domingo, 15 de julho de 2012

Entrevista : Green Gay (Uruguai)



Essa galera surgiu como uma grata surpresa, em sua primeira visita ao Brasil. Passaram mais de um mês viajando e fazendo shows em território brasileiro. Como eles mesmos dizem, “estamos aqui no Brasil fazendo barulho em tudo quanto é boteco que cruze nosso caminho”! Numa noite de sábado, antes de se apresentarem no Bar do Bigode, na clássica Rua Ceará, deram um 'pulo' no Metallica Pub, em São Gonçalo! E foi lá que o FMZ conheceu a Green Gay. Fizeram um belo show e, ao final, saíram distribuindo seu primeiro CD, Roba Corazones! Pois bem, impossível não querer saber mais sobre uma banda dessas, certo? Pois aí está! Nesse papo que trocamos via e-mail com a batera Camilly Boop (na época, ainda na tour brasileira, na estrada entre uma cidade e outra) descobrimos mais sobre a história da banda, que se confunde com a própria história do Punk Rock uruguaio. Ex integrantes de bandas importantes para a cena de seu país, esse power trio tem muito a dizer e não faz por menos: arregaça as mangas e coloca a mão na massa! Bem ao estilo do it yourself, abrindo mão de muitas coisas por sua banda e a cena de seu país! Adoraram o Brasil e consideraram a cena daqui um exemplo. Mal sabem eles mas, ao longo desse papo, descobrimos que eles sim, são exemplos pra muita gente daqui. Vale a pena conferir:


FMZ_ONLINE: Queria que vocês começassem falando do que acharam dos shows no Brasil, da tour, de nosso país, enfim.

Camilly Boop: Na verdade, pensamos que no Brasil só existia Samba e Pagode... hehehe! Infelizmente no Uruguai não chega quase nada do Brasil.... Sabíamos apenas de Ratos de Porão, Sepultura, Raimundos e 88 Não!....hehehe! Pensávamos que não havia muito de cena Rock.... mas graças ao pessoal do 88 Não! pudemos montar a tour. Sinceramente estamos muito surpresos com a hospitalidade e humildade que as pessoas têm aqui, todo mundo abre sua casa, dando-lhe a mão com o que pode ... No Uruguai, para que alguém faça um show, ou tem que pagar pelo espaço, ou você tem que ter um amigo que organize tudo... ou passar muita vaselina no rabo... rsrsrs! Sem dúvidas, posso te dizer que o Brasil tem a cena Punk mais incrível que já vi ... Vocês devem se sentir orgulhosos da sorte tem.


FMZ_ONLINE: Agora sobre o começo da Green Gay: Como vocês se conheceram e como surgiu a ideia de formar a banda?

Camilly Boop: Nos conhecemos através das bandas que tínhamos antes da Green Gay .... todos tocávamos em bandas diferente que acabaram encerrando atividades. E já havíamos tocado juntos em alguma festa. Daí surgiu a ideia de nos reunirmos para tocarmos juntos, só com a intenção de nos divertirmos.


FMZ_ONLINE: Inevitável não fazer essa: O nome Green Gay ainda causa muita confusão por aí? Tem gente que não percebe que se trata de uma piada, uma brincadeira?

Camilly Boop: Na verdade o nome não tem nada de piada ou brincadeira....a confusão só surge dentro de um coração cheio de preconceitos....hahahaha!!!! A ideia do nome surgiu tomando como base que no Uruguai existem rótulos para classificar os diversos tipos de Punk Rock ....Usa-se Hardcore Melodico para definir o som da California, NOFX, Offspring, etc... Punk Espanhol para o som de bandas do País Basco, Catalunha ou da Espanha como La Polla Records, El Último Que Zierre, etc.... Punk 77 para as bandas inglesas como Sex Pistols, The Clash e Punk Gay o Punk Rock tipo Ramones, Green Day, The Queers, Attaque 77, etc... E como nossa música soa Punk Gay., fizemos um jogo de palavras com Green Day (a banda mais importante do Punk Gay) e chegamos a Green Gay. Graças a Deus, com o rótulo Gay, nos livramos de todo público facista e das pessoas com preconceitos... hahahaha (não nos interessa esse tipo de pessoas em nossos shows)... Somos Punks e lutamos pela igualdade de gênero, seja mulher, homem, travesti ou marciano... Todos somos iguales!!!!


FMZ_ONLINE: Agora falando de música: é claro que Ramones, e outras bandas clássicas, são influências para a maioria das bandas de Punk Rock. Mas eu queria saber das bandas uruguaias! Quais são os nomes do Punk Rock, ou do Rock de uma forma geral que influenciaram a Green Gay?

Camilly Boop: Quando formamos Green Gay, a pouco mais de um ano, a idéia principal era somente reunir os três integrantes e tocar um pouco, o que saísse nos ensaios. Já que nós três éramos integrantes de bandas que, de alguma forma, eram importantes na cena uruguaia: El Ultimo de Los Ramones, Las Hijas Del Rigor e Las Barbies The Kitty. O que aconteceu foi que decidimos fazer uma gravação das canções que havíamos composto. E quando essa demo com doze canções caiu na web a resposta do público foi tão grande que quando vimos tínhamos uma tour de quarenta dias pelo Chile. Depois fomos viajar pelo Uruguai e não havia forma de parar o motor de nossa van...hahaha! Faz um ano que estamos viajando pela América do Sul, estivemos três meses na Argentina, agora faz um mês que estamos aqui no Brasil fazendo barulho em tudo quanto é boteco que cruze nosso caminho e conhecendo bandas, que estão nos ajudando por aqui.


FMZ_ONLINE: E com relação às novas bandas de seu país, quais são os destaques, ou quem vocês indicam pra quem quiser conhecer mais sobre o Rock uruguaio?

Camilly Boop: O Punk Rock uruguaio está preso ao que era a vinte anos atrás. Infelizmente o músico uruguaio de Punk Rock, ironicamente, não quer que o Punk uruguaio cresça. Só aparecem quando vão tocar com suas bandas, o que faz com que a cena seja fraca. E não tem público. Fazem vinte anos que ouvimos as mesmas bandas locais no Uruguai. Essas mesmas bandas acabam sendo as únicas que tocam nos shows, sem abrir oportunidade para que novas bandas possam aparecer. Acaba acontecendo que, quando uma banda tem intenção de fazer um trabalho sério, termina migrando para fora do Uruguai para poder crescer. Foi o que aconteceu com bandas como Motossierra, Navegando Porca e assim por diante.




FMZ_ONLINE: Como é o cenário Punk Rock no Uruguai? Lugares para as bandas se apresentarem, rádios, o público?

Camilly Boop: É o que havia dito antes sobre o músico de Punk Rock no Uruguai... Existem muitas rádios comunitárias, muitas rádios on-line que dão oportunidade para novas bandas... Mas se você perguntar a um músico se ele conhece e ouve a Rádio Idependiente, ele diz que não. Então é como é como se não existe ... São estações de rádio que transmitem sua programação, e não é que não haja absolutamente ninguém ouvindo. Discordo totalmente disso. Porque o Punk não é apenas tocar guitarra e gritar, mas o conjunto de atividades ou fórmulas alternativas para lutar contra o sistema.

No Uruguai, por outro lado não há muitos lugares onde você pode fazer Punk Rock, as pessoas no Uruguai geralmente só se interessam por dançar Cumbia em casas noturnas (a Cumbia é o Forró uruguaio...hahaha). E aos clubes não interessam bandas tocando música que não faz as pessoas dançarem... hahaha! Para você ter uma idéia, a única banda Punk undergorund, em vinte e cinco anos de Punk Rock no Uruguai (o Punk só chegou no uruguai em 1985, pra ver o atraso em que vivemos) a fazer uma tour nacional sem nenhum tipo de patrocínio ou apoio à produção, nem político, nem nada foi a El Ultimo de Los Ramones, banda em que tocava nosso vocal e guitarra antes de entrar para a Green Gay.

As bandas no Uruguai são muito “Punks” no que diz respeito ao penteado e vestimenta. Mas quando o assunto é pôr a mão na massa e fazer algo de forma independente, sempre acabam dependendo das esmolas que os bares daqui oferecem. Os Punks daqui não tem voluntariedade nem gana de fazer shows de maneira independente e sempre terminam se resumindo a locais que já tem o equipamento, e com entrada franca. Para os uruguaios, ser Punk é ficar bebendo em uma esquina e fazer grafitis contra o sistema..hahaha! Não há noção de trabalho, de sacrifício... e ainda é muito dividido. Quando se tenta fazer algo aparece alguém pra boicotar, falando besteiras. Há muito ciúme e inveja, e isso não faz ninguém crescer. O dia que você entende que a cena só cresce unida, tudo fica melhor para todos.

Nós abandonamos nosso trabalho, nosso futuro, pelo Punk Rock, que é o que realmente interessa. E estamos lutando por isso, para fazer a cena a crescer. Sempre que fazemos algo pensamos em compartilhar com os outros para que a coisa se torne mais fácil para todos. Para que a cena cresça unida, como acontece aqui no Brasil. Que o público apoia e as pessoas ficam nos shows até o final. No Uruguai, as pessoas trazem seus amigos e, logo que terminam de tocar, pegam suas coisas e vão embora. Não se importam com quem vai tocar depois. O Brasil é um verdadeiro exemplo de sacrifício e luta pelo Punk. Realmente nos surpreendeu.


FMZ_ONLINE: Vocês lançaram o CD Roba Corazones e fizeram essa tour pelo Brasil. E o que vem pela frente? Já há planos de um próximo trabalho, futuras turnês?

Camilly Boop: O CD Roba Corazones nós gravamos em um final de semana, sem muita produção. Era pra ser apenas o registro de algumas cançòes que haviam sido compostas por uns amigos que se reuniram pra tocar..hahaha! Agora os planossão lançar um segundo CD, que estamos calculando que saia em agosto. Para esse disco estamos planejando algo mais sério. Pra nós, o segundo disco será como se fosse o primeiro da banda.

Quanto a tour, até meados de julho estamos pelo Brasil. Logo faremos uma mini-tour de dez shows em colégios públicos no Uruguai. Em seguida vamos a Argentina, em setembro temos Chile, outubro Paraguai e em novembro, se tudo der certo queremos volta a pisar em solo brasileiro e fazer uma tour que vá até Recife. Por enquanto a prioridade é que o motor da van não pare possamos continuar a visitar a América Latina. E levar nosso som a novos lugares, como se fosse um vírus contagiosos...rsrsrs!


FMZ_ONLINE: Bom, é isso. Obrigado pela atenção, pelo CD que ganhamos e pelo belo show que assistimos no Metallica Pub! O espaço é de vocês:

Camilly Boop: Para encerrar, gostaria de agradecer a todas as bandas e pessoas que nos ajudaram a montar a tour. Principalmente à 88 Não!, que foi quem nos deu a oportunidade de entrar no circuito under do Brasil. Esperamos revê-los no Brasil!


por: Rafael A.



Links:
Saiba mais sobre a banda na página dos caras no Facebbok.
Confira a resenha do show da Green Gay no Metallica Pub, em São Gonçalo/RJ.
Fotos do show da banda no Metallica Pub, em São Gonçalo/RJ.
Confira a resenha do CD Roba Corazones.

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