Entrevista: Inércia

Mês de julho é mês de festa aqui no Feira Moderna Zine e na Latitude Zero Prod.! A banda Inércia comemora quinze anos de atividades com show no Metallica Pub (São Gonçalo/RJ)! Mas é claro que, em sendo o editor aqui do FMZ guitarrista da banda, não pegaria muito bem deixar o cara entrevistar sua própria banda, certo? Sendo assim, convidamos nada mais nada menos que Fabio da Silva Barbosa, jornalista e lenda do cenário alternativo de Niterói (RJ) - hoje vivendo no Sul do país - pra trocar essa ideia com os caras! E aí está o papo do cara com o vocal João Luiz e o guitarra Rafael A.!

Latitude Zero Prod.

FMZ_ONLINE: Vamos começar pelo nascimento. Como foi o parto da Inércia?

João Luiz: Bom, acho que contei bastante como foi, mas a banda em si já estava formada, e precisava de um vocal que desse uma identidade ao som produzido, pois muitos não sabem, mas o primeiro vocalista soava meio Heavy, então foi descartado! Como já tinha conhecido o Miguel pessoalmente, num desses shows em que eu ia, comentei com ele sobre formar uma banda, ele comentou: “- É mas a parada é Punk!” E eu respondi: “- Cara, a minha veia é Punk, posso ouvir outros tipos de som, mas a minha raiz é Punk!” Então, depois de um tempo ele me liga e me apresenta o Thiago, que eu já conhecia de vista, ele me entrega algumas fitas, com músicas gravadas no violão pra eu escutar e depois de um tempo, estávamos no apartamento do Thiago nos primeiros ensaios do Inércia, muitas músicas também foram surgindo do nosso entrosamento, eu andava com um caderno com letras que eu escrevia, e entra um intervalo e outro rolava uma descontração de trocar os instrumentos, foi assim que surgiu "Proletário", "Não Muda

Nada", "Ordem e Progresso" e quando o Thiago também pegava as minhas letras e criava os arranjos em cima e assim surgiu uma de minhas músicas preferidas do Inércia, "Farsantes da Paz".

O Homem de Pedra eu conheci antes de pensar em tocar no Inércia, mas só nos vimos umas duas vezes, antes de um show de Blues em SG, no antigo S8 de Stª Catarina e no Circo Voador, com shows de várias bandas e Replicantes fechando a noite. Quando estávamos já na casa do Thiago, o tal baixista ainda não tinha conhecido. E aí, surge a figura pela porta e me olha meio surpreso também, com ar de quem diz: “- Eu já te conheço!” E bom, esse foi o começo de tudo! Muitos ensaios, gravamos uma "demo" antes mesmo do primeiro show, meio coisa de maluco mas saiu, e eu lembro que teve gente que comentou que soávamos melhor ao vivo, com isso foi um grande incentivo pra continuar até hoje, graças a esses caras que estão me acompanhando nesta nova versão.

FMZ_ONLINE: Depois de tantas formações e experiências, o que ficou e o que mudou na banda?

João Luiz: Ficou a saudade dos tempos com os antigos amigos, a gente se vê de vez em quando, mas só conversamos, quase rolou uma "Reunion" com a primeira formação, mas houve desistência, infelizmente! Logo após a saída do Thiago, chamamos o Charles do extinto Fogo Fátuo, rolou por um tempo e foi bem legal, ele até nos acompanhou para Juiz de Fora, num festival Punk organizado por uma camarada de lá, o Coyote. Depois entra o Bozo, que tem mais técnica nas pegadas Punk e HC, me ajudou muito a me superar como vocal, sentir melhor os acordes e ganhar mais confiança na hora de cantar (gritar). Depois de uma parada com a saída do Miguel, voltamos só em 2005, com Mini Kurt na batera e Zuzinha na guitarra, rolou até um segundo guitarra o Victor, foi um tempo em que o Zuzinha foi "saído" da banda, ele retorna e mantemos os dois revezando nas guitarras e as vezes o Zuzinha revezava nos vocais e eu ia tomar uma cerva só pra zoar mesmo, houve um lance em que o pessoal da banda ficou perguntando por mim no meio do show e eu saí de um canto e fiquei gritando também: “- Ô João! Cadê você? Vem cantar!” É, esse sou eu, meio que brincalhão também!!! Bom, agora nova formação, um grande incentivo dos amigos dessa formação e estamos aí, com bastante divulgação na net, saindo em matérias de jornais, bons shows, até abrimos pra uma das bandas pioneiras do Punk paulista, o DZK e é isso, estamos seguindo nossa estrada, fazendo nosso nome na história do Punk brasileiro.

Rafael A.: Cara, eu conheci a banda em 1999, se bem me lembro... Acho que o que fizemos de mais legal nessa nova fase da banda foi dar uma organizada na casa. Tipo, disponibilizar as demos pra galera poder baixar, criar perfil em Facebook, redes sociais, esses lances... É uma coisa que eu sei que o João já queria agitar faz um bom tempo, mas às vezes é difícil saber por onde começar. Sem contar que duas cabeças pensam melhor que uma! Enfim, são coisas que já deveriam ter sido feitas e agora estão andando. É importante pra galera saber que a banda tá na ativa. E dá uma fortalecida no cenário Punk Rock aqui da Região de uma forma geral.

FMZ_ONLINE: E na cena como um todo?

João Luiz: No underground em geral, espaços estão escassos, público está escasso. Cara, nem em shows de graça hoje em dia, dá um público pra lotar, talvez seja o tipo de som que a gente faz, mas prefiro isso e casa vazia do que tocar qualquer outra coisa. Mas, nem tudo está perdido, sempre tem um ou outro garoto Punk, que vão aos shows e ainda nem conheciam a gente e comentam, que o nosso show foi muito bom, isso eleva a moral pra banda se manter firme aos primórdios Punks, ver que mesmo em altos e baixos a cena se mantém, por isso a gente tem apostado nesse lance de tocar com bandas de outros estilos, diversificando o público e levando a conscientizar os jovens que não conhecem as letras que eu canto com vontade, porque eu acredito naquilo que canto!

Rafael A.: Algumas coisas, ao meu ver, nunca mudam (pro bem e por mal..rsrsrs). Por incrível que pareça, e mesmo com as facilidades das mídias digitais e tal, ainda tem uma galera que é fiel à correspondência, troca de materiais em shows e tudo o mais. Acho sensacional essa coisa de trabalhar com os 'dois formatos', virtual e físico. Acho que um pode completar o outro, enfim. Mas é claro que muita coisa mudou. Dá pra notar que boa parte da galera mais nova não encara a coisa da mesma forma que nós quando começamos no underground (ao menos pra mim, ainda é do mesmo jeito). Mas acho que as possibilidades só aumentaram. Saber aproveitar ou não, é que é o lance!

FMZ_ONLINE: No público as caras estão ficando diferentes ou ainda se encontram rostos avistados em antigas apresentações?

João Luiz: Hahaha...Nessa nova fase, tem sim! Um pouco de cada, velhos amigos e gente nova conhecendo a gente e como eu falei, elogiando. Isso é bastante positivo! Estive com o Thiago (ex-batera) e convidei ele pro show de 15 anos que estamos preparando, espero que ele, o Miguel, o Charles, o Bozo, o Mini, o Homem de Pedra e o Zuzinha apareçam, aí sim, vai ser uma verdadeira festa Punk!

Rafael A.: Na verdade acho cedo pra sacar esse tipo de coisa. Fizemos poucos shows nessa volta da banda. Mas dá pra ver que tem uma galera das antigas que ainda aparece em um show ou outro, e isso é muito bacana. Acho que com o passar do tempo, e fazendo mais show vamos conseguir ter uma noção maior da galera mais nova.

FMZ_ONLINE: Qual a programação para comemorar esses 15 anos?

João Luiz: Estaremos no Metallica Pub, já bem frequentado pela gente, convidamos algumas bandas que são foda no seu estilo, tipo o Sub-Atitude mais de 20 anos de estrada e vão estar por lá, o D.A.D que tem um dos fundadores do Metalmorphose, o pessoal do Orror, mandando muito Grind pra galera e o pessoal que também tem batalhado bastante em Itaboraí, mandando um Thrash Metal, como disse antes, bem diversificado. Estaremos com stands de zines, de vinis para vender, documentários nos DVDs e o Rafael e eu na discotecagem, preparamos só som Punk e afins, espero que a galera apareça em peso. Ah, e a novidade é que estaremos com batera novo, de novo! Trata-se do Alberto, outra grande figura do underground gonçalense. Esperamos vocês lá!

Rafael A.: Eu tô empolgadíssimo com a ideia de gravar coisas novas! Tem um lance que o João chegou a comentar comigo, e de repente nem ele lembra mais (rsrsrsrs), que é a ideia de fazer um clipe. Mesmo que seja algo simples, tipo demo clipe mesmo, é uma coisa que ajudar a divulgar a banda e o Inércia ainda não tem. Temos colhido algumas imagens em shows, devo começar a trabalhar nisso em breve!

FMZ_ONLINE: E o por vir? Depois da comemoração dos primeiros 15 anos já tem alguma novidade programada?

João Luiz: Bom, estamos querendo gravar material novo, mas vamos ensaiar bastante essa formação com o Alberto e quando estivermos 100%, entramos em estúdio, já chegamos na adolescência, então vamos ser prudentes também para gravar coisa nova, no mais correr atrás de shows pra continuarmos a divulgar o nosso nome e mostrar que estamos na ativa ainda, isso é o que importa no momento. E se não rolar dos antigos integrantes não aparecerem, a gente tenta programar um lance desse também, ainda nesse ano dos 15 anos, né? E vamos nos movimentando por aí, contrariando as leis da inércia!!! Abraços a todos!!!

Rafael A.: Particularmente, queria que viessem mais quinze anos! Já tive a oportunidade de fazer parte de algumas bandas e, em praticamente todas elas rolavam impedimentos. É o integrante tal que não quer tocar assim, aqui ou acolá. É o outro que vacila e decide que não vai fazer o show em cima da hora, ou não dá pra gravar por causa disso ou daquilo, enfim. Essas coisas atrapalham o desenvolvimento de qualquer trabalho, desanima, tira o tesão. Com o Inércia acredito que não teremos esse tipo de problema, Acho que encontramos uma formação que tem tudo pra durar um bom tempo. De minha parte, faria shows todo dia! O grande lance é você estar em contato com o cenário fazendo shows, levando seus materiais pros eventos, em outras cidades, enfim. Acho que é o que vem por aí na história do Inércia, muita ralação e shows em tudo quanto é buraco possível e imaginável!

por: Fabio da Silva Barbosa

Inércia no Undergorund Cultural (evento DZK in Rio):

Teaser show 15 anos: