprios partidos.
E
por mais que eu seja chegado a uma ‘teoria da conspiração’,
ainda não dei de cara com nenhuma relacionada a tudo que tem
acontecido que me convencesse. Pelo menos nada que desague num golpe
militar ou coisa parecida.
Enfim.
Acho válido tudo que tem acontecido. Mas chego ao mesmo ponto que
você. Fico me perguntando se isso tudo influenciará o dia a dia do
cidadão e durará até as eleições. Aí sim, creio que algo
realmente transformador possa vir a acontecer.
xContrapondox:
Seguindo a vibe, tenho me organizado com alguns amigos para
incentivar o boicote, é a única manifestação pacífica que
acredito. E como você mencionou, acredito também que alguns
confrontos seriam inevitáveis, pois essa polícia corrupta e nojenta
que mais dá medo do que os próprios ladrões, sempre foi o carrasco
de quem gosta de curtir uma madrugada. Quando menciono o boicote,
acredito que o mesmo pode ir mais além do que as eleições. Você
concorda comigo?
Rafael
A.: Sim. Com certeza! A ideia me agrada imensamente. É uma forma
ainda mais eficaz de não só manifestar a indignação, mas deixá-la
registrada, impressa na história política do país. Na verdade,
creio que o grande lance é deixar claro que pronunciamentos, pactos,
medidas 'emergenciais' ou qualquer outra coisa do gênero não
resolvem a questão. O problema é mais profundo. E isso passa,
inclusive, pela questão dos partidos nas manifestações: não se
trata de rejeição a partidos de esquerda ou direita. As pessoas
estão insatisfeitas com a atuação dessas entidades de uma forma
geral, não importa o posicionamento. Sempre entendi que se
determinada empresa não presta um serviço satisfatório, não devo
fazer uso de seus serviços. É a forma de deixar a insatisfação
clara. Se o problema é com a classe política, que não lhes sejam
dados nossos votos! É o que os sustenta! É bater onde dói!
Ainda
sobre eleições: Não posso encarar como democrático um processo do
qual sou obrigado a participar. O voto me parece ser a arma mais
valiosa para exercermos nossa cidadania, mas a obrigatoriedade, a meu
ver, tira todo o sentido da coisa. Desde que comecei a votar defendo
o voto nulo como a única forma de manifestar insatisfação que o
Estado me dá em uma eleição. Não aceito o discurso do “quem
vota nulo não pode reclamar, está se anulando, abrindo mão de
participar”. Pra mim soa ao contrário! As pessoas que conheço
que como eu anulam seus votos, me parecem ser as que mais se
importam! As que já procuravam formas de manifestar sua indignação
muito antes dessa garotada resolver ir pra rua. Insisto que acho
válido tudo isso. Mas também entendo que nem o governo, nem a
oposição querem (nem vão) de fato tocar em pontos que provoquem
mudanças profundas. O voto obrigatório seria uma delas, no meu
ponto de vista. E independente do que aconteça daqui pra frente,
continuaremos no meio da briga deles por poder. E aí, as eleições
do ano que seriam, sim, a hora de manifestar a indignação da forma
mais contundente possível.
xContrapondox:
Existe um espaço dentro do FMZ que trata diretamente destes
assuntos, política / filosofia de vida, ou isso acaba refletindo
naturalmente nos outros conteúdos? Você acha que um manifesto,
impresso, distribuído em shows ainda pode fazer alguma diferença
quanto a isso?
Rafael
A.: Sim, as colunas e artigos em ambas as versões do fanzine
apontam quase sempre para assuntos distantes do universo musical,
salvo uma ou outra exceção. As poesias, na versão online (no
próximo número impresso vou tentar dar mais espaço para os poetas,
inclusive), são outro exemplo. Acho muito difícil falar de arte
sem, necessariamente, tocar em aspectos comuns à vida cotidiana. Já
que a arte acaba sendo reflexo do que as pessoas vivem, de uma forma
ou de outra.
Com
relação a um manifesto, ou qualquer outra ferramenta que traga as
pessoas envolvidas com o cenário underground para discussões
envolvendo temas, aparentemente, alheios ao meio: são extremamente
válidos. Vou me apropriar de um depoimento do Bolinho da
banda Kopos Sujus, publicado recentemente em um grupo no
Facebook: Ele colocava a necessidade de trazer para o meio
underground a discussão de temas relacionados ao cotidiano,
política, e cidadania por exemplo. Ele frisou, inclusive, o fato de
não ser algo que precise aparecer obrigatoriamente nas letras das
bandas, já que nossa atitude em participar do meio underground
já é uma atitude política por natureza. Aliás, no que concordo
plenamente com ele.
É
importantíssimo, principalmente pra galera mais nova, sentir que o
meio underground também pode ser um caminho para exercermos
nossa cidadania. Afinal, estamos ali produzindo e consumindo cultura.
Não a cultura imposta por grandes veículos de comunicação. Não a
cultura ou o discurso da direita ou da esquerda, necessariamente.
Mas, talvez, um novo olhar, outra forma de enxergar e compreender as
coisas, diferente da grande maioria, independente. Por que não
aproveitar isso? Creio que muitos dos assuntos levantados nas
manifestações e protestos poderiam contribuir muito com esse
processo de discussão, debate, troca de ideias e, quem sabe, mais
pra frente não surjam novos fanzines, informativos, manifestos ou
qualquer coisa do tipo, fruto de tudo isso? Já temos os espaços e o
ambiente propício para algo nesse sentido acontecer. Você não
acha?
xContrapondox:
Com certeza Rafael, temos o espaço sim! E esta posição de achar
que podemos dar muito mais do que apenas expomos nas letras de nossas
canções já é algo que venho batendo com força em quase todas as
minhas colocações. Isso é de suma importância. Ainda mais em
momentos como o atual, de manifestações em nosso país.
Bom
meu caro, nossa conversa foi bastante satisfatória. Como os
interessados em criar uma parceria com o FMZ podem estar fazendo e o
que você deixa pra gente de interessante para lermos, aproveitando
mais uma vez nosso momento político, que possa talvez nos deixar com
uma visão um pouco melhor para o futuro?
Rafael
A.: Maravilha! Valeu pelo espaço e pelo papo, meu camarada! Quem
quiser fazer contato é só mandar e-mail
(latitudezeroprod@yahoo.com.br)! Pode demorar de vez em
quando, mas faço o possível para dar retorno a todos. O FMZ
está aberto a quem quiser colaborar, participar, seja lá de que
forma for! Parcerias são sempre muito bem vindas! E antes de
encerrar, vou bater na mesma tecla: o momento é propício, temos
tudo pra fazer de nosso 'mundinho under' bem mais que o show
no final de semana, a camisa de banda ou a pose pra foto no
Facebook... Acho difícil que alguém consiga dizer, com certeza, no
que tudo isso que vem rolando vai resultar. Pode, inclusive, não dar
em nada... De qualquer forma, entramos num momento importante de
discussão, debate e 'politização' que (mesmo duvidando de
engajamento/militância 'instantâneos') pode render muita coisa
interessante.
Minhas
dicas de leitura? Vou tentar não fugir muito de temas e coisas que
tratamos em nosso papo, ok?
“1984”
(George Orwell) – Fundamental!!!
“A
Revolução dos Bichos” (George Orwell) –
Fundamental!!!
“O
Castelo” (Franz Kafka) – Fundamental!!!
“O
Processo” (Franz Kafka) – Idem...rsrsrs!!!
“O
Que é Anarquismo” (Caio Tulio Costa)
“Punk:
Anarquia Planetária e A Cena Brasileira” (Silvio Essinger)
“A
Onda Maldita: Como Nasceu e Quem Assassinou a Fluminense FM”
(Luiz Antônio Mello)
“Niterói
Rock Underground: 1990-2010” (Pedro de Luna)
Peço
licença pra enfiar um doc. na lista, tudo bem?
“Fanzineiros
do Século Passado – Volumes I, II e III” (Marcio Sno)
- Os três números são incríveis! Vale muito a pena!
por:
Gilson Fox
Originalmente
publicado no blog xContrapondox,
de Gilson Fox.
Conheça o blog.
foto:
Latitude Zero Prod.
Contatos
com Rafael A., FMZ, Latitude Zero Prod... no link.
Nenhum comentário:
Postar um comentário