Aí
está a íntegra da entrevista que fizemos com os caras da banda
canadense D.O.A, uma autêntica lenda viva do Punk Rock, em sua
passagem pelo Brasil no final do ano passado. Os caras excurssionaram
ao lado de nada mais nada menos que Olho Seco! E esse senhor show
passou por terras cariocas! Rolou no Underground Cultural, nova casa
de shows no Centro da Cidade. Não podíamos perder, né? Trocamos
uma ideia com Joe “Shithead” Keithley (fundador, vocal e
guitarra da banda) e Dan Yaremko (baixo). Ambos foram
extremamente solícitos e simpáticos conosco todo o tempo. Tanto é
que a entrevista acabou e partimos para um bar pros gringos comerem
algo (você não imagina o que comer uma Coxinha em pé num
balcão de bar provoca em canadenses – eles simplesmente adoraram,
vai entender...) e tomar umas cervejas. Aliás, ganhamos uma
porção de churrasco de alguém da lendária banda carioca Coquetel
Molotov (Ok, uma grande honra pra esse fã aqui, mas eu queria ao
menos lembrar como isso se deu...rsrsrsrs)!
O
que vem a seguir é a íntegra do papo que batemos com os caras. A
versão editada está no #16 do Feira Moderna Zine (versão
impressa) que lançamos em janeiro. Sendo assim, vale frisar que
demos uma 'ajeitada' no texto que tínhamos em mãos após a
transcrição pra facilitar a leitura, ok? Em breve o audio da
entrevista estará disponível para download em nossa página no
Soundcloud, bem como trechos que filmamos que em breve serão
disponibilizados em nosso canal no Youtube (já tem alguma
coisa postada, dá um confere lá, ok?)!
Como
o inglês deste que vos escreve não é dos melhores
(definitivamente, não é)
arregimentamos nosso colunista, produtor, colaborador e assessor para
'assuntos internacionais' Rodolfo Caravana que serviu
não só como tradutor, mas conduziu e deu seu 'toque' ao bate papo
que vem a seguir. Sendo assim, sempre que vocês verem FMZ_ONLINE, é
o Rodolfo. Minhas intervenções, marcadas como Editor FMZ (Rafael
A.) foram bem poucas (mesmo)! O que, dependendo da situação, é
algo positivo. De qualquer forma, estão aí também! Vamos lá
então!
FMZ_ONLINE:
Bem, são as perguntas dele (apontando para o
editor), então se você não gostar das perguntas, a
culpa é dele!
Joe
“Shithead” Keithley: Mas eu também não falo inglês muito
bem, então ok.
Dan
Yaremko: Bem, eu não consigo entender o que ele fala!
FMZ_ONLINE:
Quais estão
sendo suas
impressões a
respeito do
Brasil? Alguma
vez imaginaram
que tocariam
aqui?
Joe
“Shithead”
Keithley: Bem,
eu quero
tocar em
todos os
lugares do
mundo. Quando
você está
envolvido com
música, a
sua curiosidade
sempre leva
ao melhor,
essa é
a razão
pela qual você
toca, em
primeiro lugar.
Então, ir
à América
do Sul,
sim, sempre
foi um
sonho meu,
e tem
sido caótico,
louco, um
pouco o
que a
gente esperava
e um
pouco o
que a
gente não
esperava.
FMZ_ONLINE:
Como assim?
Joe:
Bem, OK,
eu sabia
que São
Paulo era
grande, mas
não que
era tão
grande, eu
sabia que
o Sul
do Brasil
era bem
mais rural,
mas quando
estive lá
foi meio
decepcionante, porque
parecia muito
com Ohio,
até que
a gente
chegasse perto
do Rio,
então começou
a ficar...
tudo bem,
não uma
floresta fechada,
mas começando
a ficar assim...
FMZ_ONLINE:
Queria ir
pra floresta?
Joe:
Bem, eu
me imaginava
lutando com
uma Anaconda,
mas esse
é um
sonho diferente.
FMZ_ONLINE:
Tá certo,
quando eu
for ao
Canadá vou
tentar caçar
um Alce
então.
Joe:
Hahaha... Eles
são mais
difíceis de
matar do
que você
imagina. E
você também
vai encontrar
a Polícia
Montada...
FMZ_ONLINE:
Deve ter
um em
cada esquina,
hehe...
Joe:
... e
vai transar
com uma
garota esquimó.
Hahaha! Essas
são as
impressões do
Canadá.
FMZ_ONLINE:
Ao longo
do tempo
a D.O.A
vem
incorporando
outros estilos
como Reggae,
Ska e
Metal a
seu som.
Como essas
influências
vão aparecendo
no trabalho
da banda?
Joe:
Sim. Cara,
você tem
que pegar
tudo, musicalmente,
no mundo,
você tem
que pegar
quantas influências
você conseguir.
Às vezes
você pode
pegar muitas,
talvez não
sejam todas tão boas, ou sejam demais.
Mas desde
o início
da minha
formação, escutando
Punk
Rock nos
velhos tempos,
nós fazíamos
shows onde
tinha uma
banda “mundial”
nova, uma
banda “mundial”
experimental, uma
banda normal
e uma
banda de
Punk Rock.
E eu
sempre achei
que eram
ótimos shows,
que incorporavam
esses tipos
de música,
e nós
éramos muito
camaradas uns
com os
outros. E
no início,
onde eu
comecei, não
tinha um
Punk
que não
estivesse conectado
a todos
os outros.
Lá por
1985, 1986,
tinha algumas
bandas que
levaram o
som ao
extremo, e
nós estávamos
conectados nesse
som também.
Eu acho
que a
música Pop
está conectada
ao Punk
Rock também,
porque é
uma forma
de estar
conectado com
o que
está acontecendo
no mundo.
Tem gente
que gosta
da nossa
música e
também toca
estilos diferentes.
Dan:
Ele também
já fez
Rap,
hehe...
Joe:
No álbum
Let's Wreck
The Party,
de 1985,
tinha uma
música chamada
“Dance
O' Death”,
que eu
achei que
era Punk,
mas o
Rap
estava na
moda, e
todo mundo
dizia que
era Rap;
Dee Dee
Ramone,
que na
época estava
tentando Rap
também, como
Dee Dee
King;
enfim, a
grande rede
de televisão,
a MTV
americana, falou
que os
melhores clipes
de Rap
do ano
eram Dee
Dee King
e D.O.A!
Foda-se a
MTV!
FMZ_ONLINE:
Essa é
uma coisa
que nós
pessoalmente gostamos
de fazer.
Muitos estilos
diferentes no
mesmo show,
e as
pessoas se
dando bem.
Joe:
Sim, eu
concordo totalmente.
Você tem
que espalhar,
a criançada
de hoje
não entende,
não é
como bater
cabeça, essa
música veio
de um
monte de
gente fazendo
seu melhor
pra criar
ótimas músicas,
isso leva
anos e
anos, eu
mesmo vejo
as raízes
do Punk
Rock, eu
volto até
o Jazz,
dos anos
1940, 1950,
o Country
e o
Western,
e a
contracultura dos
1960, e
aí o
Punk Rock aconteceu
lá pelos
1980, tipo
fim dos
1970, início
dos 1980,
e aí
quando o
Rap apareceu,
agente pensou,
ok,
esse é
o próximo
passo depois
do Punk,
fez sentido
pra gente,
essa é
uma cultura
que está
tendo problemas
em se
expressar... “sabe
o que
o Frank
Sinatra costumava
fazer quando
via uma
câmera assim?”
(diz olhando
pro editor
filmando e finge dar um soco na cara
dele)... “sabe
o que
eu comprei?
Uma camisa
do Dirty
Harry!”
(diz olhando pro baixista, Dan)
FMZ_ONLINE:
Do
you
feel
Lucky,
Punk?
Você está
com sorte,
Punk?
Joe:
Exato!
FMZ_ONLINE:
A D.O.A
começou no
final dos
anos setenta
e é
considerada um
dos ícones
do hardcore
de todos
os tempos.
Como vocês
encaram o
surgimento de
tantas novas
vertentes no
hardcore, umas
mais extremas
outras mais
pop, desde
o surgimento
do estilo
até aqui?
Joe:
Sim, sim.
É bem
interessante, eu
nunca imaginei
que iríamos
por esse
caminho, e
eu acho
que o
termo Hardcore,
quando começou,
nós vimos
esse artigo
numa revista,
uma revista
de São
Francisco, de
outubro de
1980, e
dizia “há
um novo
termo na
música, e
é chamado
de Hardcore”.
E tinha
Dead Kennedys,
Bob Fry,
D.O.A,
Circle Jerks,
The Avengers,
The Dils,
Minor Threat,
não tenho
certeza, mas
acho que
mencionaram Bad
Brains também,
com certeza
é uma
grande influência,
e eles
disseram que
é um
novo som
da Costa
Lesta, da
Califórnia até
o Canadá.
Isso era
um ótimo
guarda-chuva, mas
nós não
nos víamos,
quero dizer,
a ética
do Hardcore
era “seja
sincero, seja
honesto, e
diga exatamente
o que
você pensa,
e toque
alto”.
Que aquilo
musicalmente ia
chegar a
algum lugar,
quem poderia
ter previsto
isso?
Dan:
Eu não!
FMZ_ONLINE:
Você lançou
um trabalhos
solo (como
álbum Beat
Thrash, de
2002). Ainda
pensa em
gravar mais
coisas fora
da D.O.A?
Joe:
Bem, os
caras estão
bem aqui,
então eu
não posso
realmente dizer
nada... hahahaha!
Que surpresa!
Dan:
Fala do
Jazz.
Joe:
A sim,
um amigo
meu, engenheiro
de estúdio,
que adora
Jazz...
Tirando Jazz,
Country
Music também
me deixa
bem curioso.
Você tem
que prestar
atenção em
pra quantas direções
você vai
ao mesmo
tempo, você
não pode
se espalhar
muito, tem
que manter
o foco
e escolher
o momento
certo pra
fazer alguma
coisa. Um
álbum de
Jazz
bem esquisito,
seria uma
coisa legal
e que
ninguém esperaria.
Eu e
meu amigo
estamos falando
sobre isso
há 30
anos, então
obviamente não
estamos ainda
preparados pra
fazer isso,
hehe...
FMZ_ONLINE:
Eu espero
que algum
dia seja
lançado.
Joe:
É, eu
também espero.
FMZ_ONLINE:
Ainda sobre
seus projetos,
você lançou
um livro
sobre sua
experiência no
cenário Punk
Rock em
2003. Como
foi a
experiência de
falar a
seu público
numa linguagem
diferente da
música? Tem
planos para
um outro
livro?
Joe:
Eu acabei
de lançar
o livro
TALK – ACTION
= ZERO,
que é
como que
a história
do D.O.A.,
com fotos,
posters,
esse tipo
de coisa.
E eu
comecei um
romance semificcional,
sobre uma
casa em
que eu
costumava morar,
não escolhi
o título
ainda, espero
lançá-lo no
próximo ano.
FMZ_ONLINE:
Mas como
é a
experiência de
escrever, muito
diferente da
música?
Joe:
Ahn,
é quase
realmente a
mesma coisa,
porque quando
você faz
um álbum
pra uma
banda, isso
pra mim
leva oito,
nove meses;
você escreve
as músicas,
a banda
trabalha em
cima delas,
você faz
umas demos,
você faz
as faixas
e lança.
Os livros
que eu
escrevi levaram
aí por
oito meses
também, começa
com uma
ideia e
aí você
vai vendo
qual é
o desenrolar
do livro,
o fluxo
que vai
dando. Uns
dias você
escreve à
beça, outros
você tem
de ir ao
supermercado (ele
falou assim
mesmo, em
português –
esses
canadenses se
importam mesmo
com ou
outros)
e não
tem tempo
de mais
nada.
Editor
FMZ: Beer! (o baixista Dan
volta de dentro do local do show com cervejas pra nós)
Joe:
Não, ainda tem aqui, tá tranquilo. Tem um isopor branco gigante nos
bastidores!
FMZ_ONLINE:
Essa palavra ele sabe.
Editor
FMZ: Beer!
Joe:
Sabe, quando
eu estava
em turnê
na Dinamarca,
eles falaram
que a
palavra pra
cerveja é
“uuuuu”.
Assim mesmo,
“uuuuu”.
Aí você
via de
noite aqueles
loiros tropeçando
nas pernas,
falando “uuuuu”,
“uuuuu”,
e você
não sabia
se o
cara queria
uma cerveja
ou estava
prestes a
vomitar...
FMZ_ONLINE:
Qual a
opinião de
vocês a
respeito do
cenário
Punk/Hardcore
nos dias
de hoje?
Bandas novas,
público,
selos, enfim?
Joe:
Eu acho
que está
indo OK,
às vezes
nem tanto,
mas a
gente tenta
o máximo.
Os selos
estão tendo
um momento
muito difícil,
as pessoas
não compram
tanto.
FMZ_ONLINE:
A coisa
toda está
mudando, né?
Joe:
Está mudando
muito rápido,
especialmente nos
últimos cinco
ou sete
anos, e
é claro
que você
tem que
entrar na
internet.
Basicamente, eu
falo pras
bandas que
o jeito
que você
tem que
fazer é:
toque em
um milhão
de shows,
toque em
todo lugar,
e não
importa como você
está sendo
pago, só
vai e
toca, e
se você
for bom,
você vai
fazer fãs
no mundo
inteiro. Então
dê uma
chance e
cai dentro
e, quem
sabe, se
você der
sorte, as
vendas de
álbuns podem
aumentar nos
shows que
você fizer.
Tem muitas
bandas que
vendem CDs,
LPs,
singles,
nos shows
pra tirar
um trocado,
mas não
dá pra
tirar muito
dinheiro. E
a gasolina
não está
ficando mais
barata.
FMZ_ONLINE:
É muito
difícil por
aqui as
pessoas viverem
das bandas,
eles podem
manter as
próprias bandas,
pagar uma
tour,
mas não
pagar as
contas em
casa realmente.
Joe:
É, você
tem que
ter um
emprego, muitas
vezes só
a música
não dá.
Tem um
filme interessante
que eu
não vi
mas ouvi
falar recentemente,
acho que
o nome
era Punk
Rock Dad
(N.E.:
Muito bom, por sinal. Recomendamos!),
tem acho
que o
Mike do
NOFX,
o cara
do Pennywise,
Lars do
Rancid.
Talvez não
seja muito
o caso
deles, já
que são
caras estabelecidos,
mas eles
têm crianças
pra criar,
é mais
responsabilidade, e
isso acaba
sendo mais
difícil ainda,
pra um
músico.
FMZ_ONLINE:
O que
o pessoal
da banda
tem ouvido
ultimamente?
Conhecem algo
do cenário
Punk
brasileiro?
Joe:
Bem, eu
conheço Agrotóxico,
eu vi
eles há
uns dois
anos atrás.
Tentamos trazê-los
pros EUA,
quem sabe
ano que
vem. Olho
Seco,
esses caras
são foda,
têm uma
ótima pegada.
De resto,
eu tenho
que admitir
que não
conheço muito
as bandas
daqui.
FMZ_ONLINE:
E pelo
Canadá, EUA?
Joe:
Eu escuto
muito o
pessoal de
agora, tipo
Black Sabbath,
Willie Nelson,
Donald James,
tem esse
cara novo
aí, Paul
Richard...
FMZ_ONLINE:
Só a
criançada, então.
Joe:
Só a
criançada. Na
verdade eu
escuto muita
música, mas
eu não
estou correndo
muito atrás
de coisas
novas por
agora.
FMZ_ONLINE:Finalizando,
deixem um
recado para
o público
brasileiro!
Joe:
Sabe, uma
das coisas
principais que
o D.O.A.
diz é:
pense por
si mesmo,
seja seu
próprio chefe,
e tente
afetar o
mundo de
uma forma
positiva. FALA
– AÇÃO =
ZERO.
FMZ_ONLINE:
Essa é
uma bela
maneira de
colocar isso.
Joe:
Bem, obrigado.
Cheers!
Uma penca de fotos do show e bastidores da passagem da D.O.A pelo Rio de Janeiro em nosso perfil do Facebook!
Por:
Rafael A. & Rodolfo Caravana
Tradução
e transcrição: Rodolfo Caravana
Redação
final e texto (introdução): Rafael A.
Fotos:
Rafael A.
Agradecimentos:
Banda D.O.A, Deise Santos (Revoluta Produções) e Lou Morozini
(Festival Do It Yourself)
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