por:
Rafael A.
Já
de volta com as entrevistas aqui em nosso FMZ, desde o começo do
ano, é bacana trocar uma ideia com os amigos, certo? Sendo assim,
fomos bater um papo com Xharles (o Xarles Xavier aí da foto, com nova grafia e
tudo!), compositor gonçalense que durante anos figurou aqui neste
espaço. Fosse participando como convidado em nossos eventos,
ajudando a produzir (Rock na Garagem e Sarau Feira Moderna, por
exemplo, não teriam saído do papel sem sua contribuição) ou no
período em que fez parte de nossa Latitude Zero Prod. Dos tempos de
banda Incrível Mart, passando pela carreira solo como Xarles Xavier,
Projeto Mosquitos (ao lado deste que vos escreve) e por aí vai! Enfim, vamos saber como andam as
coisas com esse velho amigo?
FMZ:
Pra começar, uma que geralmente aparece mais pro final das
entrevistas: o que você tem ouvido? Tem um monte de coisas
acontecendo na música, tendências, vertentes que surgem, novos
nomes... O que tem chamado sua atenção?
Xharles:
É verdade, apesar de muita gente ter aquele pensamento de que
não tem nada novo surgindo, de que a música tanto no Brasil quanto
no mundo passa por um mau momento, na realidade é que se você
procurar, e nem dá tanto trabalho assim, até pelas ferramentas
disponíveis hoje com a internet e tal, você acha muita coisa
legal que ta rolando por aí. Eu tenho ouvido muita coisa nova, la
de fora tem o Royal Blood, Fleet Foxes, Alabama
Shakes... Daqui eu destacaria o pessoal do O Terno, Far
From Alaska, Céu, Negro Leo, Ava Rocha,
Mahmundi, Boogarins, Tulipa Ruiz, Maglore,
Daniel Rabujah, Cícero e por ai vai. Tem muito mais
gente, se for falar todos faltaria espaço! Tem muita gente boa
fazendo som de qualidade por aí. E de tudo quanto é tipo de som.
Na minha lista tentei colocar gente de diferentes estilos, justamente
pra mostrar a riqueza e a diversidade que existe.
FMZ:
E das coisas mais novas, o que acaba virando influência? O que, de
alguma forma, você sente que acaba sendo incorporado a seu som, suas
composições?
Xharles:
Na
verdade, a gente nem sempre percebe o que acaba nos influenciando.
Eu sinto que o quê de certa forma eu acabo absorvendo, e vendo algum
reflexo no meu som, são coisas que assim como eu, tem uma
referência de sons mais antigos. Uma galera que meio que bebe numas
fontes de coisas que eu também ouvi, coisas de Folk
, Pós-Punk,
New
Wave,
Synthpop...
Muita coisa dos anos 80 que ta meio que sendo sempre revisitado pelas
novas gerações. E outros sons mais alternativos e tal, coisas como
Empire
of The Sun,
The
War on Drugs,
Teegan
and Sara,
The
XX.
Aqui no Brasil tem o Jaloo,
Alice Caymmi
, Dani Black,
Rubel...
FMZ:
Duas em uma: Já te vi classificando sua música como Folk Rock.
O que mais faz parte da sua música? E você consegue ver uma galera
fazendo um som parecido com o seu? Consegue perceber um cenário do
qual faz parte?
Xharles:
Assim que a banda parou la em
2010 e eu comecei a tocar só com violão nos shows, senti a
necessidade, meio que, de me redescobrir como músico e intérprete.
Sentia que, agora sozinho, não dava mais pra tocar as músicas da
mesma maneira que tocava com a banda. Eu queria encontrar a melhor
maneira de interpretar essas canções, nesse formato acústico.
Procurei privilegiar as harmonias, mas sem perder a visceralidade.
Então, acabei me aproximando de uma sonoridade mais simples, do
Folk.
Mas ainda com uma pegada Rock.
Mas mesmo antes na banda, e depois sozinho, já existiam outras
referências no meu som: Música brasileira, Bossa
Nova, Pós-Punk,
New Wave,
Synthpop,
Rock Alternativo...
Eu
passei boa parte da infância, e início da adolescência, ouvindo
rádio e o que predominava era a música Pop
e o Rock,
e isso fez parte da minha formação. Coisas como Michael
Jackson, Prince
, Phill Colins,
Madona e as bandas do
Rock Brasil dos
anos 80, entre outros! Só depois, já com uns 14 anos, comecei a
pegar CDs e
fitas k7
com uns amigos, com o que tava rolando nos anos 90. Nirvana
e toda cena de Seattle, as bandas alternativas, as novas bandas
nacionais, como Pato Fu,
Nação Zumbi...
Então essas coisas abriram minha mente de certa firma. Foi aí que
descobri que queria fazer musica. Eu sempre procurei colocar outros
tipos de elementos no meu som, justamente pra tentar sintetizar esse
emaranhado de referências, que ao longo do tempo serviram pra
construir minha própria identidade. Eu gosto de sempre estar
experimentando, tentando fazer algo que me tire da minha zona de
conforto.
Tem
uma galera nova no Brasil fazendo um som fortemente influenciado pelo
Folk e, em parte me identifico. Mas não sei dizer se fazemos
parte de uma mesma cena, até porque eu procuro usar outros elementos
no meu som, que fogem um pouco dessa estética. Eu gosto de, de certa
forma, me associar a quem também procura experimentar e não fica
preso à um único formato. Isso acabou se refletindo nas minhas
apresentações. Quando eu acabei dividindo o palco e tocando com
artistas de diversos estilos! De Punk, Metal, a MPB,
Progressivo, Alternativo, etc... Nesse contexto,
eu vejo mais como parte de um cenário formado por artistas e bandas
que se diferem na sonoridade, mas que de certa forma se frequentam!
Seja por tocarem juntos nos eventos, ou por trocarem sons pela
própria web. O que, nos dois casos, pode acabar gerando novas
parcerias e coisas do tipo, com um apoiando a acompanhando o trabalho
do outro. Nesse sentido, eu me vejo num cenário com gente como A
Batida Que O Seu Coração Pulou, o Café República,
Jefferson Volve, Homobono, o Gilber T, a Old
kitchen... e mais um monte de gente com quem dividi o palco ao
longo desse tempo que venho tocando sozinho.
Mesmo
não tendo tocado com alguns desses que citei acima, sinto que
estamos num mesmo cenário. Seja por estarmos sempre trocando algum
tipo de informação, nos apoiando, frequentando os shows uns dos
outros e, em outros casos, até trabalhando juntos, como o Gilber
T, por exemplo, que está
dando uma moral e ajudando na produção do meu primeiro single.
FMZ:
Mudando de assunto: você está em estúdio. Tem gravado materiais
com galeras diferentes... Em que pé estão essas novidades? Como
pretende lançar esses materiais novos? Serão singles, um EP,
vão rolar vídeos, enfim?
Xharles:
Eu comecei a gravar no fim do
ano passado, como você mesmo disse, com uma galera diferente. A
princípio, eu planejei lançar quatro singles, um em cada estação
do ano, mas não deve dar pra rolar assim. O mais provável é que
rolem dois ou três apenas. De, ao menos, um vai rolar vídeo sim.
Espero que até o fim do primeiro semestre, ou início do segundo já
esteja pintando por aí, e ai sim pro fim do ano pretendo começar a
pensar num EP.
FMZ:
Ainda sobre lançamentos, essas coisas. Mesmo com todas as
facilidades da tecnologia, ainda me parece dificílimo lançar um
artista, ou uma música, com um material de qualidade, profissional
mesmo. Gravação, filmagens... Claro, é bem menos complicado que em
décadas anteriores, mas, está tudo tao acessível assim? Só não
aparece quem não quer?
Xharles:
Hoje, com certeza, é mais
fácil produzir. Tanto áudio, quanto vídeo, com uma qualidade
bacana, do que era ha dez, quinze anos atrás. Tem gente que
consegue um resultado incrível gravando em casa mesmo. Não sei
dizer se fica profissional pros padrões comercias e tal. Mas, com
certeza, muitas vezes fica bem próximo e com um custo bem menor.
Agora, se a pessoa não tiver condição de fazer dessa forma e for
fazer da maneira tradicional, procurando um estúdio bacana pra
conseguir uma gravação de áudio e vídeo, ainda assim da pra
conseguir um preço legal, bem mais acessível do que era em outros
tempos.
Principalmente,
se a pessoa se cerca de amigos desse meio que trabalham com produção
e músicos que tão dispostos a contribuir, as coisas ficam mais
fáceis. Se não tem grana, camaradagem nesse meio é a alma do
negócio. Agora, não sei dizer se isso significa que só não
acontece quem não quer.. Isso de 'acontecer' envolve outros fatores
que não apenas conseguir um áudio e vídeo bacana. Hoje em dia isso
ja é quase um pré requisito pra se colocar em cena. Mas se vai
acontecer, é outra história que eu não sei o que determina. Tem a
ver com contratos, modismos, jabás, sorte e, principalmente,
trabalho e investimento.
FMZ:
Sem sair muito do tema...Produzimos coisas juntos, tocamos juntos em
alguns lugares, passamos por uma penca de espaços e eventos. Sabe o
que penso hoje, a respeito do bom e velho “falta espaço”, “falta
isso” ou “falta aquilo” que se ouve muito no underground.
Mas, nesse ponto de sua carreira, como percebe essa coisa de canais
de divulgação, espaços (ao menos aqui pela Região), eventos e por
aí vai?
Xharles:
Pois é, a gente já passou por
muito perrengue. Com e sem banda! Eu percebo que hoje em dia, cada
vez mais, as coisas são virtuais. Tá tudo nas redes sociais,
'lives', YouTube, plataformas de compartilhamento de música,
financiamento coletivo e etc....
Por um lado isso é incrível, te abre muitas portas e possibilita
coisas que sequer imaginávamos um tempo atrás! Mas não da pra
ficar só nessa parte virtual, tem que sair a campo, ir nos shows dos
amigos e de quem não conhece, fazer conexões, tocar o máximo
possível em qualquer lugar. O corpo a corpo, o olho no olho são
insubstituíveis.
FMZ:
Tudo isso mudou muito com o tempo. Consegue apontar o que de mais
relevante mudou, dos tempos de Incrível Mart pra cá pra um artista
independente?
Xharles:
Muita coisa mudou , fora essa coisa da internet,
que citei, tem todo contexto que mudou bastante, ao menos na minha
visão. Quando a banda começou, no fim dos 90 , existia uma cena
independente onde diferentes tipos de banda tocavam juntas, no mesmo
evento, ao menos aqui na região era assim. Lembro de tocarmos na
mesma noite com bandas de HC, Metal, Alternativo e por ai vai!
E
rolavam bastante shows nesse período, em diversos locais. As vezes,
na mesma noite, e todos tinham uma galera. Um não atrapalhava o
outro, mas o Rock
não tava muito presente na mídia. Algumas bandas surgidas no
inicio dos anos 90 dividiam o espaço com as remanescentes dos 80. A
cena independente estava, meio que, isolada. Haviam alguns zines e
programas alternativos, em algumas rádios. Geralmente nos horários
mais tardes. Depois, em meados de dois mil, as coisas ficaram mais
segmentadas. Algumas bandas se fecharam mais e só tocavam, na
maioria das vezes, com outras do mesmo estilo. Fosse Punk,
HC,
New Metal
e etc..
Até
esse momento ainda tinha bastante gente frequentando os shows
independentes. O Rock
passava por um momento bom na mídia. Novas bandas surgiam a todo
momento, rolavam rádios, revistas como a Bizz,
Rock Brigade, Rock
Press, ,jornais como o Jornal
do Rock e Internacional
Magazine... MTV
tava rolando, nomes como Pitty
despontaram junto com uma galera nova da cena do HC
Melódico, Emo,
Metalcore...
parecia que se desenhava um futuro promissor onde o Rock
seria novamente como nos anos 80, o estilo musical que predominaria
nacionalmente, o que acabou não se consolidando. Uma banda ou outra
chegou ao mainstream. Mas mesmo essas, hoje em dia, não tem mais
muita evidência. As rádios, a maioria, acabaram. Aqui no Rio
principalmente. Jornais, revistas e zines também. Ficou só
virtualmente e olhe lá. A MTV,
praticamente, parou de tocar música e o Rock
meio que, novamente, saiu da mídia de massa, e hoje as bandas
consolidadas são as mesmas remanescentes dos anos 80, algumas dos 90
e as que sobraram desse último momento que o Rock
esteve com força no mainstream. Nomes como Pitty,
Fresno, CPM
22 , NxZero e
tal...
A
cena independente, é claro, resiste. Com muita gente nova e muita
gente boa. Mas, mais uma vez, parece que existe um abismo entre
essas bandas novas e aquelas já consolidadas. Fica difícil romper
essa barreira e conseguir criar um público, fazer um nome, se
profissionalizar e viver de música. A maioria delas acaba tendo que
tocar e manter outras fontes de renda paralelas..
FMZ:
E hoje, aqui pela área, como lhe parecem as coisas?
Xharles:
Por aqui, na minha opinião, as
coisas não mudaram muito nos últimos anos. Vi alguns espaços
fecharem as portas, outros novos surgirem e alguns que se mantem
ativos por um longo tempo, mesmo com tantas dificuldades. Afinal,
musica, ainda mais independente, nunca deu muito retorno financeiro.
E assim como os músicos, os produtores e donos de estabelecimentos
que optam por esse caminho, o da música autoral, faz isso mais
porque gosta do que propriamente por dinheiro. E acaba, meio que,
representando uma especie de resistência cultural.
Em
vejo muita gente daqui da região tentando movimentar as coisas, se
mobilizar. Em alguns momentos sinto que a quantidade de eventos
diminuiu, em contrapartida vejo bandas na ativa, já de longa data
que continuam tocando e uma galera nova muito boa chegando também.
Gente como o Guilherme Gak,
Ian Veras, o
Cromarik, Pessoas
Como Nós, Abacaxi
Lunar, e mais um monte de gente
nova que tem feito shows por aí. Alguns já com material bem
gravado, levando uma galera nos seus shows e tudo mais.
Infelizmente, como disse, os espaços pra música autoral e
independente por aqui são poucos. E nem sempre se tem uma estrutura
bacana, mas sempre foi assim e acho que enquanto esse tipo de som não
for algo que dê muito lucro, dificilmente vai se ter um investimento
por parte dos donos dos espaços, que mude esse contexto. Então
acaba tendo a necessidade, muitas vezes, dos próprios artistas se
mobilizarem e fazer com que as coisas aconteçam da melhor maneira
possível, pra conseguir mostrar seu trabalho.
FMZ:
Sobre a Incrível Mart: vê alguma possibilidade da banda se reunir
algum dia? Se vê tocando com banda ainda?
Xharles:
Mantenho contato com todos da
banda, e agente sempre conversa sobre essa possibilidade de voltar a
fazer um som juntos! Todos tem essa vontade. Ultimamente,
principalmente, temos falado muito nisso e estamos tentando marcar
uma reunião. Esse ano a banda completaria 18 anos, já que
começamos em 1999 e, até por isso, pensamos em fazer alguma coisa.
Agora, se será algo apenas comemorativo, em razão do aniversário,
quem sabe um show com alguns sons antigos, ou se poderia vir a a
tornar algo mais contínuo, talvez produzindo material novo, não
sabemos. Eu acho a primeira hipótese mais provável. Até porque é
mais complicado hoje em dia pra todos da banda conseguir conciliar
suas coisas pessoais, trabalho, família, etc...
Pra se ter uma periodicidade com a banda, ensaios, shows e tudo mais
fica meio complicado.
Eu
gosto da ideia de tocar com banda, estar entre amigos , fazer um som.
Poder dividir isso com outras pessoas que acreditam no som que vocês
fazem juntos, e depois vão olhar pra trás com orgulho daquilo que
fizeram. Isso tudo é bem legal. Mas ao mesmo tempo, dá bastante
trabalho. E hoje em dia acaba sendo mais complicado administrar essa
logística do tempo e disponibilidade de cada um. Ainda mais sendo
algo que, a princípio, não teria um retorno financeiro.
FMZ:
Durante uma época você deu as caras em tudo quanto foi evento,
sarau, dividiu o palco com poetas e bandas de tudo quanto era estilo.
Ainda se sente com o mesmo pique?
Xharles:
Verdade, entre 2013 e 2016 eu
rodei bastante por aí! E depois dei uma parada. Pode parecer
desculpa esfarrapada, mas nem é propriamente uma questão de pique,
é mais uma questão de escolha mesmo. Eu sempre tive essa vontade
de sair tocando por aí! Ir aonde fosse possível. Se dependesse de
mim rodava o mundo com minha viola. Queria ter essa experiência de
viver quase como um músico de rua, tocar pelas praças e onde mais
fosse possível, compartilhar minha música em diferentes locais, com
o maior número de pessoas e ambientes diversos. Toquei em moto
clubes, teatros, praças, bares, entre músicos de diversas
vertentes e poetas. E isso foi uma experiencia incrível, muito rica
, que levarei pra toda vida. Foi muito importante.
Eu
estava num momento aonde precisava sair da coisa virtual e levar o
meu som pra fora de casa e da Internet. E valeu muito a pena a
experiência. Mas é algo que também foi cansativo. Passei muito
tempo fora de casa. A coisa tava muito frenética e isso também
tinha um custo já que na maioria dos casos, além de não receber
nada pra tocar, ainda tinha as despesas de consumação e transporte.
Então agora, não por falta de pique, mas por opção mesmo,
resolvi levar as coisas com mais calma. E também poder focar em
outras coisas, como gravar meu som. Ainda não tenho nenhuma gravação
oficial do meu trabalho solo, com uma qualidade bacana e tal, e
agora to querendo conseguir fazer isso
FMZ:
Esse material novo que está gravando, pretende apresentar ele ao
vivo?
Xharles:
Pretendo sim, algumas eu já
toco faz tempo nos shows. O repertório dos shows sempre varia muito,
mas eu devo tocar essas que to gravando sim. Provavelmente mudando
algumas coisas do arranjo, até pra adaptar pro formato acústico, já
que no show ainda é só voz e violão. Mas isso de mudar os arranjos
já é algo bem frequente no meu trabalho .
FMZ:
Qual o último melhor disco que você ouviu? Favor comentar.
Xharles:
O “Black
Star”, do David
Bowie é um disco denso, forte,
com uma sonoridade bem experimental em alguns momentos! Me soa meio
Jazz
até, e por ter sido gravado quando ele se tratava de um câncer e
lançado pouco antes da morte dele, o disco acaba tendo um certo tom
de despedida em alguns momentos. , Eu achei um trabalho incrível! E
de nacional, eu colocaria o mais recente da Elza Soares:
o “A Mulher do Fim do
Mundo”, um disco bem
experimental, que flerta com diversos estilos, do Samba
ao Rock,
com arranjos muito bem feitos e letras contundentes, que tratam
muitas vezes de temas delicados como a violência doméstica sofrida
pelas mulheres . Um excelente disco!
Ah!
E nos dois casos fica meio evidente a experimentação musical, com
timbres e sonoridade eletrônica contrastando com guitarra e outros
instrumentos convencionais! Nada muito novo, mas em ambos os casos
feito com extremo bom gosto!
FMZ:
Dylan, Billy Corgan, Chico, Tom York... Esses caras ainda tem lugar
especial em sua playlist?
Xharles:
Com certeza! E sempre terão!
Esses e mais alguns outros nomes que você não citou fizeram parte
da formação da minha identidade musical. São a minha linha de
frente, por assim dizer! Apesar de estar sempre procurando conhecer
e escutar coisas novas acho que não fico uma semana sem ouvir algum
som de um desses nomes!
FMZ:
Tudo que tem acontecido no país ultimamente, de alguma forma, afeta
sua produção artística? Acha que a classe artística deve se
envolver, se posicionar? Como percebe isso nas redes sociais, por
exemplo?
Xharles:
Acredito que de alguma forma
todos somos afetados. Mas não sei dizer se tem uma interferência
direta na minha produção. Sinto esse clima de tensão e
descontentamento que, independente da opção partidária, parece
meio que geral no país nos últimos tempos. Não sei se de alguma
forma isso se reflete na minha música, talvez não. Talvez seja um
incômodo que sinto na minha vida pessoal, que de certa forma não
expresse nas minhas letras, talvez pela forma como construo minhas
canções. Sei la, penso que trate de temas mais introspetivos e
pessoais e acabo não falando dessas coisas mais gerais, que
acontecem e afetam a mim e todos ao meu redor. Ou, se falo, é por
metáforas, de forma pouco direta, tão subjetivas que se eu não
explicar, com certeza, passaria desapercebido da maior parte das
pessoas.
Nesse
contexto eu acho importante a classe artística se envolver e se
posicionar, sim. Não só a classe artística, como todo povo em
geral. Acho importante que hoje tenhamos essa liberdade e esse
direito de poder nos manifestarmos, protestar e lutar pelas causas
que lhe são justas, mesmo que ainda existam barreiras e setores que
tentem minar e coibir essa liberdade.
Eu
não diria que um artista, ou seja la quem for, tenha a obrigação
de levantar bandeiras ou se posicionar de forma direta, como uma
espécie de liderança, pelo simples fato de ser uma pessoa "pública"
ou coisa do gênero. Que exista essa cobrança por ele ser o que
chamam de "exemplo ", formador de opinião, ou coisa do
tipo; Acho que as pessoas deveriam pensar por conta própria e lutar
pelo que acreditam, independente do que eles e a mídia dizem acho
que as pessoas deveriam procurar se informar mais. Estudar pra não
acabarem sendo manipuladas e servindo de massa de manobra pra esses
mesmo bando que há séculos controla o país.
Nas
redes sociais eu sinto que, atualmente, ta tudo muito polarizado e
todo mundo muito a flor da pele. Passamos por um momento difícil,
sombrio, onde ainda surgem vozes pedindo coisas absurdas como a volta
da ditadura militar. Principalmente escondidos sob o anonimato que
muitas vezes a internet oferece. Vejo muito radicalismo, gente que
ataca um artista “x”
e diz que era fã, mas jogou seus discos fora por causa de sua
posição política, que exclui alguém por discordar de sua
opinião. É claro que ninguém é obrigado a conviver, ainda que
num ambiente virtual, com alguém que defende valores que você
abomina. É compreensível você excluir um nazista de sua rede de
amigos. Agora excluir alguém porque votou no candidato adversário
do seu, ou porque discordou de você numa postagem numa rede social
me soa uma atitude um tanto extremista e desnecessária. Eu acho
possível e necessário que exista um diálogo. Enquanto a população
se divide entre coxas e mortadelas e se ataca, e não se entende
como o responsáveis por isso, os "chefes do restaurante",
que fizeram esses quitutes estão juntos, sem nenhuma cerimônia
cozinhando e garfando toda a população.
FMZ:
É isso. Valeu por mais essa entrevista! Se não me engano é a
terceira..rsrsrs Recado final?
Xharles:
Verdade! Se não me engano, a
primeira foi ainda na época do Incrível Mart,
quando tínhamos acabado de lançar o CD
"Projeto Secreto e O
Grande Circo Místico".
A segunda assim que comecei a tocar sozinho. Ou seja, sempre em
momentos cruciais da minha caminhada com a música. E agora, mais uma
vez num desses momentos, quando estou prestes a lançar meu primeiro
single e vídeo oficiais, do meu projeto solo. Queria agradecer por
mais uma vez abrir espaço pra eu falar de minha música, e por
sempre apoiar e ajudar na divulgação do meu trabalho. E agradecer
também a todas as pessoas que de alguma forma acompanham e torcem
por mim, e que gostam do meu som! Então é isso! Até uma próxima!
A gente se vê por aí.
Confira
o novo single de Xharles
(lançamento Kbça Discos):
Links,
novidades e muito mais sobre Xharles
em sua página no Facebook.
foto:
Latitude Zero Prod.
Nenhum comentário:
Postar um comentário