quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Entrevista :: Vilipêndio



Esses caras tocaram na última edição do Rock na Garagem e fizeram uma bela apresentação pra galera de São Gonçalo(RJ)! Fora a participação da banda em nosso evento, ainda tem uma promoção rolando: No ano em que Vilipêndio e FMZ comemoram dez anos, você encontra os três CD`s lançados até aqui por essa banda carioca espalhados entre as cópias da edição especial de décimo aniversário do FMZ! Aproveitando o gancho dessa promo, fomos bater um papo com Ricardo Caulfield, um dos fundadores e frontman da banda Vilipêndio. No papo a seguir, um pouco da trajetória da banda, as impressões de seu guitarra e vocal sobre a cena independente atual e os planos para o futuro da banda! Vale a pena dar uma sacada! Vamos lá?

FMZ_ONLINE: Pra começar queira que você fizesse um balanço desses dez anos de Vilipêndio. O saldo é positivo? E mais: Como fazer para que um projeto tenha essa longevidade?

Ricardo Caulfield: A gente cria sem se preocupar em ter maior ou menor receptividade, é isso. O prazer de gravar e fazer shows é o que faz a banda seguir adiante. É bom ver quando alguém se identifica com a cara do Vilipêndio, que tem um som próprio e não se preocupa em copiar ninguém. Não dá pra ficar avaliando muito se está valendo a pena. O segredo é fazer o que se gosta sem pensar se vai dar certo e o que os outros pensam de você. Estar em uma banda de Rock como o Vilipêndio é o meu sonho, eu não posso reclamar. Nunca fiz uma música por fazer, faço todas com aquele sentimento de quem está se rebelando contra uma injustiça. Lançamos 3 CD`s, fizemos um bocado de shows e agora estamos também trabalhando nesta área de vídeos, usando este recurso para divulgar as músicas. Eu dirigi e editei o clipe de "O santo da televisão", com os atores Raphael Pintha e Névia Rocha, achei uma experiência prazerosa.

Sobre a longevidade, a banda tem 10 anos porque fomos muito insistentes. Poderia ter desistido, mas nunca deixou de valer a pena. Mas tem que ter estômago forte para chegar nessa marca, é preciso dizer NÂO a um monte de gente, é preciso ser um bocado chato. Tenho orgulho de dizer que os ex-integrantes da banda são todos amigos, o que prova que ninguém se sentiu ludibriado ou coisa assim. Geralmente as pessoas saem porque percebem que a banda precisa de mais dedicação do que podem dar.

Eu uso a música como a minha principal fonte para manifestar minha indignação ou inadequação. Eu preciso disso e com o Vilipêndio consigo diminuir esta angústia, é uma sensação de catarse. E o legal é que fazemos aniversário de dez anos e olhando para trás não temos motivos de arrependimento: seguimos os conceitos em que acreditamos desde o primeiro CD, permanecemos fiéis à proposta de som anárquico e letras libertárias. As atitudes da banda estão em sintonia com o que se diz nas letras, não é pose ou fingimento.


FMZ_ONLINE: Com relação às formações da banda: Vocês estrearam o novo baixista recentemente no Rock na Garagem, mas a banda já chegou a se apresentar inclusive como um duo, voz e guitarra e bateria. O que muda pra vocês dependendo da formação?

Ricardo Caulfield: Na realidade, oficialmente nunca fomos uma dupla. A apresentação neste formato foi só por conta de não podermos contar com o baixista e o evento que nos convidou tinha caráter de confraternização, de livre expressão, era bem alternativo, cabia esta atitude. A gente preferiu comparecer desfalcado do que não ir. Foi como uma jam.

A gente já teve muitas formações, mas na minha avaliação, quanto menos integrantes, mais fácil fica de se organizar. Não à toa, desde 2010 passei a assumir a guitarra além dos vocais. E nos tornamos um trio, coisa que nunca havia acontecido antes. Considero melhor para sintonizar as ideias, menos dificuldades de horário, de disponibilidade, etc. Sonoramente, quanto menos instrumentos, mais fácil fica de arredondar o som. Já tivemos duas guitarras e baixo, como o som é muito rápido, ás vezes embolava.

No começo, o núcleo criativo era formado por mim e pelo Marcio Bukowski, outro membro fundador, mas desde 2007 quando a banda quase acabou, ficou mais centralizado em mim. Mas todos os integrantes podem ( e devem) contribuir com ideias, riffs, porque a proposta não é ser uma carreira solo minha, mas uma banda de verdade.


FMZ_ONLINE: O trabalho mais recente, “A Eternidade do Caos” foi lançado não faz muito tempo. Como tem sido a recepção dele tanto por parte do público quanto da mídia independente?

Ricardo Caulfield: Estamos divulgando agora. Imagine que desde que lançamos, saiu o baterista e depois, o baixista. Isto atrasou a divulgação do trabalho. Estamos em pleno processo agora. É a reafirmação da nossa violência sonora, um disco muito árido, enlouquecido e barulhento. Vamos divulgar música por música, com clipes e com os shows. As pessoas não tem mais tempo de ouvirem um CD inteiro, então estamos mostrando aos poucos. "O santo da televisão" agradou bastante. A próxima é "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição", que eu considero uma faixa com que muitos podem se identificar. Algumas pessoas disseram para mim que o novo CD é um trabalho "experimental", o que pra mim sempre vai ser um bom adjetivo.


FMZ_ONLINE: A banda Vilipêndio já teve abertura em alguns veículos de imprensa alternativa conceituados ao longo dessa década de atividades. Hoje há uma infinidade de blogs, sites e demais veículos que abrem espaço para bandas independentes e, no entanto, há bandas que identificam uma falta de espaços para mostrar o trabalho. Como uma banda com dez anos de estrada encara essa questão da imprensa alternativa atualmente?

Ricardo Caulfield: Existe espaço, mas nem todo mundo entende como se faz a divulgação da maneira correta. Um texto mal escrito pode prejudicar uma banda que seja ótima. O jornalista recebe o material e não gosta do release e deixa de lado. Existem espaços, mas claro também tem uns bloqueios pelos quais você não passa. Difícil ver uma banda independente em um canal de TV tradicional ou em uma revista do mainstream. Havia o Rio Fanzine, do Tom Leão, que era bem bacana, no jornal O Globo... mas ainda tem muito espaço, o problema é um pouco a saturação. As redes sociais são legais, mas é meio ridículo um cara fazer um som malvadão e ficar pedindo para os outros curtirem no Facebook. Acho que estamos passando por um processo de infantilização.

Gosto dos veículos impressos independentes, os zines, porque realmente eles vencem a lei da ínércia e chegam literalmente às mãos do público. Sem dúvida, eu destaco os zines mais radicais, os Punks, os ligados aos eventos independentes. Infelizmente o custo impede que muitos durem. Na imprensa de Rock mais tradicional, que chega às bancas, sinto falta de ler jornalistas mais radicais na postura Rock. Acho que hoje quando um trabalho não é bem recebido, ele não é nem resenhado, isto no caso de uma banda independente. Com isso, o artista fica sem o feedback e às vezes uma crítica ruim pode ser mais útil do que uma positiva. Uma coisa que também não gosto nestes veículos mais tradicionais é ler uma resenha em que o cara diz algo do tipo "compre correndo". Isto para mim é ultrapassar os limites e deixar de lado o papel de jornalista e bancar o fã. Mas ainda assim as revistas sempre tem matérias boas, resenhas interessantes. Mas são caras para rodar e sempre vão priorizar bandas consagradas que possam atrair leitores, isto é normal.

O Vilipêndio é da filosofia de divulgar para todos os sites, zines e veículos possíveis, a não ser que realmente seja comprovado não haver espaço ali para a banda.


FMZ_ONLINE: No site de vocês há espaço não só para as coisas da banda, mas também para contos, poesia... Como surgiu essa ideia de não tratar exclusivamente de assuntos da banda e ainda abrir espaço para outros artistas?

Ricardo Caulfield: Sobre abrir espaço para a literatura no site, começou quando eu publiquei o livro 15 Abismos, inteiramente baseado no CD homônimo, do Vilipêndio. Ficou para download de graça lá no ww.vilipendio.com. Só que eu não queria que esta questão literária fosse só minha. É preciso juntar uma galera para criar textos que sejam inteligentes e tivessem a agilidade da internet.

Então neste ano criamos a Taberna Literária, com contos, crônicas, roteiro teatral e poesia, e incluímos novos talentos como a Névia, o Giuliano, e também material ficcional meu. A proposta é mudar os textos de dois em dois meses, como se fosse a edição de uma revista. Acho que é um passo para ampliar esta valorização da questão lírica no Rock pesado, seja Punk, Metal ou Hardcore.


FMZ_ONLINE: A banda tem três CD`s lançados e todos apresentam um alto nível tanto com relação a gravação quanto ao lançamento em si: apresentação, parte gráfica... Continua sendo importante para as bandas apostar e investir no material no formato físico?

Ricardo Caulfield: As musicas na internet não possuem a mesma qualidade de um CD, só isso. MP3 tem compressão demais, é bem inferior. O CD é importante, é um cartão de visitas. No CD é que vamos encontrar a música com melhor sonoridade, fora as letras no encarte. As gravadoras deveriam tentar lucrar com quantidade de CD`s, colocando o preço baratinho. Deveriam descobrir o valor que as pessoas podem pagar e tentar acostumar novamente o publico com o produto. Se não é possível gastar com publicidade muito dinheiro, porque não limitar a divulgação nas redes sociais e na imprensa? Ao invés de sepultar o formato, deveriam pensar em baratear os custos de divulgação, é isso.

Por outro lado, se inventarem um formato digital que tenha uma qualidade sonora igual à das músicas do CD, então realmente o CD vai acabar. Aí não dá mais para evitar, as pessoas vão comprar ou baixar on line.

Enquanto isso não ocorre, nós vamos continuar gravando e lançando CD`s, só que é preciso pensar em como fazer este processo ter uma lógica maior. Por que gravar e lançar 12 faixas de uma vez só se as pessoas não tem mais tempo para escutar música? Além disso, poucos compram hoje em dia...Só discordo de quem diz que a música está se desvalorizando. Estamos em uma fase de transição, acredito. Não sabemos quanto tempo vai durar, mas pense que hoje o artista pode optar por gravar apenas as músicas que achar necessário, não existe mais aquela grande obrigação de lançar todo ano um número específico de faixas. A música ainda vai se beneficiar de ser mais instantânea e dinâmica, menos planejada. Claro que no futuro os novos artistas talvez não tenham uma discografia enorme como a dos Stones, mas virão outros modos de se avaliar e organizar esta produção musical.


FMZ_ONLINE: E qual os planos para o futuro? Quais os próximo projetos da Vilipêndio?

Ricardo Caulfield: Estamos divulgando "A Eternidade do Caos", que é um disco com muitas faixas fortes. Agora, deste trabalho sobraram 4 faixas que podem ser lançadas de alguma maneira e são muito boas mesmo. No momento, acredito muito na produção visual para a banda, estou trabalhando na produção dos vídeos das faixas, o que eu considero instigante. Tivemos "O Santo da televisão" e agora "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição", mas vamos ter muito mais. A gravação de shows e a filmagem de clipes podem render até um DVD. E certamente vão haver mais discos, estou com umas 20 faixas compostas no estilo do Vilipêndio e o Alberto Edge (bateria) e Marcio Klapperich (baixo) também devem trazer seus riffs e contribuições musicais. Em resumo, o futuro será mais discos, mais vídeos e mais shows!!!!


FMZ_ONLINE: Bom, chegamos ao fim. Valeu pelo papo! Deixem uma mensagem final pra galera!

Ricardo Caulfield: Agradeço o espaço, Rafael!!! Quem quiser ouvir nossa proposta sonora é só acessar nosso site ou Myspace. E também podem entrar em contato pelo e-mail. Qualquer sugestão ou idéia maluca é bem recebida! A gente também recebe neste e-mail sugestões ou contribuições para o projeto Taberna Literária, que pode ser acessado na página do Vilipêndio. Agradecemos a todos que acompanham a carreira da banda, são dez anos dedicados ao Rock, mas também a todos os amigos que fizemos até aqui.

por: Rafael A.

Confira o videoclipe de “O Santo da Televisão”, da banda Vilipêndio:

E mais sobre os caras no Facebook.

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