sexta-feira, 17 de março de 2017

Artigo :: Desde Aquele Dia


por: Rafael A.

Já se vão mais de trinta anos desde que 'os darks de branco' (assim chamou alguém da imprensa, na época) deram as caras no cenário do BRock 80. Vindos de uma terra distante, estavam 'longe demais das capitais' (assim se chama seu primeiro álbum, lançado em 1986) pra não causar espanto. Ou, ao menos, soarem meio perdidos em meio a tantos nomes de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

No final das contas, só o Rock Gaúcho seria capaz de apresentar ao Brasil uma banda como essa. Garotos da Rua, De Falla, Os Replicantes (coisa mais linda!), TNT... e Engenheiros do Hawaii! Esse era o time do pau de sebo (chamavam assim na época, depois virou coletânea... rs) Rock Grande do Sul (1985)! Assim a banda de Humberto Gessinger (foto) aparecia para o Brasil.

No segundo álbum, assim como no álbum de estreia, vieram hits! Mas não foi só isso. “A Revolta dos Dândis” (lançado em 1987) trazia também o que viria a se tornar a formação clássica dos Engenheiros do Hawaii. Gessinger (deixando a guitarra e indo pro baixo e voz), Licks (espetacular guitarrista) e Maltz (batera idem). GLM, assim ficou conhecida. Anos mais tarde, a sigla viraria nome de disco, inclusive.

Foi por essa época aí, que este que vos escreve teve o primeiro contato com a obra de Humberto Gessinger. Primeiro num CD coletânea do tipo “as melhores de..”, depois no citado “GLM” (1992), depois de ouvir e ser devidamente esbofeteado por “Ninguém = Ninguém”! A audição na Transamérica FM me valeria não só mais uma banda pra desvendar, descobrir, esmiuçar, mas apresentava ao, então, pré adolescente aqui Kafka, Orwell e mais um monte de gente!

Ah sim! As citações! Niemeyer, Ferreira Gullar, Pink Floyd, Sartre.. Uau!! O baixista e vocal Humberto não viria a se tornar escritor, anos depois, à toa. O texto do cara é incrível! Tão incrível quanto as viagens de álbuns como “O Papa é Pop” (1990) e “Várias Variáveis” (1991), favoritos deste que vos escreve junto com o disco azul (o GLM que falei aí em cima). Discos com começo meio e fim. Citações, músicas que reaparecem, volta pra cá, sai de lá e completa lá na frente! Coisa de fã de Rock Progressivo, claro!

A formação GLM se desfez (mas não sem antes deixar o sensacional “Filmes de Guerra, Cançoes de Amor”, de 93). Veio o (lindo) “Simples de Coração” (1995), o projeto Humberto Gessinger Trio (1996) e outros álbuns dos Engenheiros do Hawaii com formações que mudavam, mas, enfim... O cara, ele, Humberto Gessinger, sempre esteve ali, lembrando a gente que, de alguma forma, a obra dos Eng Haw continuava viva, se transformando. Ah, claro: “Minuano” (1997), “Surfando Karmas e DNA” (2002) e “Dançando no Campo Minado” (2003) são discos que valem a pena serem ouvidos, hein?

Anos mais tarde, em épocas de redes sociais, blogs e perfis, reencontro o Sr.Humberto Gessinger, já devidamente de posse de uma carreira de escritor e um trabalho solo e tanto! Ao lado de Duka Leindecker, da ótima (e também gaúcha) banda Cidadão Quem, Humberto se lança no formato power duo (assim ele chamou) Pouca Vogal. Lindo de se ouvir! E a obra seguiu em frente com “Insular” (2013) e “Louco Pra Ficar Legal” (2016), agora sim, lançados como álbuns solo de Humberto Gessinger. Mais belas canções...

Hoje, com o advento das mídias digitais, plataformas e tudo o mais, fica fácil perceber que o eterno líder dos Engenheiros do Hawaii, além de letrista de primeira e escritor, é também um senhor multi instrumentista! Uma série de twitcams (ainda se faz isso hoje em dia?) revisitou todos os álbuns de sua antiga banda, há um tempo. Mais que isso, serviu pra deixar muita gente de boca aberta, com Gessinger tocando tudo quanto era instrumento!

E mesmo as canções da época de Eng Haw, quando reaparecem em sua carreira solo, surgem com nova roupagem. 'Variações de um mesmo tema', formas e mais formas de contar uma 'história repetida'. E se a história é boa...

Este que vos escreve teve o prazer de assistir a shows dos Engenheiros do Hawaii e Humberto Gessinger solo! Mas a formação GLM, não deu tempo. Me atrasei, ou... vai saber, talvez nem tivesse idade pra ir a um show se tivesse conhecido a banda antes. Mas ainda sou capaz de me surpreender quando conheço alguém dez anos mais jovem, que descobriu os Engenheiros do Hawaii nos últimos trabalhos da banda. Ou conheceu primeiro o Humberto escritor, ou através do Pouca Vogal, enfim...

Logo mais, tem capítulo novo dessa história, que começou lá nos anos 1980, sendo escrito. Humberto Gessinger e sua banda (um trio, dessa vez) celebram os trinta anos de “A Revolta Dos Dândis”! Trinta anos de “Infinita Highway”, de “Os Guardas da Fronteira”, “Terra de Gigantes” e “Desde Aquele Dia”, que batizou a turnê que estreia hoje aqui no Rio de Janeiro!

E a turnê não vem só. O gaúcho traz na bagagem um novo compacto! Isso, um vinil! Contendo três músicas e batizado de Desde Aquela Noite, o novo trabalho de Gessinger traz três canções compostas em parceria com outros artistas, que ainda não haviam sido lançadas pelo músico. A saber: “Alexandria” (com Tiago Iorc), “O que Você Faz a Noite” (com , do Barão Vermelho) e “Olhos Abertos” (com o Capital Inicial). Tanto disco novo, quanto turnê, podem ser considerados uma celebração. Uma celebração à longevidade de um artista, de uma obra...
'
Uma longevidade da qual só quem deixou a cartilha de lado poderia desfrutar. O segredo, talvez, tenha sido ignorar as regrinhas, o jeito certo, a hora certa de lançar um disco, o formato que uma canção deve ter pra fazer sucesso... Como o próprio Humberto disse, certa vez numa entrevista, ele nunca foi a bola da vez. Olha... sorte nossa, Sr.Humberto Gessinger! Melhor alguém “vindo de outros tempos, mas sempre no horário” que uma “eternidade da semana”.


Serviço:
17 de março :: quinta-feira :: 22h
Humberto Gessinger
Local: Vivo Rio
End. Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ
Ingressos: R$100 a R$150 / Classificação: 18 anos. / Informações

foto: Divulgação

Nenhum comentário:

Leia também: