terça-feira, 27 de abril de 2010

Show: Viradão Carioca



Viradão Carioca
23, 24 e 25/04/10
Rio de Janeiro/RJ

O Viradão Carioca deste ano ganhou status de mega evento. Com uma estrutura nitidamente superior a edição do ano passado a ‘semana de cultura à moda carioca’ ganhou ampla divulgação graças à parceria com a Globo Rio e reforçou sua escalação com nomes de peso do cenário musical nacional. De fato, uma quantidade enorme de eventos e artistas se revezaram durante três dias de programação intensa em diversos pontos da cidade. Vamos tentar contar aqui um pouco do que de bom (ou nem tanto) aconteceu nesse último final de semana de ares culturais tomando conta da Cidade Maravilhosa.

Não anda fácil arrumar colaboradores dispostos a escrever e participar de um veículo independente como este fanzine (no caso aqui, a versão on line), sendo assim este que vos escreve se dispôs a se dividir em dois (ou três) e conferir o maior número de apresentações possíveis em pelo menos dois dos dias de Viradão Cultural. Devido a sérias restrições orçamentárias, só foi possível conferir atrações em palcos montados na área do Centro (mais fácil pra quem tem de atravessar a poça). Sinceramente, não esperava nada ‘do outro mundo’ ou coisa parecida, já que uma parte considerável das atrações escaladas eram nomes bastante populares entre o grande público. De qualquer forma, rolaram algumas surpresas.




Sábado (24/04/10)

Uma das surpresas foi a apresentação da paulista Mariana Aydar no palco montado na Cinelândia. A moça mostrou competência ao interpretar clássicos do Samba e outras canções de seu repertório. Muita gente pareceu conhecer o trabalho da cantora de traz pra frente e apesar de um show, em alguns momentos, morno o saldo foi positivo. Dali direto para a Praça XV! Era dia de show da baiana Pitty e óbvio, em pouco tempo tudo ali estaria completamente tomado pelo público. É bem verdade que já havia muita gente lá quando cheguei, mas não era para o show da roqueira baiana e sim para ver a carioca Sandra de Sá. Aliás, uma bela apresentação que superou até alguns problemas no som (ao menos para quem assistia). Banda afinada e um punhado de sucessos, como ‘Olhos Coloridos’, por exemplo, fizeram o povo fã de Black Music & afins se esbaldar. Em seguida foi a vez do conjunto feminino As Chicas. Confesso que não dei muita atenção para as meninas, mas os comentários ao final da apresentação eram dos melhores.

Em seguida, a atração mais esperada subia no palco para delírio das milhares de pessoas, em sua maioria adolescentes, que se espremiam na frente do palco pra conferir o desfile de hits de Pitty e sua banda. Ok, rolou a competência de sempre por parte da banda e de sua vocalista. Também é verdade que num dado momento o show se tronou cansativo, mas nada que uns dois ou três hits seguidos não resolvessem. ‘Na sua Estante’, ‘Memórias’ e a nova ‘Me Adora’ deixaram a galera na mão da roqueira e de sua banda. E ainda deu tempo de correr e conferir um trecho do show da Playmobille (legal...), no anfiteatro montado ao lado dos Arcos da Lapa. Aliás, o reduto boêmio nesta madrugada de sábado para domingo estava abarrotado de gente, de um jeito que eu não via fazia tempo. Bacana.




Domingo (25/04/10)

Dia de sol e calor no Rio de Janeiro! Este que vos escreve chegava a Praça XV para o último dia de Viradão Carioca sedento pelo show do Roupa Nova (um dos conjuntos musicais mais competentes que este país já viu, só músico absurdo, só ET), anunciado como primeira atração do dia. Nada feito... Nada de Roupa Nova na Praça XV. No lugar da banda, só o chatíssimo Serjão Lorozza... Falando sério: A banda que acompanha o sujeito mostra competência e o show é até bem montado. Mas o cara, como frontman, consegue pôr tudo a perder. Interpretações e presença de palco de gosto duvidoso fizeram desse primeiro show do dia uma experiência desagradável. O cara foi de O Rappa a Tim Maia, passando por Natiruts e o tal Funk Carioca... E bateu na trave em todas!!! Não convence.

Em seguida as coisas voltaram a seus lugares. No palco, Geraldo Azevedo desfilando competência e trazendo o público presente pra frente do palco pra cantar e dançar. Apesar da ótima banda que o acompanha, os melhores momentos ficaram por conta dos números de voz e violão. Destaque também para ‘Você se Lembra?’, bela canção que o cara levou com a banda e a galera cantando junto. Sequência bacana! Logo depois de Geraldo, foi a vez de Milton Nascimento! É impossível negar que ele e seu Clube da Esquina beberam muito na fonte do Rock Progressivo de Camel, Focus, Pink Floyd e outros. E foram esses climinhas e levadas ‘Prog’ que, na minha opinião ficaram como destaques da apresentação. Contando com uma banda de apoio excelente Milton não deixou os grandes sucessos de fora do set list e proporcionou momentos belíssimos onde a multidão entoava as canções do início ao fim junto com ele e sua banda. Ótimo show! Fechando, o sambista Diogo Nogueira surpreendeu com um bom show que agradou quem queria cair no samba. Bom, mas não me peçam pra sair sambando por aí, ok?


E no final das contas:

É impossível negar que o Viradão Carioca deste ano superou o do ano passado. Também é verdade que atrasos, mudanças de escalação e problemas técnicos acontecem em qualquer evento (de grande, médio ou pequeno porte). E sim, houveram problemas, falhas técnicas, erros de sonorização, problemas com relação a policiamento (ao menos no trajeto entre os palcos montados no Centro da cidade, eram poucas as viaturas no período da madrugada) e banheiros. Mas a idéia aqui não é desmerecer o evento que, admito, impressionou em muitos aspectos. Mesmo os citados atrasos, quando ocorreram, foram mínimos (ao menos nos palcos que pude conferir). Como disse, a idéia aqui não é criticar simplesmente por criticar. Mas algumas coisas podiam ser pensadas para as próximas edições. Por exemplo: a questão do transporte. Ao menos pra quem tinha de atravessar a poça de volta após os shows, a volta pra casa não foi lá das mais agradáveis.


A parte artística é outro ponto interessante: Ok, haviam atrações para os mais diferentes públicos. Os fãs de samba, pagode e outras vertentes da música popular tiveram diversas opções de shows em muitos pontos da cidade. O Rock e o Rap tiveram seus representantes ‘mainstream’ escalados e outras formas de expressão como teatro, dança e até música erudita tiveram seu espaço. Mas me soa estranho a falta de artistas independentes. É, estou puxando a sardinha pra roqueirada aqui. Se olharmos, por exemplo, a Virada Cultural de São Paulo veremos que artistas de postura mais radical como Racionais Mc’s, Cólera e outras bandas de Punk Rock e Hardcore tem seu espaço no evento. Algo como um reconhecimento, por parte do poder público, de que determinada vertente existe. Aqui no Rio soou diferente. Afinal, porque não escalar mais bandas ou artistas de estilos menos difundidos? Mais bandas de Rock independente, mais gente do Hip Hop e até do Funk (não gosto, mas existe, está aí, faz parte da vida cultural do povo da cidade e não há como negar isso).

Desanima concluir que, na visão dos que cuidam da cultura na cidade do Rio de Janeiro, o público jovem se resume a um determinado segmento, ou estereótipo. Senão vejamos: Era muito comum esbarrarmos com alguns tipinhos circulando pelos eventos: Universitários, moderninhos e descolados brotavam que nem mato. Todos fáceis de identificar. Não só pelo visual, mas pelo ar arrogante e a necessidade de exteriorizar uma pretensa ligação ou interesse pela cultura popular brasileira. São tipos cada vez mais comuns, principalmente no que diz respeito a classe universitária e criaturas afins. Esses tiveram uma penca de atrações para desfrutar. MPB moderninha (como a boa cantora Mariana Aydar), forró ‘pé-de-serra’ (como o da excelente banda Falamansa) e outros bons artistas que não tem culpa do público que atraem.

Mas será que os interesses musicais e artísticos do jovem carioca se resumem a somente isso? Não. Tem muita coisa sendo feita nos porões da Cidade governada pelo prefeito Eduardo Paes. E um evento com toda essa estrutura seria uma oportunidade perfeita para mostrarmos o que o artista independente carioca anda aprontando (no bom sentido). Ok, é só minha opinião. Sem contar que sempre defendi que o meio independente não deveria se apegar ou depender de nada nem ninguém pra se desenvolver. De qualquer forma, senti falta de muitas vertentes (não só do Rock, que fique claro) musicais que tem seus representantes em solo carioca, muitos deles reconhecidos internacionalmente. Fica pra próxima, né...? Será?!?

Rafael A.

Um comentário:

Fabio Riva disse...

Coé Bobó estive em dois dias do tal viradão inclusive te vi na sexta no terminal enquanto eu ia para o evento. Acho que o saldo foi bem positivo e se continuar assim tem de evoluir achei a estrutura boa com som de qualidade segurança e banheiros razoaveis e poucos atrasos pude conferir os shows do Manacá e cidade negra(sexta) e Marechal, Black Alien e D2(sabado) espero que no ano que vem tenham mais atrações como voc^citou...

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