domingo, 26 de março de 2017

Entrevista :: Xharles


por: Rafael A.

Já de volta com as entrevistas aqui em nosso FMZ, desde o começo do ano, é bacana trocar uma ideia com os amigos, certo? Sendo assim, fomos bater um papo com Xharles (o Xarles Xavier aí da foto, com nova grafia e tudo!), compositor gonçalense que durante anos figurou aqui neste espaço. Fosse participando como convidado em nossos eventos, ajudando a produzir (Rock na Garagem e Sarau Feira Moderna, por exemplo, não teriam saído do papel sem sua contribuição) ou no período em que fez parte de nossa Latitude Zero Prod. Dos tempos de banda Incrível Mart, passando pela carreira solo como Xarles Xavier, Projeto Mosquitos (ao lado deste que vos escreve) e por aí vai! Enfim, vamos saber como andam as coisas com esse velho amigo?


FMZ: Pra começar, uma que geralmente aparece mais pro final das entrevistas: o que você tem ouvido? Tem um monte de coisas acontecendo na música, tendências, vertentes que surgem, novos nomes... O que tem chamado sua atenção?

Xharles: É verdade, apesar de muita gente ter aquele pensamento de que não tem nada novo surgindo, de que a música tanto no Brasil quanto no mundo passa por um mau momento, na realidade é que se você procurar, e nem dá tanto trabalho assim, até pelas ferramentas disponíveis hoje com a internet e tal, você acha muita coisa legal que ta rolando por aí. Eu tenho ouvido muita coisa nova, la de fora tem o Royal Blood, Fleet Foxes, Alabama Shakes... Daqui eu destacaria o pessoal do O Terno, Far From Alaska, Céu, Negro Leo, Ava Rocha, Mahmundi, Boogarins, Tulipa Ruiz, Maglore, Daniel Rabujah, Cícero e por ai vai. Tem muito mais gente, se for falar todos faltaria espaço! Tem muita gente boa fazendo som de qualidade por aí. E de tudo quanto é tipo de som. Na minha lista tentei colocar gente de diferentes estilos, justamente pra mostrar a riqueza e a diversidade que existe.


FMZ: E das coisas mais novas, o que acaba virando influência? O que, de alguma forma, você sente que acaba sendo incorporado a seu som, suas composições?

Xharles: Na verdade, a gente nem sempre percebe o que acaba nos influenciando. Eu sinto que o quê de certa forma eu acabo absorvendo, e vendo algum reflexo no meu som, são coisas que assim como eu, tem uma referência de sons mais antigos. Uma galera que meio que bebe numas fontes de coisas que eu também ouvi, coisas de Folk , Pós-Punk, New Wave, Synthpop... Muita coisa dos anos 80 que ta meio que sendo sempre revisitado pelas novas gerações. E outros sons mais alternativos e tal, coisas como Empire of The Sun, The War on Drugs, Teegan and Sara, The XX. Aqui no Brasil tem o Jaloo, Alice Caymmi , Dani Black, Rubel...


FMZ: Duas em uma: Já te vi classificando sua música como Folk Rock. O que mais faz parte da sua música? E você consegue ver uma galera fazendo um som parecido com o seu? Consegue perceber um cenário do qual faz parte?

Xharles: Assim que a banda parou la em 2010 e eu comecei a tocar só com violão nos shows, senti a necessidade, meio que, de me redescobrir como músico e intérprete. Sentia que, agora sozinho, não dava mais pra tocar as músicas da mesma maneira que tocava com a banda. Eu queria encontrar a melhor maneira de interpretar essas canções, nesse formato acústico. Procurei privilegiar as harmonias, mas sem perder a visceralidade. Então, acabei me aproximando de uma sonoridade mais simples, do Folk. Mas ainda com uma pegada Rock. Mas mesmo antes na banda, e depois sozinho, já existiam outras referências no meu som: Música brasileira, Bossa Nova, Pós-Punk, New Wave, Synthpop, Rock Alternativo...

Eu passei boa parte da infância, e início da adolescência, ouvindo rádio e o que predominava era a música Pop e o Rock, e isso fez parte da minha formação. Coisas como Michael Jackson, Prince , Phill Colins, Madona e as bandas do Rock Brasil dos anos 80, entre outros! Só depois, já com uns 14 anos, comecei a pegar CDs e fitas k7 com uns amigos, com o que tava rolando nos anos 90. Nirvana e toda cena de Seattle, as bandas alternativas, as novas bandas nacionais, como Pato Fu, Nação Zumbi... Então essas coisas abriram minha mente de certa firma. Foi aí que descobri que queria fazer musica. Eu sempre procurei colocar outros tipos de elementos no meu som, justamente pra tentar sintetizar esse emaranhado de referências, que ao longo do tempo serviram pra construir minha própria identidade. Eu gosto de sempre estar experimentando, tentando fazer algo que me tire da minha zona de conforto.

Tem uma galera nova no Brasil fazendo um som fortemente influenciado pelo Folk e, em parte me identifico. Mas não sei dizer se fazemos parte de uma mesma cena, até porque eu procuro usar outros elementos no meu som, que fogem um pouco dessa estética. Eu gosto de, de certa forma, me associar a quem também procura experimentar e não fica preso à um único formato. Isso acabou se refletindo nas minhas apresentações. Quando eu acabei dividindo o palco e tocando com artistas de diversos estilos! De Punk, Metal, a MPB, Progressivo, Alternativo, etc... Nesse contexto, eu vejo mais como parte de um cenário formado por artistas e bandas que se diferem na sonoridade, mas que de certa forma se frequentam! Seja por tocarem juntos nos eventos, ou por trocarem sons pela própria web. O que, nos dois casos, pode acabar gerando novas parcerias e coisas do tipo, com um apoiando a acompanhando o trabalho do outro. Nesse sentido, eu me vejo num cenário com gente como A Batida Que O Seu Coração Pulou, o Café República, Jefferson Volve, Homobono, o Gilber T, a Old kitchen... e mais um monte de gente com quem dividi o palco ao longo desse tempo que venho tocando sozinho.

Mesmo não tendo tocado com alguns desses que citei acima, sinto que estamos num mesmo cenário. Seja por estarmos sempre trocando algum tipo de informação, nos apoiando, frequentando os shows uns dos outros e, em outros casos, até trabalhando juntos, como o Gilber T, por exemplo, que está dando uma moral e ajudando na produção do meu primeiro single.

FMZ: Mudando de assunto: você está em estúdio. Tem gravado materiais com galeras diferentes... Em que pé estão essas novidades? Como pretende lançar esses materiais novos? Serão singles, um EP, vão rolar vídeos, enfim?

Xharles: Eu comecei a gravar no fim do ano passado, como você mesmo disse, com uma galera diferente. A princípio, eu planejei lançar quatro singles, um em cada estação do ano, mas não deve dar pra rolar assim. O mais provável é que rolem dois ou três apenas. De, ao menos, um vai rolar vídeo sim. Espero que até o fim do primeiro semestre, ou início do segundo já esteja pintando por aí, e ai sim pro fim do ano pretendo começar a pensar num EP.


FMZ: Ainda sobre lançamentos, essas coisas. Mesmo com todas as facilidades da tecnologia, ainda me parece dificílimo lançar um artista, ou uma música, com um material de qualidade, profissional mesmo. Gravação, filmagens... Claro, é bem menos complicado que em décadas anteriores, mas, está tudo tao acessível assim? Só não aparece quem não quer?

Xharles: Hoje, com certeza, é mais fácil produzir. Tanto áudio, quanto vídeo, com uma qualidade bacana, do que era ha dez, quinze anos atrás. Tem gente que consegue um resultado incrível gravando em casa mesmo. Não sei dizer se fica profissional pros padrões comercias e tal. Mas, com certeza, muitas vezes fica bem próximo e com um custo bem menor. Agora, se a pessoa não tiver condição de fazer dessa forma e for fazer da maneira tradicional, procurando um estúdio bacana pra conseguir uma gravação de áudio e vídeo, ainda assim da pra conseguir um preço legal, bem mais acessível do que era em outros tempos.

Principalmente, se a pessoa se cerca de amigos desse meio que trabalham com produção e músicos que tão dispostos a contribuir, as coisas ficam mais fáceis. Se não tem grana, camaradagem nesse meio é a alma do negócio. Agora, não sei dizer se isso significa que só não acontece quem não quer.. Isso de 'acontecer' envolve outros fatores que não apenas conseguir um áudio e vídeo bacana. Hoje em dia isso ja é quase um pré requisito pra se colocar em cena. Mas se vai acontecer, é outra história que eu não sei o que determina. Tem a ver com contratos, modismos, jabás, sorte e, principalmente, trabalho e investimento.


FMZ: Sem sair muito do tema...Produzimos coisas juntos, tocamos juntos em alguns lugares, passamos por uma penca de espaços e eventos. Sabe o que penso hoje, a respeito do bom e velho “falta espaço”, “falta isso” ou “falta aquilo” que se ouve muito no underground. Mas, nesse ponto de sua carreira, como percebe essa coisa de canais de divulgação, espaços (ao menos aqui pela Região), eventos e por aí vai?

Xharles: Pois é, a gente já passou por muito perrengue. Com e sem banda! Eu percebo que hoje em dia, cada vez mais, as coisas são virtuais. Tá tudo nas redes sociais, 'lives', YouTube, plataformas de compartilhamento de música, financiamento coletivo e etc.... Por um lado isso é incrível, te abre muitas portas e possibilita coisas que sequer imaginávamos um tempo atrás! Mas não da pra ficar só nessa parte virtual, tem que sair a campo, ir nos shows dos amigos e de quem não conhece, fazer conexões, tocar o máximo possível em qualquer lugar. O corpo a corpo, o olho no olho são insubstituíveis.

FMZ: Tudo isso mudou muito com o tempo. Consegue apontar o que de mais relevante mudou, dos tempos de Incrível Mart pra cá pra um artista independente?

Xharles: Muita coisa mudou , fora essa coisa da internet, que citei, tem todo contexto que mudou bastante, ao menos na minha visão. Quando a banda começou, no fim dos 90 , existia uma cena independente onde diferentes tipos de banda tocavam juntas, no mesmo evento, ao menos aqui na região era assim. Lembro de tocarmos na mesma noite com bandas de HC, Metal, Alternativo e por ai vai!

E rolavam bastante shows nesse período, em diversos locais. As vezes, na mesma noite, e todos tinham uma galera. Um não atrapalhava o outro, mas o Rock não tava muito presente na mídia. Algumas bandas surgidas no inicio dos anos 90 dividiam o espaço com as remanescentes dos 80. A cena independente estava, meio que, isolada. Haviam alguns zines e programas alternativos, em algumas rádios. Geralmente nos horários mais tardes. Depois, em meados de dois mil, as coisas ficaram mais segmentadas. Algumas bandas se fecharam mais e só tocavam, na maioria das vezes, com outras do mesmo estilo. Fosse Punk, HC, New Metal e etc..

Até esse momento ainda tinha bastante gente frequentando os shows independentes. O Rock passava por um momento bom na mídia. Novas bandas surgiam a todo momento, rolavam rádios, revistas como a Bizz, Rock Brigade, Rock Press, ,jornais como o Jornal do Rock e Internacional Magazine... MTV tava rolando, nomes como Pitty despontaram junto com uma galera nova da cena do HC Melódico, Emo, Metalcore... parecia que se desenhava um futuro promissor onde o Rock seria novamente como nos anos 80, o estilo musical que predominaria nacionalmente, o que acabou não se consolidando. Uma banda ou outra chegou ao mainstream. Mas mesmo essas, hoje em dia, não tem mais muita evidência. As rádios, a maioria, acabaram. Aqui no Rio principalmente. Jornais, revistas e zines também. Ficou só virtualmente e olhe lá. A MTV, praticamente, parou de tocar música e o Rock meio que, novamente, saiu da mídia de massa, e hoje as bandas consolidadas são as mesmas remanescentes dos anos 80, algumas dos 90 e as que sobraram desse último momento que o Rock esteve com força no mainstream. Nomes como Pitty, Fresno, CPM 22 , NxZero e tal...

A cena independente, é claro, resiste. Com muita gente nova e muita gente boa. Mas, mais uma vez, parece que existe um abismo entre essas bandas novas e aquelas já consolidadas. Fica difícil romper essa barreira e conseguir criar um público, fazer um nome, se profissionalizar e viver de música. A maioria delas acaba tendo que tocar e manter outras fontes de renda paralelas..


FMZ: E hoje, aqui pela área, como lhe parecem as coisas?

Xharles: Por aqui, na minha opinião, as coisas não mudaram muito nos últimos anos. Vi alguns espaços fecharem as portas, outros novos surgirem e alguns que se mantem ativos por um longo tempo, mesmo com tantas dificuldades. Afinal, musica, ainda mais independente, nunca deu muito retorno financeiro. E assim como os músicos, os produtores e donos de estabelecimentos que optam por esse caminho, o da música autoral, faz isso mais porque gosta do que propriamente por dinheiro. E acaba, meio que, representando uma especie de resistência cultural.

Em vejo muita gente daqui da região tentando movimentar as coisas, se mobilizar. Em alguns momentos sinto que a quantidade de eventos diminuiu, em contrapartida vejo bandas na ativa, já de longa data que continuam tocando e uma galera nova muito boa chegando também. Gente como o Guilherme Gak, Ian Veras, o Cromarik, Pessoas Como Nós, Abacaxi Lunar, e mais um monte de gente nova que tem feito shows por aí. Alguns já com material bem gravado, levando uma galera nos seus shows e tudo mais. Infelizmente, como disse, os espaços pra música autoral e independente por aqui são poucos. E nem sempre se tem uma estrutura bacana, mas sempre foi assim e acho que enquanto esse tipo de som não for algo que dê muito lucro, dificilmente vai se ter um investimento por parte dos donos dos espaços, que mude esse contexto. Então acaba tendo a necessidade, muitas vezes, dos próprios artistas se mobilizarem e fazer com que as coisas aconteçam da melhor maneira possível, pra conseguir mostrar seu trabalho.


FMZ: Sobre a Incrível Mart: vê alguma possibilidade da banda se reunir algum dia? Se vê tocando com banda ainda?

Xharles: Mantenho contato com todos da banda, e agente sempre conversa sobre essa possibilidade de voltar a fazer um som juntos! Todos tem essa vontade. Ultimamente, principalmente, temos falado muito nisso e estamos tentando marcar uma reunião. Esse ano a banda completaria 18 anos, já que começamos em 1999 e, até por isso, pensamos em fazer alguma coisa. Agora, se será algo apenas comemorativo, em razão do aniversário, quem sabe um show com alguns sons antigos, ou se poderia vir a a tornar algo mais contínuo, talvez produzindo material novo, não sabemos. Eu acho a primeira hipótese mais provável. Até porque é mais complicado hoje em dia pra todos da banda conseguir conciliar suas coisas pessoais, trabalho, família, etc... Pra se ter uma periodicidade com a banda, ensaios, shows e tudo mais fica meio complicado.

Eu gosto da ideia de tocar com banda, estar entre amigos , fazer um som. Poder dividir isso com outras pessoas que acreditam no som que vocês fazem juntos, e depois vão olhar pra trás com orgulho daquilo que fizeram. Isso tudo é bem legal. Mas ao mesmo tempo, dá bastante trabalho. E hoje em dia acaba sendo mais complicado administrar essa logística do tempo e disponibilidade de cada um. Ainda mais sendo algo que, a princípio, não teria um retorno financeiro.


FMZ: Durante uma época você deu as caras em tudo quanto foi evento, sarau, dividiu o palco com poetas e bandas de tudo quanto era estilo. Ainda se sente com o mesmo pique?

Xharles: Verdade, entre 2013 e 2016 eu rodei bastante por aí! E depois dei uma parada. Pode parecer desculpa esfarrapada, mas nem é propriamente uma questão de pique, é mais uma questão de escolha mesmo. Eu sempre tive essa vontade de sair tocando por aí! Ir aonde fosse possível. Se dependesse de mim rodava o mundo com minha viola. Queria ter essa experiência de viver quase como um músico de rua, tocar pelas praças e onde mais fosse possível, compartilhar minha música em diferentes locais, com o maior número de pessoas e ambientes diversos. Toquei em moto clubes, teatros, praças, bares, entre músicos de diversas vertentes e poetas. E isso foi uma experiencia incrível, muito rica , que levarei pra toda vida. Foi muito importante.

Eu estava num momento aonde precisava sair da coisa virtual e levar o meu som pra fora de casa e da Internet. E valeu muito a pena a experiência. Mas é algo que também foi cansativo. Passei muito tempo fora de casa. A coisa tava muito frenética e isso também tinha um custo já que na maioria dos casos, além de não receber nada pra tocar, ainda tinha as despesas de consumação e transporte. Então agora, não por falta de pique, mas por opção mesmo, resolvi levar as coisas com mais calma. E também poder focar em outras coisas, como gravar meu som. Ainda não tenho nenhuma gravação oficial do meu trabalho solo, com uma qualidade bacana e tal, e agora to querendo conseguir fazer isso


FMZ: Esse material novo que está gravando, pretende apresentar ele ao vivo?

Xharles: Pretendo sim, algumas eu já toco faz tempo nos shows. O repertório dos shows sempre varia muito, mas eu devo tocar essas que to gravando sim. Provavelmente mudando algumas coisas do arranjo, até pra adaptar pro formato acústico, já que no show ainda é só voz e violão. Mas isso de mudar os arranjos já é algo bem frequente no meu trabalho .


FMZ: Qual o último melhor disco que você ouviu? Favor comentar.

Xharles: O “Black Star”, do David Bowie é um disco denso, forte, com uma sonoridade bem experimental em alguns momentos! Me soa meio Jazz até, e por ter sido gravado quando ele se tratava de um câncer e lançado pouco antes da morte dele, o disco acaba tendo um certo tom de despedida em alguns momentos. , Eu achei um trabalho incrível! E de nacional, eu colocaria o mais recente da Elza Soares: o “A Mulher do Fim do Mundo”, um disco bem experimental, que flerta com diversos estilos, do Samba ao Rock, com arranjos muito bem feitos e letras contundentes, que tratam muitas vezes de temas delicados como a violência doméstica sofrida pelas mulheres . Um excelente disco!

Ah! E nos dois casos fica meio evidente a experimentação musical, com timbres e sonoridade eletrônica contrastando com guitarra e outros instrumentos convencionais! Nada muito novo, mas em ambos os casos feito com extremo bom gosto!


FMZ: Dylan, Billy Corgan, Chico, Tom York... Esses caras ainda tem lugar especial em sua playlist?

Xharles: Com certeza! E sempre terão! Esses e mais alguns outros nomes que você não citou fizeram parte da formação da minha identidade musical. São a minha linha de frente, por assim dizer! Apesar de estar sempre procurando conhecer e escutar coisas novas acho que não fico uma semana sem ouvir algum som de um desses nomes!


FMZ: Tudo que tem acontecido no país ultimamente, de alguma forma, afeta sua produção artística? Acha que a classe artística deve se envolver, se posicionar? Como percebe isso nas redes sociais, por exemplo?

Xharles: Acredito que de alguma forma todos somos afetados. Mas não sei dizer se tem uma interferência direta na minha produção. Sinto esse clima de tensão e descontentamento que, independente da opção partidária, parece meio que geral no país nos últimos tempos. Não sei se de alguma forma isso se reflete na minha música, talvez não. Talvez seja um incômodo que sinto na minha vida pessoal, que de certa forma não expresse nas minhas letras, talvez pela forma como construo minhas canções. Sei la, penso que trate de temas mais introspetivos e pessoais e acabo não falando dessas coisas mais gerais, que acontecem e afetam a mim e todos ao meu redor. Ou, se falo, é por metáforas, de forma pouco direta, tão subjetivas que se eu não explicar, com certeza, passaria desapercebido da maior parte das pessoas.

Nesse contexto eu acho importante a classe artística se envolver e se posicionar, sim. Não só a classe artística, como todo povo em geral. Acho importante que hoje tenhamos essa liberdade e esse direito de poder nos manifestarmos, protestar e lutar pelas causas que lhe são justas, mesmo que ainda existam barreiras e setores que tentem minar e coibir essa liberdade.

Eu não diria que um artista, ou seja la quem for, tenha a obrigação de levantar bandeiras ou se posicionar de forma direta, como uma espécie de liderança, pelo simples fato de ser uma pessoa "pública" ou coisa do gênero. Que exista essa cobrança por ele ser o que chamam de "exemplo ", formador de opinião, ou coisa do tipo; Acho que as pessoas deveriam pensar por conta própria e lutar pelo que acreditam, independente do que eles e a mídia dizem acho que as pessoas deveriam procurar se informar mais. Estudar pra não acabarem sendo manipuladas e servindo de massa de manobra pra esses mesmo bando que há séculos controla o país.

Nas redes sociais eu sinto que, atualmente, ta tudo muito polarizado e todo mundo muito a flor da pele. Passamos por um momento difícil, sombrio, onde ainda surgem vozes pedindo coisas absurdas como a volta da ditadura militar. Principalmente escondidos sob o anonimato que muitas vezes a internet oferece. Vejo muito radicalismo, gente que ataca um artista “x” e diz que era fã, mas jogou seus discos fora por causa de sua posição política, que exclui alguém por discordar de sua opinião. É claro que ninguém é obrigado a conviver, ainda que num ambiente virtual, com alguém que defende valores que você abomina. É compreensível você excluir um nazista de sua rede de amigos. Agora excluir alguém porque votou no candidato adversário do seu, ou porque discordou de você numa postagem numa rede social me soa uma atitude um tanto extremista e desnecessária. Eu acho possível e necessário que exista um diálogo. Enquanto a população se divide entre coxas e mortadelas e se ataca, e não se entende como o responsáveis por isso, os "chefes do restaurante", que fizeram esses quitutes estão juntos, sem nenhuma cerimônia cozinhando e garfando toda a população.


FMZ: É isso. Valeu por mais essa entrevista! Se não me engano é a terceira..rsrsrs Recado final?

Xharles: Verdade! Se não me engano, a primeira foi ainda na época do Incrível Mart, quando tínhamos acabado de lançar o CD "Projeto Secreto e O Grande Circo Místico". A segunda assim que comecei a tocar sozinho. Ou seja, sempre em momentos cruciais da minha caminhada com a música. E agora, mais uma vez num desses momentos, quando estou prestes a lançar meu primeiro single e vídeo oficiais, do meu projeto solo. Queria agradecer por mais uma vez abrir espaço pra eu falar de minha música, e por sempre apoiar e ajudar na divulgação do meu trabalho. E agradecer também a todas as pessoas que de alguma forma acompanham e torcem por mim, e que gostam do meu som! Então é isso! Até uma próxima! A gente se vê por aí.

Confira o novo single de Xharles (lançamento Kbça Discos):

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foto: Latitude Zero Prod.

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