quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O tal artigo de fim de ano...



Admitindo que ser chato é, definitivamente, um dom, e que você que acompanha o FMZ já está mais que acostumado com o mau humor do editor deste fanzine (no caso, Eu) em épocas de histeria coletiva (finais de ano, carnaval e blá blá blá...), vamos ao tal texto de final de ano. Não, nada de listas, melhores, piores, destaques e apostas para o ano que se descortina bem diante de nossos olhos. Já tem muito disso por aí. E venhamos e convenhamos.... é só uma troca de calendário na parede e um gasto a mais (agenda nova..) na papelaria. Viram? Ser chato é realmente um dom.

Ok, a humanidade embarcou mesmo nessa coisa de dividir sua existência em anos, décadas, ciclos e gestões. Logo, melhor resumir este período que se encerra sob a ótica deste fanzine antes que a paciência (a minha e a sua, caro leitor) acabe com os imbecis lá fora disparando fogos, rojões e afins.... o pior é que foi bom (ou algo próximo disso)... ou produtivo, cada um classifica como quiser...

Seja por conta das redes sociais, de mais um governo do PT, dos ministros da Dilma, resumos do ano via Facebook, aumento no preço do cigarro e da cerveja, ou qualquer outro aspecto (relevante ou não), nunca se identificou com tanta clareza, em nosso “mundinho underground”, uma necessidade tão grande de apontar o dedo, desmascarar, convencer, estar acima ou sair como dono da verdade ou seja lá o que for. A boa e velha (in)capacidade de distinguir “posicionamento” de “reflexão e questionamento” (fundamentais, sempre).

A citada rede social evidenciou aspectos, até certo ponto, assustadores num meio libertário “por natureza”. Não que um dicionário (e um livro de história) não fizesse bem a boa parte dos sensores espalhados por aí... Como disse Humberto Gessinger: “Muito Zorro, nenhum Sargento Garcia! Francamente...” O que não apaga o fato de que posturas claramente conservadoras, em todos os aspectos, ganharam eco em parte do público. E, sim, isso é assustador.

Uma pena. Este velho chato aqui aprendeu, justamente com o tal do Punk Rock/Hardcore, que diferenças podem ser toleradas. E que não se chega a conclusão alguma gritando ou ameaçando. Se há inimigos, estes são o Estado (que deveria trabalhar/funcionar pra nós, o povo, e não o faz); a classe política (que lucra e se mantém promovendo miséria e ignorância), quem explora e quem discrimina. Mas enfim, tô velho...

Ódio e preconceito no “mundinho underground”??? Sempre estiveram lá. Na mesma roda de pogo, com a mesma camiseta de banda, do outro lado do balcão do bar... e até na mesma mesa que a gente. Só que camuflado, oculto, silencioso... De repente, tudo é exposto, escancarado, devidamente anunciado na sua timeline! E as justificativas não justificam coisa alguma. Não é caso de interpretação, e sim de compreensão (a falta que uma boa gramática faz...).

Mudando de assunto (ou quase): nossa cena underground Fluminense (Temos uma cena? Creio que sim...), apesar de apresentar um ou outro sintoma preocupante - como a escassez de público em alguns eventos de pequeno porte – aponta para um futuro próximo, digamos, animador (ou ao menos, que pode resultar em algo positivo). Bandas gravando, saindo pra tocar em outros Estados e espaços como Metallica Pub (é o nosso CBGB do lado de cá da poça, não tem jeito...hehe!) e o agradabilíssimo Subúrbio Alternativo, em Brás de Pina, resistem e botam no chinelo espaços de médio porte que, na maioria das vezes, se mostram inacessíveis para boa parte das bandas e pro bolso do público.

Insistimos: há uma sensível diferença entre “underground” e “mercado independente” ou “cena alternativa”... ou mesmo “show de róqui”! Uma penca de bandas gringas passando por aqui e festas alternativas/moderninhas pipocando não quer, necessariamente, dizer que o underground local é forte. Claro, se o público que lota casas de shows com ingressos a R$80, R$100... (ou até mais) e/ou “sacode o esqueleto na pista” se desse ao trabalho de frequentar locais onde a galera do underground tem, de fato, espaço, muita coisa seria diferente. Não pela obrigação de contribuir ou manter um circuito de espaços ou eventos de pequeno porte. Mas pelo simples fato de que se interessam por novas bandas, novas ideias, enfim.

Não, não tenho a pretensão de definir o que cada um deve fazer no seu final de semana, ou onde cada um vai gastar sua grana e curtir sua folga. Mas tem gente trabalhando (sem ter lucro algum, ou com um lucro mínimo) pra manter espaços para bandas, poetas e artistas diversos se apresentarem. Saraus, eventos dos mais variados, gente lançando livros, demos e por aí vai... Sim, temos uma cena underground rolando por aqui. E ela é exatamente da forma que você quiser que ela seja.

Nós (do verbo “ninguém faz nada sozinho”) aqui do FMZ/Latitude Zero Prod. temos nosso ideal de cena underground. E embora estejamos longe dele, entendemos que é preciso estar em atividade, pensando alternativas ou reformulando velhos projetos. Ficar parado não pode! A grana acaba indo toda pra cerveja...rsrsrs Em 2014, demos o ponta pé inicial em nosso FMZ Clash Radio, programa que vai ao ar toda semana via Rádio Baixada Fluminense! Ainda carece de alguns ajustes, mas vamos trabalhando! Teve aniversário do Inércia (foto), Jovem Fica Vivo...  Mantivemos a ideia de uma edição por mês de nosso Rock na Garagem, realizado no Metallica Pub (insisto: nosso CBGB!). Bandas lançaram demos, galera de longe e novas caras apareceram e nos brindaram com ótimos shows. Até aí, tudo lindo! A ideia é essa e o espaço é pra isso.

Mas, apesar da sensação de dever cumprido, fica um certo ressentimento pelo fato de que nem todos os artistas entenderem o espírito da coisa. Você (burro, tapado!!!) que tem banda e acredita que o público deve vir até você, que o otário produzindo um evento gratuito quer lucrar com seu “talento”; ou mesmo que o underground nada mais é que um “degrau” na caminhada para o sucesso... Faça um favor, fique longe de nosso Rock na Garagem. Você não entendeu absolutamente nada...

Nosso Sarau Feira Moderna deu um senhor gás e ânimo pra apostar em outros formatos, outras possibilidades! Poesia, artes plásticas, música... É tudo arte! E tem sim que misturar tudo! Sempre quisemos isso com o RG, mas é difícil de abrir a mente de uma parcela da galera. Ainda assim, duas edições, e o clima que rolou entre os participantes, foram suficientes pra empolgar a produção aqui! A terceira edição já está marcada (24/01 no Metallica Pub), e vem muito mais por aí! Queremos levar nosso Sarau para outras cidades, outros espaços, pro meio da rua, enfim! Participem! Interajam! Se conheçam e compartilhem experiências! Vale muito a pena! O espaço é de todos!

Tá longo demais isso... Sobre nosso eixo Niterói x São Gonçalo: nomes como Revoltos, Monster Trio, Válvula de Escape (e seu Re-Volta Rock!), Identidade Cultural, Leandro Ribeiro (e seu Encontro Musical), banda Frogslake e Yeah Yeah Night!, Chaos Fest e quem mais produz no Metallica Pub e, claro, o povo do Araribóia Rock, reforçam o sentimento de que tem gente fazendo e querendo fazer mais por nossa Região. Mas sem depender de ninguém, galera...! Ok, é obrigação do poder público fazer pelo cenário cultural. Mas se falamos de um universo de contracultura, temos de construí-lo por nós mesmos (sem favores, sem politicagem...). Façamos do nosso jeito, então. Como sempre foi: no braço, na raça. Os mais novos? Venham! Contestem! Façam! No que pudermos ajudar, estamos à disposição.

Tem FMZ impresso vindo aí. Nove anos de Rock na Garagem em março, sarau, shows, bandas, trocas, intercâmbios, enfim. Vamos nos ver por aí e tomar umas, se tudo der certo... Agradecimentos mais que especiais a todos que ao longo do ano participaram e fizeram a coisa andar, existir e resistir! Carlos Brunno (Sarau Solidões Coletivas), Nyger (Metallica Pub), DJ Terror (Subúrbio Alternativo), Adriano (ONG ComCausa – tem muito por vir com o Jovem Fica Vivo!!!), Macacos Me Mordam (Independente Rock), todos que participaram do Rock na Garagem (menos os idiotas), Sarau Feira Moderna, Rock Noel, artistas, bandas, produtores (os que respeitam e valorizam o cenário underground, apenas estes), eventos e espaços nos quais pude tocar com minhas bandas, novos e velhos amigos que vão aparecendo (e sumindo também) ao longo do caminho (insisto, é só aparecer, participar e fazer com que o meio seja exatamente como você imagina), enfim!

Obrigado por tudo! E não se esqueçam: é só uma troca de calendário, nada mais (sou chato...)! Até!

Rafael A.

foto: Feira Moderna Zine

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