por:
Rafael A.
Já
se vão mais de trinta anos desde que 'os darks de branco'
(assim chamou alguém da imprensa, na época) deram as caras no
cenário do BRock 80. Vindos de uma terra distante, estavam
'longe demais das capitais' (assim se chama seu primeiro álbum,
lançado em 1986) pra não causar espanto. Ou, ao menos, soarem meio
perdidos em meio a tantos nomes de Brasília, São Paulo e Rio de
Janeiro.
No
final das contas, só o Rock Gaúcho seria capaz de apresentar
ao Brasil uma banda como essa.
Garotos da Rua, De Falla, Os Replicantes (coisa
mais linda!), TNT... e Engenheiros do Hawaii! Esse era
o time do pau de sebo (chamavam assim na época, depois virou
coletânea... rs) Rock Grande do Sul (1985)! Assim a
banda de Humberto Gessinger (foto) aparecia para o
Brasil.
No
segundo álbum, assim como no álbum de estreia, vieram hits!
Mas não foi só isso. “A Revolta dos Dândis” (lançado
em 1987) trazia também o que viria a se tornar a formação clássica
dos Engenheiros do Hawaii. Gessinger (deixando a
guitarra e indo pro baixo e voz), Licks (espetacular
guitarrista) e Maltz (batera idem). GLM, assim ficou
conhecida. Anos mais tarde, a sigla viraria nome de disco, inclusive.
Foi
por essa época aí, que este que vos escreve teve o primeiro contato
com a obra de Humberto Gessinger. Primeiro num CD
coletânea do tipo “as melhores de..”, depois no citado
“GLM” (1992), depois de ouvir e ser devidamente
esbofeteado por “Ninguém = Ninguém”! A audição na
Transamérica FM me valeria não só mais uma banda pra
desvendar, descobrir, esmiuçar, mas apresentava ao, então, pré
adolescente aqui Kafka, Orwell e mais um monte de
gente!
Ah
sim! As citações! Niemeyer, Ferreira Gullar, Pink
Floyd, Sartre.. Uau!! O baixista e vocal Humberto
não viria a se tornar escritor, anos depois, à toa. O texto do cara
é incrível! Tão incrível quanto as viagens de álbuns como “O
Papa é Pop” (1990) e “Várias Variáveis” (1991),
favoritos deste que vos escreve junto com o disco azul (o GLM
que falei aí em cima). Discos com começo meio e fim. Citações,
músicas que reaparecem, volta pra cá, sai de lá e completa lá na
frente! Coisa de fã de Rock Progressivo, claro!
A
formação GLM se desfez (mas não sem antes deixar o
sensacional “Filmes de Guerra, Cançoes de Amor”, de 93). Veio o
(lindo) “Simples de Coração” (1995), o projeto Humberto
Gessinger Trio (1996) e outros álbuns dos Engenheiros do
Hawaii com formações que mudavam, mas, enfim... O cara, ele,
Humberto Gessinger, sempre esteve ali, lembrando a gente que,
de alguma forma, a obra dos Eng Haw continuava viva, se
transformando. Ah, claro: “Minuano” (1997), “Surfando
Karmas e DNA” (2002) e “Dançando no Campo Minado”
(2003) são discos que valem a pena serem ouvidos, hein?
Anos
mais tarde, em épocas de redes sociais, blogs e perfis,
reencontro o Sr.Humberto Gessinger, já devidamente de posse
de uma carreira de escritor e um trabalho solo e tanto! Ao lado de
Duka Leindecker, da ótima (e também gaúcha) banda Cidadão
Quem, Humberto se lança no formato power duo (assim
ele chamou) Pouca Vogal. Lindo de se ouvir! E a obra seguiu em
frente com “Insular” (2013) e “Louco Pra Ficar Legal”
(2016), agora sim, lançados como álbuns solo de Humberto
Gessinger. Mais belas canções...
Hoje,
com o advento das mídias digitais, plataformas e tudo o mais, fica
fácil perceber que o eterno líder dos Engenheiros do Hawaii,
além de letrista de primeira e escritor, é também um senhor multi
instrumentista! Uma série de twitcams (ainda se faz isso hoje
em dia?) revisitou todos os álbuns de sua antiga banda, há um
tempo. Mais que isso, serviu pra deixar muita gente de boca aberta,
com Gessinger tocando tudo quanto era instrumento!
E
mesmo as canções da época de Eng Haw, quando reaparecem em
sua carreira solo, surgem com nova roupagem. 'Variações de um mesmo
tema', formas e mais formas de contar uma 'história repetida'. E se
a história é boa...
Este
que vos escreve teve o prazer de assistir a shows dos Engenheiros
do Hawaii e Humberto Gessinger solo! Mas a formação GLM,
não deu tempo. Me atrasei, ou... vai saber, talvez nem tivesse idade
pra ir a um show se tivesse conhecido a banda antes. Mas ainda sou
capaz de me surpreender quando conheço alguém dez anos mais jovem,
que descobriu os Engenheiros do Hawaii nos últimos trabalhos
da banda. Ou conheceu primeiro o Humberto escritor, ou através
do Pouca Vogal, enfim...
Logo
mais, tem capítulo novo dessa história, que começou lá nos anos
1980, sendo escrito. Humberto Gessinger e sua banda (um trio,
dessa vez) celebram os trinta anos de “A Revolta Dos Dândis”!
Trinta anos de “Infinita Highway”, de “Os Guardas da
Fronteira”, “Terra de Gigantes” e “Desde Aquele
Dia”, que batizou a turnê que estreia hoje aqui no Rio de
Janeiro!
E
a turnê não vem só. O gaúcho traz na bagagem um novo compacto!
Isso, um vinil! Contendo três músicas e batizado de Desde Aquela
Noite, o novo trabalho de Gessinger traz três canções
compostas em parceria com outros artistas, que ainda não haviam sido
lançadas pelo músico. A saber: “Alexandria” (com Tiago
Iorc), “O que Você Faz a Noite” (com Dé, do
Barão Vermelho) e “Olhos Abertos” (com o Capital
Inicial). Tanto disco novo, quanto turnê, podem ser considerados
uma celebração. Uma celebração à longevidade de um artista, de
uma obra...
'
Uma
longevidade da qual só quem deixou a cartilha de lado poderia
desfrutar. O segredo, talvez, tenha sido ignorar as regrinhas, o
jeito certo, a hora certa de lançar um disco, o formato que uma
canção deve ter pra fazer sucesso... Como o próprio Humberto
disse, certa vez numa entrevista, ele nunca foi a bola da vez.
Olha... sorte nossa, Sr.Humberto Gessinger! Melhor alguém
“vindo de outros tempos, mas sempre no horário” que uma
“eternidade da semana”.
Serviço:
17
de março :: quinta-feira :: 22h
Humberto
Gessinger
Local:
Vivo Rio
End.
Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ
Ingressos:
R$100 a R$150 / Classificação: 18 anos. / Informações
foto:
Divulgação
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