quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Entrevista :: Vilipêndio (por.: Carlos A,)



A Vilipêndio é uma banda carioca surgida em 1996, que mostra em seu som energia e velocidade, mesclando HC e e Metal de uma única tacada, com referências de DRI, Motörhead entre outros. Depois de várias formações, conseguiram se estabilizar como um trio: Ricardo Caulfield (vocal/guitarra), Alex Franulovic (baixo/vocal) e Beto HC (bateria). Estão na estrada divulgando seu último trabalho, A Eternidade Do Caos, onde mostram 14 petardos do mais puro Crossover, resultando em um trabalho mais maduro e definitivo no som da banda. Para falar disso e muito mais, Ricardo Caulfield cedeu essa entrevista. Confira!


FMZ_ONLINE: Como está indo a divulgação do novo trabalho? 


Ricardo Caulfield: Seguimos os planejamento de divulgar música após música e aproveitar ao máximo as várias interpretações que as letras possibilitam. Podemos usar bastante os recursos gráficos, com vídeos de forma criativa. O primeiro foi "O Santo da Televisão" e agora seguimos com "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição". "O santo..." obteve uma resposta excelente, saiu em vários sites do underground com destaque. Fora essa iniciativa com vídeos, ainda temos a promoção de 10 anos de aniversário junto com o Feira Moderna Zine, que também completa uma década. Nós estamos dando uma grande quantidade de cds para aqueles que pegarem um exemplar do Feira Moderna. A pessoa poderá ganhar o "15 Abismos". "Um Segundo de Glória" ou mesmo o novo, "A Eternidade do Caos". Mas claro, quem ganhou, ganhou, é só enquanto houver exemplares do zine. Depois, só comprando. Também vale ressaltar que esta parceria foi feita justamente porque o Feira Moderna é um veículo muito sério, há anos dedicado ao underground. É uma proposta com a qual a banda se identifica. No momento estamos preparando um show que deve ser a marca da banda em 2013, para isso vamos incluir músicas, não só do novo disco, mas antigas que nunca foram tocadas pela banda. Ainda estamos pensando, mas vamos preparar surpresas para quem conhece a banda.



FMZ_ONLINE: Chegaram a enviar algum trabalho prá fora do país? 



Ricardo Caulfield: O site MetalPunk vende nossos trabalhos, é um site canadense. Estamos também na Enciclopediado Metal e no Spiritof Metal. Para 2013 pensamos em fazer um contato maior com sites e gravadoras de Portugal e também de países de língua latina. Por enquanto, são planos.



FMZ_ONLINE: A banda já passou por inúmeras formações.Como vc vê isso nesses 15 anos de banda?



Ricardo Caulfield: Na realidade, são 10 anos, porque contamos que tudo começou mesmo em 2002. Antes, não havia shows e os ensaios eram mais brincadeira. Na realidade, nem formação completa, a gente tinha. Era Eu e o Marcio Bukowiski, depois apareceu o Alexandre Salinger, que gravou a bateria, mas nunca fez um show conosco. Isto é importante porque quando fizemos o primeiro show em 2002, a mentalidade se transformou e passamos a julgar tudo de outra forma. As pessoas saem de uma banda geralmente porque não tem tempo para se dedicar ou não estão tendo afinidade com a proposta. O Vilipêndio é um grupo com um som original que toca em português e isso não é pra todo mundo. Todos integrantes tem espaço para trazer novas ideias e dar sugestões.



Infelizmente as formações mudam e atrapalham tudo, principalmente a divulgação dos trabalhos. Quando entra alguém novo pode ser bom, só que isso nos devolve a um ponto anterior. É como andar uma casa pra trás em um jogo. Felizmente muitas vezes este retrocesso acaba se tornando um impulso para conquistas maiores. Em uma banda de Rock, é preciso ser otimista sempre. Caso contrário, você entrega os pontos. Para funcionar, o Vilipêndio precisa de um clima que é um misto de deboche, violência sonora e insubmissão, uma alegria anárquica que é difícil de descrever. É preciso estar nesta vibração quase adolescente. O Vilipêndio não faz uma música para dizer que tudo é uma porcaria e o ser humano é um derrotado. Fazemos músicas como "Tem sempre um idiota..." ou seja, uma faixa para a pessoa ouvir e dizer para si mesmo: "ninguém vai me fazer de estúpido". É para se indignar, não para se acomodar. Então é preciso que todos estejam nesta vibração, quando isso não acontece, o som é afetado. Vale dizer que ninguém saiu da banda brigado. Pelo menos, uns 3 integrantes já tiveram duas passagens pela banda. Quando alguém sai, eu penso logo em chamar um ex-integrante, porque já sabe como tocar as musicas. Mas o ideal é que a formação não mude nunca mais. Isto, infelizmente, é muito difícil.

FMZ_ONLINE: Fale sobre cada cd lançado da vilipêndio. 



Ricardo Caulfield: 15 Abismos (2002): Contém faixas que estão entre as melhores da banda, como "Eu Defendo a Lei", "Olhos Vermelhos" e "De olhos Bem Abertos". A nossa falta de experiência como músicos se traduziu em um vigor que foi acentuado na masterização bem saturada. As faixas soam mais como um manifesto do que uma obra pra ser ouvida! É nosso trabalho mais Hardcore. Por outro lado, nas últimas faixas existe um clima muito depressivo e desesperado que marca mesmo uma fase lírica da minha vida, mas que não me imagino revisitando. Vale ressaltar que este disco acabou inspirando um livro homônimo do CD, em que cada música originou um capítulo. Este livro recebeu uma tiragem independente pequena, mas também foi disponibilizado gratuitamente no site



Um Segundo De Glória (2007): É mais musical e polido, e tem faixas que gosto bastante como "A saga de um hospital público" e "A história de João H", esta última se dividindo em duas partes, "A lenda" e "A verdade", sobre um suposto serial killer. "Anestesiado" é uma das favoritas do publico. Acho que ficou um disco mais civilizado, mas sem perder a proposta da banda. Sonoramente, eu considero este mais punk na pegada, menos veloz no andamento. Eu também grito menos e canto mais.



A Eternidade Do Caos (2011): Saiu no final de 2011 e isto somado a duas mudanças de formação acabou atrasando nossos planos de divulgação. É o disco que remete ao radicalismo do primeiro trabalho por extremamente barulhento e saturado. Tem momentos que são puro metal como "Meu nome é vingança" e outros diferentes de tudo o que já fizemos, como o groove apresentado em "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição". Destaco "A valsa da derrocada" que tem ate piano. Temos Punk, Hardcore e Metal no estilo anos 80. Engraçado que algumas pessoas já chamaram o CD de experimental, eu fiquei orgulhoso disso. È o primeiro disco em que compus todas as músicas sozinho.




FMZ_ONLINE: 15 Abismos foi produzido por Carlos Lopes. Como foi o entrosamento com o cara que é uma das lendas do metal nacional? 



Ricardo Caulfield: Toda gravação de disco é uma experiência transcendental em que você pode ir ao céu e ao inferno em uma pequena diferença de horas. Você aprende o que fazer e o que não fazer, você aprende mais sobre você mesmo. A gravação de "15 Abismos" até que foi relativamente tranquila e a produção conseguiu transformar o barulho que fazíamos em algo parecido com uma banda de Rock


FMZ_ONLINE: Vocês voltariam a trabalhar com um produtor?



Para o futuro, penso em estudar mais gravação para assumir a produção e realmente fazer o melhor que estiver ao meu alcance. Acho que o ideal é que os músicos assumam cada vez mais o controle total da própria obra, de forma que a banda possa gravar a qualquer hora, neste clima que hoje a internet pede, de maior instantaneidade, uma velocidade maior de criar e gravar. Isto não acontece se você tem uma banda com muitos músicos e ainda um produtor. Claro que este é o meu pensamento agora, mas pode ser que no futuro venhamos a trabalhar novamente com alguém produzindo, então eu pensarei quais são os nomes que estão no mercado e se são acessíveis financeiramente para a realidade da banda.



FMZ_ONLINE: Hoje em dia, com a popularização de aplicativos e programas de home studio,qualquer um pode gravar com certa qualidade. Até onde você acha isso benéfico e/ou de caráter negativo prá um trabalho musical? 



Ricardo Caulfield: Sinceramente o problema é mais como as pessoas ouvem as faixas. Em formato MP3 e em pequenas caixas de computador. O som fica péssimo. Noutro dia o Jimmy Page pediu para que as pessoas não ouçam o Led em MP3! Alguns anos atrás o Bruce Dickinson pediu desculpas por uma faixa gratuita que estava sendo divulgada em MP3, por conta justamente da qualidade de áudio. Respondendo a sua pergunta, acho os aplicativos e programas uma opção interessante. Não sou um purista, considero que a banda deve oferecer a música com a melhor qualidade possível. E os aplicativos de masterização ou os que permitem corrigir alguns detalhes trazem economia ao processo. Se a banda constrói algo impossível de tocar ao vivo, é ela que pode se encrencar com o público. Sou contra os recursos quando eles são usados para enganar as pessoas tentando induzir a pensar que a banda pode fazer algo que ela não consegue de jeito nenhum. 

Um artista independente e totalmente underground como o Vilipêndio tem a vantagem de uma maior liberdade. Por exemplo, na faixa "A Valsa da Derrocada", tem piano, embora não tenhamos um pianista fixo na banda. Quem tocou foi minha esposa, como convidada. Então não pretendemos tocar ao vivo essa música (é a ideia inicial). Uma banda mainstream tem menos liberdade de fazer o que quiser no estúdio porque tem de pensar no formato do show. Hoje está tudo muito planejado, os caras fazem ao vivo o mesmo solo do disco, nota por nota. As bandas clássicas como Led ou Purple improvisavam direto no palco. 



Mas vale a pena ressaltar que embora existam mil plug-ins de home estúdios, não é fácil fazer uma boa gravação, escolher timbres que combinem. Gravar ficou fácil, mas obter qualidade nem tanto. É tão fácil gravar quanto errar. E, mesmo se formos radicalizar e imaginar um futuro em que todas as bandas gravem com uma qualidade sonora fantástica, tudo bem, porque ainda irão se destacar as melodias, os solos, as letras. Ou seja, a criatividade e a originalidade ninguém nunca poderá fabricar.



FMZ_ONLINE: O Vilipêndio sempre manteve suas letras em português.Acha válido manter esse perfil na banda?E o que acha das bandas nacionais, que mantem suas letras em outra língua? 



Ricardo Caulfield: O Vilipêndio pode gravar algumas faixas em inglês para alcançar um público diferente, não descartamos. Mas não seria um disco inteiro, mas apenas algumas regravações de nossas musicas mais conhecidas. A gente pode fazer isso e lançar uma coletânea virtual, é uma possibilidade. A internet aproximou as bandas de um publico que antes ficava muito distante. É uma possibilidade, não um plano imediato. Cantamos em português porque eu sinto uma necessidade de jogar com as palavras e só sei fazer isso na minha língua. As letras em inglês das bandas brasileiras, não raramente parecem clichês ou colagens de frases comuns. Quero dizer, não são muito importantes para o som. Este não é o é o nosso caso, em que as letras são fundamentais. Claro que tem bandas brasileiras que fazem letras legais em inglês... Aliás, um dos problemas do Metal brasileiro é que como as bandas da década de 80 optaram quase todas por cantar em inglês, acabou não havendo uma evolução maior na questão lírica. Temos músicos entre os melhores do mundo, mas ainda poucos letristas bons de Metal em português. Como vamos cantar sobre castelos e duendes em português se não existe isso na nossa cultura? Já o Punk, que é mais direto, aparece com ideias mais trabalhadas.



FMZ_ONLINE: Sua banda prima em fazer um Crossover entre o Punk, o HC e o Metal. Mas rola uma rixa ainda com o público do Metal e do Punk. Como você vê essa questão? 



Ricardo Caulfield: Hoje o Metal é o nome de um estilo que abrange coisas muito diferentes. Há bandas de Metal que são mais parecidas com bandas de Hardcore e Punk do que com bandas de Power Metal ou Prog Metal, o que é engraçado porque, sendo ambas dentro do universo do Metal, deveriam estar mais próximas. No Rio, muitos eventos reúnem pacificamente fãs de Punk, Crust, Death, Grind. Ou seja, os estilos mais barulhentos das duas vertentes (Punk e Metal). E não rola nenhum problema com o publico. O Vilipêndio está inserido neste contexto. As pessoas se preocupam muito com rótulos e tribos, realmente isso facilita pra vender e marcar shows, mas é um limite para a criatividade do músico. Imagina pensar: "não vou fazer isso porque é muito Metal e eu sou Hardcore", acho uma visão muito limitada. Isso é cabeça de empresário, não deve ser a cabeça do cara que vai criar alguma coisa. O Venom que é uma das minhas referências sempre misturou os estilos. O próprio Thrash nasceu de uma fusão do Metal tradicional com o Hardcore.



FMZ_ONLINE: Como é feita a composição de música e letras da banda. Elas falam de quê? 



Ricardo Caulfield: Neste disco, acabou que fiz todas as músicas. Tento criar de várias maneiras justamente para que não soem parecidas entre si. Pode começar da letra, do riff ou de uma melodia. Dessa vez, no CD A Eternidade do Caos, acho que as letras falam muito de liberdade, de não se deixar anular. Mesmo uma faixa que conte uma história real como a "Valsa da Derrocada", aborda este aspecto. Por sinal, esta música é bem diferente, é baseada no caso de um taxista. Ele me contou que foi praticamente à falência porque gastou demais na festa de 15 anos da filha. Achei um drama interessante porque revela o quanto se arrisca apenas para se exibir determinado status para vizinhança. Mas no final das contas, também é uma faixa sobre a liberdade. Qual o motivo que leva uma pessoa a se endividar só para que a filha dance uma valsa com um ator do segundo escalão da TV? As pessoas estão presas por demais ao status.



FMZ_ONLINE: E quais bandas da cena você destaca atualmente? 



Ricardo Caulfield:Gosto das bandas do cenário do Rio, como as Punks veteranas Lacrau, o DDC, o Regime Obrigatório, Repressão Social. Em 2011, tocamos com o Homens de Verde e também achei uma ótima banda. Outras: o Hardcore do Obscene Capital, o Metal do Sevciuc (com o ex-batera do Vilipendio, Alexandre Fersan), o Rock and Roll do Granmostarda. o Grind do Baga, o Metal do Egocentric Molecules. O Rock poético do Blake Rambeuad. O clima de Blues do Wagner José e seu bando. No mainstream, sinto falta de um Rock mais provocativo, um novo Raul Seixas, alguém que instigue e fale às massas sem ser muito romântico. Ainda em termos de Punk e Metal, acredito que se o Brasil tiver mais acesso a grupos de outros países latinos, vai encontrar um cardápio bem generoso (N.E.: O FMZ assina embaixo!).
por: Carlos A.

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