por:
Adriano Dias
A
Baixada teve sua cultura formada com a composição de todas as
pessoas que para esta região vieram, começando no período
colonial, que trouxeram a mão de obra - e consequentemente a cultura
– dos africanos. Chegando a leva migratória após o período
agrícola, no século passado, com gente vinda do nordeste e outros
estados da Região Sudeste. Todos estes trazendo suas histórias,
hábitos e tradições nas bagagens e corações.
Assim
a força das suas raízes, a luta incessante pela sua sobrevivência,
os desafios do território, foram elementos determinantes para que
aqui se formasse uma cultura de valor extraordinário, que encontrou
nas suas puras manifestações os meios para externar seu pensamento,
apesar de todos os obstáculos e percalços. Acredito que, na
verdade, na região da Baixada se constitui um dos caldos culturais
mais variados e expressivos do país.
Intimamente
ligada à Metrópole do Rio, a região até hoje ainda sofre
constantes preconceitos. Entretanto, pelas tradições que herdou dos
seus antepassados e da religiosidade que marcou sua formação -
associada à renovação dos movimentos legítimos da juventude -
hoje a Baixada congrega uma forte identidade cultural, mesmo na
imensidão das suas expressões.
Mesmo
sendo constantemente estigmatizada pela violência, e tendo a sua
visibilidade priorizada nas tragédias, acredito que a Baixada
Fluminense ainda é a retaguarda estratégica para desconstruir a
cultura de violência no estado do Rio de Janeiro. Ainda podemos
entrar com a política cultural - entre outras importantes para a
construção de uma segurança pública eficiente -, antes dos
tanques de guerra e blindados das policias. Aliás, exatamente as
“pacificações” dos territórios estão falidas por não terem
na sequência da invasão bélica, o fortalecimento prioritário das
também vastas expressões culturais das periferias sociais do Rio de
Janeiro.
Por
fim, é tornando o indivíduo capaz de encontrar o olhar do outro
atento e reverente na sua criação artística que faculta o
reconhecendo de seu mérito, de sua criatividade e iniciativa. Assim,
teremos a visibilidade tão ansiada pelas pessoas, principalmente os
mais jovens através da produção e do consumo de cultura que
propicia esta troca. Então, a proposta é chegar ao fundo desta
sociedade perdida no ócio que leva a busca da visibilidade pelo
consumismo ou violência, com a oportunidade dos instrumentos para a
criação e celebração cultural. Isto não é tão difícil e não
custa tão caro, nem em dinheiro, nem em vidas.
Quem
produz cultura na Baixada foi forjado na luta de quem enfrenta com
altivez os desafios da sobrevivência do cotidiano. Aqui é a terra
na qual a cultura é expressão legítima e permanentemente da
convocação à vida.
Adriano
Dias é fundador da ONG ComCausa - Cultura de Direitos, ex
subsecretário municipal de Prevenção da Violência de Nova Iguaçu.
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