Esses
caras tocaram na última edição do Rock na Garagem e fizeram uma
bela apresentação pra galera de São Gonçalo(RJ)! Fora a
participação da banda em nosso evento, ainda tem uma promoção
rolando: No ano em que Vilipêndio e FMZ comemoram dez anos, você
encontra os três CD`s lançados até aqui por essa banda
carioca espalhados entre as cópias da edição especial de décimo
aniversário do FMZ! Aproveitando o gancho dessa promo, fomos
bater um papo com Ricardo Caulfield,
um dos fundadores e frontman
da banda Vilipêndio. No papo a seguir, um pouco da trajetória da
banda, as impressões de seu guitarra e vocal sobre a cena
independente atual e os planos para o futuro da banda! Vale a pena
dar uma sacada! Vamos lá?
FMZ_ONLINE:
Pra começar queira que você fizesse um balanço desses dez anos de
Vilipêndio. O saldo é positivo? E mais: Como fazer para que um
projeto tenha essa longevidade?
Ricardo
Caulfield: A gente cria sem se preocupar em ter maior ou menor
receptividade, é isso. O prazer de gravar e fazer shows é o que faz
a banda seguir adiante. É bom ver quando alguém se identifica com a
cara do Vilipêndio, que tem um som próprio e não se
preocupa em copiar ninguém. Não dá pra ficar avaliando muito se
está valendo a pena. O segredo é fazer o que se gosta sem pensar se
vai dar certo e o que os outros pensam de você. Estar em uma banda
de Rock como o Vilipêndio é o meu sonho, eu não
posso reclamar. Nunca fiz uma música por fazer, faço todas com
aquele sentimento de quem está se rebelando contra uma injustiça.
Lançamos 3 CD`s, fizemos um bocado de shows e agora estamos
também trabalhando nesta área de vídeos, usando este recurso para
divulgar as músicas. Eu dirigi e editei o clipe de "O santo
da televisão", com os atores Raphael Pintha e Névia
Rocha, achei uma experiência prazerosa.
Sobre
a longevidade, a banda tem 10 anos porque fomos muito insistentes.
Poderia ter desistido, mas nunca deixou de valer a pena. Mas tem que
ter estômago forte para chegar nessa marca, é preciso dizer NÂO a
um monte de gente, é preciso ser um bocado chato. Tenho orgulho de
dizer que os ex-integrantes da banda são todos amigos, o que prova
que ninguém se sentiu ludibriado ou coisa assim. Geralmente as
pessoas saem porque percebem que a banda precisa de mais dedicação
do que podem dar.
Eu
uso a música como a minha principal fonte para manifestar minha
indignação ou inadequação. Eu preciso disso e com o Vilipêndio
consigo diminuir esta angústia, é uma sensação de catarse. E o
legal é que fazemos aniversário de dez anos e olhando para trás
não temos motivos de arrependimento: seguimos os conceitos em que
acreditamos desde o primeiro CD, permanecemos fiéis à
proposta de som anárquico e letras libertárias. As atitudes da
banda estão em sintonia com o que se diz nas letras, não é pose ou
fingimento.
FMZ_ONLINE:
Com relação às formações da banda: Vocês estrearam o novo
baixista recentemente no Rock na Garagem, mas a banda já chegou a se
apresentar inclusive como um duo, voz e guitarra e bateria. O que
muda pra vocês dependendo da formação?
Ricardo
Caulfield: Na realidade, oficialmente nunca fomos uma dupla. A
apresentação neste formato foi só por conta de não podermos
contar com o baixista e o evento que nos convidou tinha caráter de
confraternização, de livre expressão, era bem alternativo, cabia
esta atitude. A gente preferiu comparecer desfalcado do que não ir.
Foi como uma jam.
A
gente já teve muitas formações, mas na minha avaliação, quanto
menos integrantes, mais fácil fica de se organizar. Não à toa,
desde 2010 passei a assumir a guitarra além dos vocais. E nos
tornamos um trio, coisa que nunca havia acontecido antes. Considero
melhor para sintonizar as ideias, menos dificuldades de horário, de
disponibilidade, etc. Sonoramente, quanto menos instrumentos,
mais fácil fica de arredondar o som. Já tivemos duas guitarras e
baixo, como o som é muito rápido, ás vezes embolava.
No
começo, o núcleo criativo era formado por mim e pelo Marcio
Bukowski, outro membro fundador, mas desde 2007 quando a banda
quase acabou, ficou mais centralizado em mim. Mas todos os
integrantes podem ( e devem) contribuir com ideias, riffs,
porque a proposta não é ser uma carreira solo minha, mas uma banda
de verdade.
FMZ_ONLINE:
O trabalho mais recente, “A Eternidade do Caos” foi
lançado não faz muito tempo. Como tem sido a recepção dele tanto
por parte do público quanto da mídia independente?
Ricardo
Caulfield: Estamos divulgando agora. Imagine que desde que
lançamos, saiu o baterista e depois, o baixista. Isto atrasou a
divulgação do trabalho. Estamos em pleno processo agora. É a
reafirmação da nossa violência sonora, um disco muito árido,
enlouquecido e barulhento. Vamos divulgar música por música, com
clipes e com os shows. As pessoas não tem mais tempo de ouvirem um
CD inteiro, então estamos mostrando aos poucos. "O
santo da televisão" agradou bastante. A próxima é "Tem
sempre um idiota querendo me ensinar uma lição", que eu
considero uma faixa com que muitos podem se identificar. Algumas
pessoas disseram para mim que o novo CD é um trabalho
"experimental", o que pra mim sempre vai ser um bom
adjetivo.
FMZ_ONLINE:
A banda Vilipêndio já teve abertura em alguns veículos de imprensa
alternativa conceituados ao longo dessa década de atividades. Hoje
há uma infinidade de blogs, sites e demais veículos que abrem
espaço para bandas independentes e, no entanto, há bandas que
identificam uma falta de espaços para mostrar o trabalho. Como uma
banda com dez anos de estrada encara essa questão da imprensa
alternativa atualmente?
Ricardo
Caulfield: Existe espaço, mas nem todo mundo entende como se faz
a divulgação da maneira correta. Um texto mal escrito pode
prejudicar uma banda que seja ótima. O jornalista recebe o material
e não gosta do release e deixa de lado. Existem espaços, mas
claro também tem uns bloqueios pelos quais você não passa. Difícil
ver uma banda independente em um canal de TV tradicional ou em
uma revista do mainstream. Havia o Rio Fanzine, do Tom
Leão, que era bem bacana, no jornal O Globo... mas ainda
tem muito espaço, o problema é um pouco a saturação. As redes
sociais são legais, mas é meio ridículo um cara fazer um som
malvadão e ficar pedindo para os outros curtirem no Facebook.
Acho que estamos passando por um processo de infantilização.
Gosto
dos veículos impressos independentes, os zines, porque
realmente eles vencem a lei da ínércia e chegam literalmente às
mãos do público. Sem dúvida, eu destaco os zines mais radicais, os
Punks, os ligados aos eventos independentes. Infelizmente o
custo impede que muitos durem. Na imprensa de Rock mais
tradicional, que chega às bancas, sinto falta de ler jornalistas
mais radicais na postura Rock. Acho que hoje quando um
trabalho não é bem recebido, ele não é nem resenhado, isto no
caso de uma banda independente. Com isso, o artista fica sem o
feedback e às vezes uma crítica ruim pode ser mais útil do
que uma positiva. Uma coisa que também não gosto nestes veículos
mais tradicionais é ler uma resenha em que o cara diz algo do tipo
"compre correndo". Isto para mim é ultrapassar os limites
e deixar de lado o papel de jornalista e bancar o fã. Mas ainda
assim as revistas sempre tem matérias boas, resenhas interessantes.
Mas são caras para rodar e sempre vão priorizar bandas consagradas
que possam atrair leitores, isto é normal.
O
Vilipêndio é da filosofia de divulgar para todos os sites,
zines e veículos possíveis, a não ser que realmente seja
comprovado não haver espaço ali para a banda.
FMZ_ONLINE:
No site de vocês há espaço não só para as coisas da banda, mas
também para contos, poesia... Como surgiu essa ideia de não tratar
exclusivamente de assuntos da banda e ainda abrir espaço para outros
artistas?
Ricardo
Caulfield: Sobre abrir espaço para a literatura no site,
começou quando eu publiquei o livro 15 Abismos, inteiramente
baseado no CD homônimo, do Vilipêndio. Ficou para
download de graça lá no ww.vilipendio.com. Só que eu
não queria que esta questão literária fosse só minha. É preciso
juntar uma galera para criar textos que sejam inteligentes e tivessem
a agilidade da internet.
Então
neste ano criamos a Taberna Literária, com contos, crônicas,
roteiro teatral e poesia, e incluímos novos talentos como a Névia,
o Giuliano, e também material ficcional meu. A proposta é
mudar os textos de dois em dois meses, como se fosse a edição de
uma revista. Acho que é um passo para ampliar esta valorização da
questão lírica no Rock pesado, seja Punk, Metal
ou Hardcore.
FMZ_ONLINE:
A banda tem três CD`s lançados e todos apresentam um alto
nível tanto com relação a gravação quanto ao lançamento em si:
apresentação, parte gráfica... Continua sendo importante para as
bandas apostar e investir no material no formato físico?
Ricardo
Caulfield: As musicas na internet não possuem a mesma
qualidade de um CD, só isso. MP3 tem compressão
demais, é bem inferior. O CD é importante, é um cartão de
visitas. No CD é que vamos encontrar a música com melhor
sonoridade, fora as letras no encarte. As gravadoras deveriam tentar
lucrar com quantidade de CD`s, colocando o preço baratinho.
Deveriam descobrir o valor que as pessoas podem pagar e tentar
acostumar novamente o publico com o produto. Se não é possível
gastar com publicidade muito dinheiro, porque não limitar a
divulgação nas redes sociais e na imprensa? Ao invés de sepultar o
formato, deveriam pensar em baratear os custos de divulgação, é
isso.
Por
outro lado, se inventarem um formato digital que tenha uma qualidade
sonora igual à das músicas do CD, então realmente o CD vai
acabar. Aí não dá mais para evitar, as pessoas vão comprar ou
baixar on line.
Enquanto
isso não ocorre, nós vamos continuar gravando e lançando CD`s,
só que é preciso pensar em como fazer este processo ter uma lógica
maior. Por que gravar e lançar 12 faixas de uma vez só se as
pessoas não tem mais tempo para escutar música? Além disso, poucos
compram hoje em dia...Só discordo de quem diz que a música está se
desvalorizando. Estamos em uma fase de transição, acredito. Não
sabemos quanto tempo vai durar, mas pense que hoje o artista pode
optar por gravar apenas as músicas que achar necessário, não
existe mais aquela grande obrigação de lançar todo ano um número
específico de faixas. A música ainda vai se beneficiar de ser mais
instantânea e dinâmica, menos planejada. Claro que no futuro os
novos artistas talvez não tenham uma discografia enorme como a dos
Stones, mas virão outros modos de se avaliar e organizar esta
produção musical.
FMZ_ONLINE:
E qual os planos para o futuro? Quais os próximo projetos da
Vilipêndio?
Ricardo
Caulfield: Estamos divulgando "A Eternidade do Caos",
que é um disco com muitas faixas fortes. Agora, deste trabalho
sobraram 4 faixas que podem ser lançadas de alguma maneira e são
muito boas mesmo. No momento, acredito muito na produção visual
para a banda, estou trabalhando na produção dos vídeos das faixas,
o que eu considero instigante. Tivemos "O Santo da televisão"
e agora "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição",
mas vamos ter muito mais. A gravação de shows e a filmagem de
clipes podem render até um DVD. E certamente vão haver mais
discos, estou com umas 20 faixas compostas no estilo do Vilipêndio
e o Alberto Edge (bateria) e Marcio Klapperich (baixo)
também devem trazer seus riffs e contribuições musicais. Em
resumo, o futuro será mais discos, mais vídeos e mais shows!!!!
FMZ_ONLINE:
Bom, chegamos ao fim. Valeu pelo papo! Deixem uma mensagem final pra
galera!
Ricardo
Caulfield: Agradeço o espaço, Rafael!!! Quem quiser
ouvir nossa proposta sonora é só acessar nosso site ou Myspace. E também podem entrar em contato pelo e-mail.
Qualquer sugestão ou idéia maluca é bem recebida! A gente também
recebe neste e-mail sugestões ou contribuições para o
projeto Taberna Literária, que pode ser acessado na página
do Vilipêndio. Agradecemos a todos que acompanham a carreira
da banda, são dez anos dedicados ao Rock, mas também a todos
os amigos que fizemos até aqui.
por:
Rafael A.
Confira
o videoclipe de “O Santo da Televisão”, da banda
Vilipêndio:
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