sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Entrevista: D.O.A (Canadá) na íntegra!



Aí está a íntegra da entrevista que fizemos com os caras da banda canadense D.O.A, uma autêntica lenda viva do Punk Rock, em sua passagem pelo Brasil no final do ano passado. Os caras excurssionaram ao lado de nada mais nada menos que Olho Seco! E esse senhor show passou por terras cariocas! Rolou no Underground Cultural, nova casa de shows no Centro da Cidade. Não podíamos perder, né? Trocamos uma ideia com Joe “Shithead” Keithley (fundador, vocal e guitarra da banda) e Dan Yaremko (baixo). Ambos foram extremamente solícitos e simpáticos conosco todo o tempo. Tanto é que a entrevista acabou e partimos para um bar pros gringos comerem algo (você não imagina o que comer uma Coxinha em pé num balcão de bar provoca em canadenses – eles simplesmente adoraram, vai entender...) e tomar umas cervejas. Aliás, ganhamos uma porção de churrasco de alguém da lendária banda carioca Coquetel Molotov (Ok, uma grande honra pra esse fã aqui, mas eu queria ao menos lembrar como isso se deu...rsrsrsrs)!


O que vem a seguir é a íntegra do papo que batemos com os caras. A versão editada está no #16 do Feira Moderna Zine (versão impressa) que lançamos em janeiro. Sendo assim, vale frisar que demos uma 'ajeitada' no texto que tínhamos em mãos após a transcrição pra facilitar a leitura, ok? Em breve o audio da entrevista estará disponível para download em nossa página no Soundcloud, bem como trechos que filmamos que em breve serão disponibilizados em nosso canal no Youtube (já tem alguma coisa postada, dá um confere lá, ok?)!


Como o inglês deste que vos escreve não é dos melhores (definitivamente, não é) arregimentamos nosso colunista, produtor, colaborador e assessor para 'assuntos internacionais' Rodolfo Caravana que serviu não só como tradutor, mas conduziu e deu seu 'toque' ao bate papo que vem a seguir. Sendo assim, sempre que vocês verem FMZ_ONLINE, é o Rodolfo. Minhas intervenções, marcadas como Editor FMZ (Rafael A.) foram bem poucas (mesmo)! O que, dependendo da situação, é algo positivo. De qualquer forma, estão aí também! Vamos lá então!


FMZ_ONLINE: Bem, são as perguntas dele (apontando para o editor), então se você não gostar das perguntas, a culpa é dele!

Joe “Shithead” Keithley: Mas eu também não falo inglês muito bem, então ok.

Dan Yaremko: Bem, eu não consigo entender o que ele fala!


FMZ_ONLINE: Quais estão sendo suas impressões a respeito do Brasil? Alguma vez imaginaram que tocariam aqui?

JoeShitheadKeithley: Bem, eu quero tocar em todos os lugares do mundo. Quando você está envolvido com música, a sua curiosidade sempre leva ao melhor, essa é a razão pela qual você toca, em primeiro lugar. Então, ir à América do Sul, sim, sempre foi um sonho meu, e tem sido caótico, louco, um pouco o que a gente esperava e um pouco o que a gente não esperava.


FMZ_ONLINE: Como assim?

Joe: Bem, OK, eu sabia que São Paulo era grande, mas não que era tão grande, eu sabia que o Sul do Brasil era bem mais rural, mas quando estive foi meio decepcionante, porque parecia muito com Ohio, até que a gente chegasse perto do Rio, então começou a ficar... tudo bem, não uma floresta fechada, mas começando a ficar assim...


FMZ_ONLINE: Queria ir pra floresta?

Joe: Bem, eu me imaginava lutando com uma Anaconda, mas esse é um sonho diferente.


FMZ_ONLINE: certo, quando eu for ao Canadá vou tentar caçar um Alce então.

Joe: Hahaha... Eles são mais difíceis de matar do que você imagina. E você também vai encontrar a Polícia Montada...


FMZ_ONLINE: Deve ter um em cada esquina, hehe...

Joe: ... e vai transar com uma garota esquimó. Hahaha! Essas são as impressões do Canadá.


FMZ_ONLINE: Ao longo do tempo a D.O.A vem incorporando outros estilos como Reggae, Ska e Metal a seu som. Como essas influências vão aparecendo no trabalho da banda?

Joe: Sim. Cara, você tem que pegar tudo, musicalmente, no mundo, você tem que pegar quantas influências você conseguir. Às vezes você pode pegar muitas, talvez não sejam todas tão boas, ou sejam demais. Mas desde o início da minha formação, escutando Punk Rock nos velhos tempos, nós fazíamos shows onde tinha uma bandamundialnova, uma bandamundialexperimental, uma banda normal e uma banda de Punk Rock. E eu sempre achei que eram ótimos shows, que incorporavam esses tipos de música, e nós éramos muito camaradas uns com os outros. E no início, onde eu comecei, não tinha um Punk que não estivesse conectado a todos os outros. por 1985, 1986, tinha algumas bandas que levaram o som ao extremo, e nós estávamos conectados nesse som também. Eu acho que a música Pop está conectada ao Punk Rock também, porque é uma forma de estar conectado com o que está acontecendo no mundo. Tem gente que gosta da nossa música e também toca estilos diferentes.

Dan: Ele também fez Rap, hehe...

Joe: No álbum Let's Wreck The Party, de 1985, tinha uma música chamada Dance O' Death, que eu achei que era Punk, mas o Rap estava na moda, e todo mundo dizia que era Rap; Dee Dee Ramone, que na época estava tentando Rap também, como Dee Dee King; enfim, a grande rede de televisão, a MTV americana, falou que os melhores clipes de Rap do ano eram Dee Dee King e D.O.A! Foda-se a MTV!


FMZ_ONLINE: Essa é uma coisa que nós pessoalmente gostamos de fazer. Muitos estilos diferentes no mesmo show, e as pessoas se dando bem.

Joe: Sim, eu concordo totalmente. Você tem que espalhar, a criançada de hoje não entende, não é como bater cabeça, essa música veio de um monte de gente fazendo seu melhor pra criar ótimas músicas, isso leva anos e anos, eu mesmo vejo as raízes do Punk Rock, eu volto até o Jazz, dos anos 1940, 1950, o Country e o Western, e a contracultura dos 1960, e o Punk Rock aconteceu pelos 1980, tipo fim dos 1970, início dos 1980, e quando o Rap apareceu, agente pensou, ok, esse é o próximo passo depois do Punk, fez sentido pra gente, essa é uma cultura que está tendo problemas em se expressar... “sabe o que o Frank Sinatra costumava fazer quando via uma câmera assim?” (diz olhando pro editor filmando e finge dar um soco na cara dele)...sabe o que eu comprei? Uma camisa do Dirty Harry!” (diz olhando pro baixista, Dan)


FMZ_ONLINE: Do you feel Lucky, Punk? Você está com sorte, Punk?

Joe: Exato!


FMZ_ONLINE: A D.O.A começou no final dos anos setenta e é considerada um dos ícones do hardcore de todos os tempos. Como vocês encaram o surgimento de tantas novas vertentes no hardcore, umas mais extremas outras mais pop, desde o surgimento do estilo até aqui?

Joe: Sim, sim. É bem interessante, eu nunca imaginei que iríamos por esse caminho, e eu acho que o termo Hardcore, quando começou, nós vimos esse artigo numa revista, uma revista de São Francisco, de outubro de 1980, e dizia um novo termo na música, e é chamado de Hardcore. E tinha Dead Kennedys, Bob Fry, D.O.A, Circle Jerks, The Avengers, The Dils, Minor Threat, não tenho certeza, mas acho que mencionaram Bad Brains também, com certeza é uma grande influência, e eles disseram que é um novo som da Costa Lesta, da Califórnia até o Canadá. Isso era um ótimo guarda-chuva, mas nós não nos víamos, quero dizer, a ética do Hardcore era “seja sincero, seja honesto, e diga exatamente o que você pensa, e toque alto”. Que aquilo musicalmente ia chegar a algum lugar, quem poderia ter previsto isso?

Dan: Eu não!



FMZ_ONLINE: Você lançou um trabalhos solo (como álbum Beat Thrash, de 2002). Ainda pensa em gravar mais coisas fora da D.O.A?

Joe: Bem, os caras estão bem aqui, então eu não posso realmente dizer nada... hahahaha! Que surpresa!

Dan: Fala do Jazz.

Joe: A sim, um amigo meu, engenheiro de estúdio, que adora Jazz... Tirando Jazz, Country Music também me deixa bem curioso. Você tem que prestar atenção em pra quantas direções você vai ao mesmo tempo, você não pode se espalhar muito, tem que manter o foco e escolher o momento certo pra fazer alguma coisa. Um álbum de Jazz bem esquisito, seria uma coisa legal e que ninguém esperaria. Eu e meu amigo estamos falando sobre isso 30 anos, então obviamente não estamos ainda preparados pra fazer isso, hehe...


FMZ_ONLINE: Eu espero que algum dia seja lançado.

Joe: É, eu também espero.


FMZ_ONLINE: Ainda sobre seus projetos, você lançou um livro sobre sua experiência no cenário Punk Rock em 2003. Como foi a experiência de falar a seu público numa linguagem diferente da música? Tem planos para um outro livro?

Joe: Eu acabei de lançar o livro TALKACTION = ZERO, que é como que a história do D.O.A., com fotos, posters, esse tipo de coisa. E eu comecei um romance semificcional, sobre uma casa em que eu costumava morar, não escolhi o título ainda, espero lançá-lo no próximo ano.


FMZ_ONLINE: Mas como é a experiência de escrever, muito diferente da música?

Joe: Ahn, é quase realmente a mesma coisa, porque quando você faz um álbum pra uma banda, isso pra mim leva oito, nove meses; você escreve as músicas, a banda trabalha em cima delas, você faz umas demos, você faz as faixas e lança. Os livros que eu escrevi levaram por oito meses também, começa com uma ideia e você vai vendo qual é o desenrolar do livro, o fluxo que vai dando. Uns dias você escreve à beça, outros você tem de ir ao supermercado (ele falou assim mesmo, em portuguêsesses canadenses se importam mesmo com ou outros) e não tem tempo de mais nada.


Editor FMZ: Beer! (o baixista Dan volta de dentro do local do show com cervejas pra nós)


Joe: Não, ainda tem aqui, tá tranquilo. Tem um isopor branco gigante nos bastidores!

FMZ_ONLINE: Essa palavra ele sabe.

Editor FMZ: Beer!

Joe: Sabe, quando eu estava em turnê na Dinamarca, eles falaram que a palavra pra cerveja éuuuuu. Assim mesmo,uuuuu. você via de noite aqueles loiros tropeçando nas pernas, falandouuuuu,uuuuu, e você não sabia se o cara queria uma cerveja ou estava prestes a vomitar...


FMZ_ONLINE: Qual a opinião de vocês a respeito do cenário Punk/Hardcore nos dias de hoje? Bandas novas, público, selos, enfim?

Joe: Eu acho que está indo OK, às vezes nem tanto, mas a gente tenta o máximo. Os selos estão tendo um momento muito difícil, as pessoas não compram tanto.


FMZ_ONLINE: A coisa toda está mudando, né?

Joe: Está mudando muito rápido, especialmente nos últimos cinco ou sete anos, e é claro que você tem que entrar na internet. Basicamente, eu falo pras bandas que o jeito que você tem que fazer é: toque em um milhão de shows, toque em todo lugar, e não importa como você está sendo pago, vai e toca, e se você for bom, você vai fazer fãs no mundo inteiro. Então uma chance e cai dentro e, quem sabe, se você der sorte, as vendas de álbuns podem aumentar nos shows que você fizer. Tem muitas bandas que vendem CDs, LPs, singles, nos shows pra tirar um trocado, mas não pra tirar muito dinheiro. E a gasolina não está ficando mais barata.


FMZ_ONLINE: É muito difícil por aqui as pessoas viverem das bandas, eles podem manter as próprias bandas, pagar uma tour, mas não pagar as contas em casa realmente.

Joe: É, você tem que ter um emprego, muitas vezes a música não dá. Tem um filme interessante que eu não vi mas ouvi falar recentemente, acho que o nome era Punk Rock Dad (N.E.: Muito bom, por sinal. Recomendamos!), tem acho que o Mike do NOFX, o cara do Pennywise, Lars do Rancid. Talvez não seja muito o caso deles, que são caras estabelecidos, mas eles têm crianças pra criar, é mais responsabilidade, e isso acaba sendo mais difícil ainda, pra um músico.


FMZ_ONLINE: O que o pessoal da banda tem ouvido ultimamente? Conhecem algo do cenário Punk brasileiro?

Joe: Bem, eu conheço Agrotóxico, eu vi eles uns dois anos atrás. Tentamos trazê-los pros EUA, quem sabe ano que vem. Olho Seco, esses caras são foda, têm uma ótima pegada. De resto, eu tenho que admitir que não conheço muito as bandas daqui.


FMZ_ONLINE: E pelo Canadá, EUA?

Joe: Eu escuto muito o pessoal de agora, tipo Black Sabbath, Willie Nelson, Donald James, tem esse cara novo aí, Paul Richard...

FMZ_ONLINE: a criançada, então.

Joe: a criançada. Na verdade eu escuto muita música, mas eu não estou correndo muito atrás de coisas novas por agora.


FMZ_ONLINE:Finalizando, deixem um recado para o público brasileiro!

Joe: Sabe, uma das coisas principais que o D.O.A. diz é: pense por si mesmo, seja seu próprio chefe, e tente afetar o mundo de uma forma positiva. FALAAÇÃO = ZERO.


FMZ_ONLINE: Essa é uma bela maneira de colocar isso.

Joe: Bem, obrigado. Cheers!


Uma penca de fotos do show e bastidores da passagem da D.O.A pelo Rio de Janeiro em nosso perfil do Facebook!


Por: Rafael A. & Rodolfo Caravana
Tradução e transcrição: Rodolfo Caravana
Redação final e texto (introdução): Rafael A.
Fotos: Rafael A.
Agradecimentos: Banda D.O.A, Deise Santos (Revoluta Produções) e Lou Morozini (Festival Do It Yourself)

Nenhum comentário:

Leia também: