A
discussão já vem de alguns bons anos. Desde de uma tentativa de
volta da saudosa Flu FM no começo dos anos dois mil e o fim
da Rádio Cidade (na época sob a batuta da Rede Rock -
leia-se 89FM) que se levantava a questão da falta de
emissoras de rádio voltadas para o público roqueiro no dial
carioca. Mais que isso, questionava-se o futuro do rádio. Este
que vos escreve, fã apaixonado do rádio (FM e AM, desde a
infância), se afastou um pouco do bom e velho amigo das madrugadas.
Salvo algumas raras exceções (basicamente a emissora de notícias
Band News Fluminense FM, no dial da antiga Maldita),
não havia muita coisa interessante a ser sintonizada...
E
não é que depois de um longo hiato o Rio de Janeiro voltou a contar
com rádios Rock em seu dial? Isso mesmo, duas rádios
voltadas para o segmento Rock de uma só vez! E antes de
qualquer consideração a respeito da chegada da Kiss FM e a
volta da Rádio Cidade, é bacana deixar claro o seguinte: sob
qualquer ótica, é bacana ter Rock rolando no rádio.
Independente de vertente, é importante para o Rio de Janeiro dispor
de opções não só para amantes do rádio (e do Rock, de uma
forma geral), mas para o ouvinte desavisado, o 'não iniciado',
enfim. Qualquer um que possa, mesmo sem querer, passeando pelo dial
dar de cara com guitarras cuspindo distorção, certo?
Difícil
definir quem veio primeiro. Se a chegada da Kiss
ao RJ teve alguma coisa a ver com a volta da Rádio
Cidade, ou o contrário.
Porém, a cerca de três semanas as redes sociais foram tomadas pela
notícia da volta da Cidade.
Já sem o slogan 'A Rádio
Rock', ficava claro que a
rádio operando nos 102.9FM
não tinha nenhuma ligação com a Rede
Rock. Claro, também, ficou
a decisão de voltar ao dial
com o mesmo conceito,
linguagem, enfim. Na verdade, até mesmo a programação (numa
primeira audição) pareceu ser muito semelhante ao que era
apresentado pela rádio até o momento em que a mesma encerrou
atividades, em meados dos 2000.
É
bem provável que (e talvez já esteja rolando) com o passar do tempo
a Cidade
inclua mais lançamentos e uma ou outra coisa mais, digamos,
alternativa, em sua programação. Mas, até o momento, o que tem
rolado em 102.9
é uma programação muito parecida (quase idêntica) ao que se podia
conferir na rádio antes de seu final. Uma programação basicamente
voltada para não iniciados, com ênfase em hits.
E sim, é uma porta de entrada razoável para novos fãs de Rock.
Fica
a dúvida: será que programas como o Cidade
do Rock lá dos 90`s,
com direito a RDP,
Angra
(foram apresentados ao grande público carioca pela Cidade,
diga-se de passagem), Pantera e outras coisas bem interessantes, e A
Vez do Brasil (voltado para
bandas independentes) se farão presentes na programação da rádio?
Os shows promovidos pela emissora também eram uma contribuição e
tanto, diga-se de passagem. Será que voltam com a mesma força? Ok,
a rádio mal voltou à ativa e já estou eu aqui cobrando uma penca
de coisas (e olha que nem era um ouvinte tão fiel assim da
rádio...). É esperar pra ver o que acontece...
Do
outro lado do dial,
em 91.9FM,
aparece a Kiss FM.
Na verdade, não é que apareceu assim, de repente, do nada. Em
alguns pontos do Rio já era possível sintonizar a rádio faz um
tempo. Porém, agora rola de forma oficial: a paulista Kiss
opera em terras cariocas! Uma rádio que surgiu voltada
exclusivamente para o Classic
Rock e que, com o passar do
tempo (e, creio eu, devido a questões comerciais) passou a 'abrir o
leque'. A Kiss FM
toca coisas novas? Sim. De artistas consagrados, mas toca. Óbvio,
estamos falando de uma rádio, essencialmente, de Classic
Rock.
Mas
justiça seja feita: que programação! Dependendo do horário em que
se sintoniza os 91.9FM
é certeza que, mais cedo ou mais tarde, vamos parar o que estamos
fazendo pra um: “Êita!
Olha o que os caras desenterraram!!!”
E ao menos pro público carioca, desde a saudosa Flu
FM que não dá pra ligar o
rádio e dar de cara com Siouxsie
& The Banshees, Zero,
Violeta de Outono,
Rainbow,
Made in Brazil,
New Model Army
e outros! Ou ligar o rádio num domingo à noite, ficar por dentro
das novidades do cenário Metal
e curtir uns clássicos ouvindo o renomado Backstage,
de Vitão Bonesso
(dava pra conferir na web, mas no rádio é muito mais legal)!!
Ambas
as emissoras tem um desafio e tanto pela frente. Na verdade, um
desafio do rádio de uma forma geral: promover a tal interatividade.
Hoje em dia, é fundamental estar em sintonia com o ouvinte. Mesmo o
mais alienado, perdido ou desinteressado, quer 'meter o bedelho'.
Concorrer, no que diz respeito à novidades, com a internet é
praticamente impossível. Logo, se fazer relevante é uma tarefa das
mais complicadas. Nesse sentido, a Kiss
FM se sai bem. Já que, em
sendo uma rádio voltada para clássicos, atende um publico mais
interessado em raridades, versões obscuras, lados B, enfim. Já a
Cidade,
notadamente mais 'atual' se vê diante da necessidade de alimentar o
ouvinte com novidades (principalmente as locais). Papel este,
cumprido integralmente pela web
nos dias de hoje.
E
como sobrevive uma rádio Rock?
Dá pra sonhar com o surgimento/volta de uma nova Fluminense
FM? Difícil... Os tais
interesses comerciais vão sempre existir. Logo, não sei até que
ponto vale a pena sonhar com uma rádio como foi a Maldita
nos anos oitenta (e comecinho dos noventa, quando tive a oportunidade
de acompanhar). Sendo que foram justamente questões comerciais que,
invariavelmente, batiam de frente com a postura da emissora
niteroiense, drenando forças e levando a mesma a encerrar
atividades. Aliás, vale a dica: leiam A
Onda Maldita – Como Nasceu e Quem Assassinou a Fluminense FM,
de Luiz Antonio Mello,
a mente por trás da Flu FM
clássica. Ótima leitura pra quem quer entender os desafios de uma
rádio Rock
pra valer (vai muito além de música), no mercado.
Um
pouco de saudosismo? Escrever sobre rádios Rock
me levou pra uma viagem no tempo. Quando citei, aí em cima, que não
era um 'ouvinte tão fiel assim' da Rádio
Cidade, o fiz pois durante
um bom pedaço dos anos noventa e (pelo que me lembro) comecinho dos
dois mil, minhas atenções no dial
estavam voltados para a extinta Imprensa
FM. Emissora que alugava
horários, logo, tinha uma programação que ia do religioso ao Hip
Hop (programa da Cufa
– Central Única das Favelas). E no meio dessa salada, duas das
minhas maiores influências, ao menos no que diz respeito à correr
atrás de novidades, raridades, experimentações e maluquices de
todo tipo: Ronca Ronca,
do fotógrafo e DJ
Maurício Valadares
e EP Vanguarda.
Ambos foram importantíssimos pro cenário alternativo carioca na
época. Rolaram outros programas de Rock na mesma Imprensa
FM nessa época, mas esses
dois foram os que tiveram, talvez, mais longevidade e me marcaram de
forma definitiva. O que, aliás, me lembra que tenho caixas com
gravações desses programas em k7...
estão em algum lugar por aqui....
Voltando
pros dias atuais! A presidente Dilma
Rousseff assinou em
novembro do ano passado decreto que autoriza a migração das
emissoras de rádio AM para o FM. Ou seja, aumentam as chances de
novas rádios, ou que novas propostas de programação surjam no
dial.
Tanto emissoras de grande porte, quanto rádios menores, de cidades
do interior estão autorizadas a migrarem para o FM. Ponto pras
rádios, que ganham em qualidade de transmissão e, claro, tem a
chance de crescer comercialmente. E a troca do AM pro FM já acontece
este ano! Aliás, a citada rádio Fluminense opera hoje em 540AM.
Com a migração, quem sabe não tenhamos a Flu
FM, se não igual, ao
menos parecida com a Maldita
de outras épocas?
Insisto
que uma rádio, pra ser Rock,
tem de ter Rock
em seu DNA. Muito além de sua programação, o que conquista
ouvintes e amantes de Rock
(e, consequentemente, underground,
contracultura e por aí vai...) é a postura, a linguagem, o
discurso, a informação a ser difundida (e como difundi-la). E claro
(voltando ao universo musical), estar atenta não só aos clássicos
que precisam se apresentados às novas gerações, mas também às
novidades que, hoje, pipocam freneticamente por aí (na web).
E sem esquecer da interatividade, fundamental em nossos tempos.
Aliás, é necessário uma atenção toda especial às novidades que
estão em nosso quintal, debaixo de nossos narizes! Quem conseguir
aliar todos esses quesitos aos tais interesses comerciais, no meu
ponto de vista, se firma como 'a rádio Rock
carioca' (ou em qualquer outro lugar) e terá, indiscutivelmente, um
público e tanto a ser explorado: da coroada com saudades da Maldita,
à garotada que está chegando agora.
De
qualquer forma, o momento já é bom (eu e meu otimismo quase
forçado...hehe).
Rádios comerciais (assim como qualquer mídia de massa) sempre
tiveram um alcance muito superior ao que qualquer veículo
alternativo jamais terá. Porém, a imprensa alternativa tem a seu
favor a proximidade com o público. É invariavelmente tocada por
quem é envolvido com o meio para o qual é direcionada, logo, está
sempre em dia com mudanças e novidades de seu respectivo cenário.
Mas sem a gestão profissional da grande mídia... Talvez, a Maldita
tenha sido o único veículo carioca (e brasileiro) que soube ser
mainstream e underground
ao mesmo tempo. E, muito provavelmente, foi exatamente isso que a
matou... Os tempos são outros, mas alguns desafios permanecem à
espera de quem os supere.
Rafael
A.
Conheça
a Kiss FM
Conheça
a Rádio Cidade FM
Mais
sobre o livro A Onda Maldita– Como Nasceu e Quem Assassinou a Fluminense FM
Um comentário:
Cara, me espanta que na era da web, com tanta informação facilmente disponível a um toque, com tantos sites de compartilhamento de musica e informação, o radio ainda seja uma ferramenta necessária e, mais: desejada. Mas, enfim, a ver o que vai rolar.
Abraço.
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